Laços de Dezembro

lazoroani[1]POR MARLI GONÇALVES
Tendo a sempre achar que laços encerram, fecham, guardam. Ao unir, laços juntam as partes – muitas, todas as que puder abraçar – até que por dedos ou mentes hábeis sejam desfeitos; alguns laços são bem intrincados, complexos. Mas mesmo assim diferente do nó, que é onde estamos, e precisamos desatar logo para podermos enlaçar.
Já começou. Para onde olho vejo laços, mas agora vejo mais daqueles bonitos, frufru, que parecem borboletas, e que ficam tentando sempre nos impregnar com o clima de Natal que prevejo como um dos piores de muitos tempos, com poucos pacotes e caixas recheadas.
Simbólicos demais, os laços; os mais simples vêm mudando de cor nos últimos meses para nos lembrar de questões de saúde, os rosas, de outubro, alertando às mulheres sobre o câncer de mama, os azuis de novembro para lembrar aos homens a saúde da próstata. O vermelho que vigora neste mês lembra a todos que ainda há muito o que lutar contra a AIDS.
Fitinhas, meras fitinhas que falam. Falam muito e chamam a atenção. Danadinhas.
Vamos agora dar mais uma volta na fita para ver o laço se fazendo como uma dança se desenhando no ar. Quero falar de laços porque acho que estamos tão completamente embaraçados, embolados e sem direção que precisamos dar um jeito de esticar mais rápido a fita para andar para a frente nesse mês que se avizinha com possibilidades de ainda mais surpresas. Não que estas estejam vindo com laços, ao contrário, algemas vêm sendo mais usadas nesse show diário que virou a (des) governança da Nação. Para eles, a casa caiu e é muito impressionante como uma coisa vem ligada à outra; seja de qual sentido venham, perceba como o final parece sempre dar no partido do Governo, o PT. Estão sendo caçados a laço, mas como daqueles que os vaqueiros usam, a corda de couro trançada, com as argolas, usadas para apanhar as reses. Em segundo lugar, outro partido, sempre chamado de balaio de gatos, o PMDB; abriram a boca do balaio. Daí também não tem vindo coisa boa, admitam. Isso sem pensar no outro que perdeu o bonde, o PSDB.
Há muito todos pararam de cortar laços com tesouras para inaugurações de feitos, já que estes também praticamente nem existem mais, apenas remendam – agora passam o tempo apenas se explicando ou querendo aumentar impostos para cobrir os buracos que eles próprios fizeram.
Descubro e achei bonito saber que na Grécia era comum atar as imagens dos deuses com laços para que não abandonassem a região e seu povo, e fiquei pensando que, além de ajudar a nos unir o mais rápido possível e de qualquer forma para reagir e mudar, eles também pudessem ser o símbolo de um novo tempo. Eu aqui sempre tentando ver esse mundo mais bonito, quem sabe a ideia possa ser aceita?
Vou amarrar um lacinho no dedo para ajudar a me lembrar todos os dias deste mês a continuar tendo esperança. Nossos laços de família, de sangue, de país devem e precisam retomar algum símbolo, e poderia ser este – que ainda significa a união, a felicidade, a energia, a força, a justiça, a fortuna, o divino.
Lembrando que precisamos nos unir nem que seja para colocar todos eles num saco ou caixa e atar com um laço bem forte antes de jogá-los no lixo comum da história. Eles são descartáveis, mas estão contaminados!
E não esqueça que não podem ser reutilizados, porque dá no que deu.
São Paulo, fim de um ano forte, 2015
MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Uma vez desfeitos, aliás, os laços nunca mais tornarão a ser iguais se as pontas voltarem a tentar encontrar-se. A fita estará amassada e marcada.
********************************************************************
E-MAILS:
MARLI@BRICKMANN.COM.BR
MARLIGO@UOL.COM.BR

1 thought on “Laços de Dezembro

  1. Em recente programa de TV chegou-se à conclusão que a solução para os problemas atuais está na sociedade civil. Imagino que se pressuponha aí os laços. Ocorre que, ao contrário do que grande parte da população pensa, o problema maior do país não é a corrupção, mas sim a ambição pessoal desmedida e o egocentrismo que leva entre outras coisas à corrupção, ao desprezo pela coisa publica.
    A cada dia surgem novos movimentos, ONG’s, grupos de estudos, etc., que não falam entre si por serem, na realidade, novas “ações entre amigos”, com alguns “donos”. A ridícula quantidade de partidos é fruto desse mal. Herméticos, ambiciosos, alheios ao interesse nacional a até mesmo ignorando a gravíssima situação do país e a necessidade de soluções urgentes, desenvolvem seus planos egocêntricos de poder.
    Não há possibilidade de acordos, portanto, não há perspectiva de solução.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter