Além do horizonte

O ministro da Fazenda
estabeleceu como meta fiscal para este ano um superávit primário na casa de R$
66 bilhões para o conjunto do setor público (União, estados, municípios e
empresas estatais). Ao fim do primeiro trimestre, porém, período em que
tipicamente se acumula pouco mais de um terço do resultado anual, o saldo
primário atingiu apenas R$ 19 bilhões, inferior ao necessário para chegar à
meta e também o pior desempenho nos primeiros meses do ano desde 1998.
É verdade que parte das
medidas propostas para a melhora das contas públicas ainda não havia entrado em
vigor naquele momento, como também parece ter havido esforço no sentido de
“limpar” a contabilidade, reconhecendo despesas que, de fato, haviam ocorrido
no ano passado. Ainda assim, à vista do observado até agora, há riscos ponderáveis
de descumprimento da meta.
Em condições como as
que vigoravam há alguns anos a geração de saldos na casa de R$ 16 bilhões por
trimestre não seria um grande desafio. No entanto, as condições mudaram, e para
pior. Medidas a preços de hoje, as despesas correntes do governo federal – para
as quais há informação atualizada – saltaram de R$ 822 bilhões em 2010 para R$
1,012 trilhão no ano passado, aumento de R$ 190 bilhões.
Ao analisarmos as
contas do governo federal no primeiro trimestre, entretanto, observamos que não
houve qualquer redução das despesas correntes; pelo contrário, estas cresceram
R$ 5,4 bilhões. A modesta queda do dispêndio total se deu pelo corte do
investimento, reduzido em R$ 7 bilhões.
Isto não é novidade.
Qualquer analista das contas públicas brasileiras sabe que, em face da enorme
rigidez orçamentária, o aumento da despesa corrente é virtualmente impossível
de ser revertido em prazos curtos. Assim, a irresponsabilidade fiscal dos
últimos quatro anos impõe um custo enorme hoje: sem poder reduzir a despesa
corrente, hipoteca-se o futuro.
Isto deve ser lançado
na conta do ex-ministro da Fazenda e seu secretário do Tesouro, sem dúvida, mas
trata-se principalmente de débito da presidente, que não apenas assistiu de
camarote a piora expressiva das contas públicas, como foi também mentora “intelectual” deste
processo
.
As dificuldades do presente são reflexo do passado.
A lição, contudo, não
foi aprendida. Não faltam representantes da mesma
escola que nos colocou nesta situação, mais do que delicada, para pontificar
sobre os custos do ajuste fiscal
, que, convenhamos, está longe de ser o
mais audacioso da história do país. Na cabeça destes economistas a imensa
expansão fiscal dos últimos anos, que transformou superávits primários de mais
de 3% do PIB em déficit de 0,6% do PIB parece jamais ter acontecido. Nem o
salto da dívida pública, de 52% para 62% do PIB, é motivo de qualquer
preocupação.

Para atacar estes temas
é preciso ir além da gestão de caixa. Temos que retomar propostas de ajuste de
longo prazo que permitam reduzir de forma permanente o gasto, ao invés de
preparar o terreno para nova rodada de aumentos de impostos. O desafio é claro;
o que não é clara é a disposição do governo para enfrentá-lo.
E
o ajuste fiscal nos levará de volta ao canibalismo…
(Publicado 06/Mai/2015)

42 thoughts on “Além do horizonte

  1. Quando a conta não fecha, reduzimos a mão-de-obra (empregada), os custos (restaurante e roupa) e se necessário vendemos o carro.

    Considerando que, segundo o Ministério do Planejamento, o PT adicionou 4,5 mil cargos comissionados a maquina burocrática entre 2002 (18.374 mil) e 2014 (22.926), e que os salários variam entre R$ 10,6 e $R 21,3 mil (segundo o site do JusBrasil), poderíamos facilmente economizar R$ 1,8 bi (conta de padeiro) se a PresidANTA demitisse essa “gordura” que provavelmente não contribuem muito para o progresso do Brasil. Os custos, leia-se investimentos na nossa infraestrutura e serviços já estão sendo cortados (o BNDES esta quebrado, e diga-se de passagem que a PresiDANTA nunca gostou muito de parcerias). Então falta vender ativos. Infelizmente falta coragem para debater este assunto e reduzir a presença do Estado brasileiro, mesmo depois da derrocada da Petrobras. Dilma dificilmente demitirá os companheiros…

    O que fazer realisticamente meu Caro Alex? Como estará nossa economia no final deste ano? E o dólar, a quanto estará? Meu chute, R$ 3,40 (nesse rumo) a 3,90 (se houver processo de “impeachement”). Pergunto por que você tem a mania de acertar, seu “track record” é impressionante!

  2. Agora que o jornal Valor debutou poderia corrigir alguns erros da infância como trazer Alex de volta e expelir picaretas como Belluzzo,Sayad…O Delfim é oportunista mas que talento.

  3. Guilherme … estamos atrasados uns 50 anos. Esse problemas todos que estamos "enfrentando" hoje,m eles lá nos EUA já vem combatendo faz 50 anos…

    Todas as análises e conclusões, ou grande parte delas, partem do presuposto que deva existir uma proporcionalidade mágica, igualitária, de sentido cósmico da sabedoria universal contra a diversidade intelectual, de que a taxa de crescimento dos dados históricos, , tem que ser iguais no período.

    Assim, um pequeno exemplo, se a população é composta de 50-50% homens e mulheres, assim deve o ser também na engenharia; se há X-Y-Z brancos, pardos e negros na sociedade, assim deve o ser na engenharia; se o n;umero de ingressos nas universadides saltou de X para Y% da população, na mesma proporção também deve o ser na engenharia, etc.

    De acordo com os sábios do MEC, como a sociedade é "injusta", devemos utilizar a academia como plataforma de promoção à justiça social. A vontade própria do indíduvuo, suas aspirações, vocações e limitações ficam em segundo plano.

    É qo que o Thomas Sowell chama no seu livro de JUSTIÇA CÓSMICA. Vale apena a leitura.

  4. E temos que ler o a seguir na Wikipédia: "João Manuel Cardoso de Mello é um dos maiores intelectuais brasileiros vivos[parcial], professor e economista. Um dos fundadores da FACAMP1 e Unicamp, se graduou em Direito e mais tarde se formou em Ciências Sociais na USP." Outros que se denominavam “desenvolvimentistas” abandonaram o barco e agora se dizem fundadores do “novo desenvolvimentismo” diferente do “social desenvolvimentismo” (?). Essa turma vai escrever (e encontrar espaço e seguidores) que a crise foi provocada pelo Levy e pelos neoliberais. São experts nas críticas e zero nas soluções. Já vivi tempos onde eram a maioria e os únicos acreditados. Hoje muitos (não sei se a maioria) já são racionais e os criticam abertamente (antes não era possível). Já li um texto de um dirigente da associação keynesiana onde demonstrava não saber que Keynes era um economista clássico antes do “Teoria Geral”. Misturou escritos do período clássico com os do Teoria (uma miscelânea ininteligível). No fim demonstrou não saber que Keynes era a favor do câmbio flutuante e contra a inflação (seu modelo de desenvolvimento é que, na prática, principalmente nos países que não emitem moeda conversível, levou à estagflação).

  5. Para saber como é desenvolvimento do JM de fato:

    Professores pedem investigação do MPT sobre denúncias contra Facamp:

    http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2012/06/prefessores-solicitam-ao-mpt-para-apurar-denuncias-contra-facamp.html

    Ou essa:

    o. Denúncia
    feita ao Conselho Universitário da
    Unicamp (Consu) pelo professor
    Mário Presser aponta que o Instituto
    de Economia (IE-Unicamp)
    beneficia em suas contratações
    professores ligados à Facamp:

    http://www.adusp.org.br/files/revistas/40/r40a02.pdf

  6. Joaquim Levy parece estar em um governo paralelo, ou talvez seja como se o Ministério da Fazenda fosse hoje uma autarquia na prática, mesmo não tendo essa atribuição no papel.

    É óbvio que a presidente e todos os economistas que a acompanharam durante toda a vida, pelo menos até o ano passado, discordam frontalmente da atual política econômica. Se isso não for verdade eles nunca tiveram convicção de nada. Afinal, por que ela concordaria? Está adotando essa política fical restritiva contra a vontade dela e de seus economistas. A campanha eleitoral recente é prova disso.

    Abraço do Gabril Xavier.

  7. Olha, na verdssde, eu tenho pena de ambos: O levy, um engenheiro com boas intenções mas que está servindo a um projeto comunista à brasileira, e o outro, o Pessoa, na mesma linha com a única diferença de que ainda irá servir.

    Estão precisando de mais Von Mises, Hayerk, e Frédéric Bastiat e menos de Rousseau, Paul Krugman, e Conceição Tavares.

    O melhor dissso tudo é ouvir, da boca do próprio Hayek sobre a igonorância econômica do Keynes com o qual conviveu muito: https://www.youtube.com/watch?v=y8l47ilD0II

  8. Alex,

    Responde a Paulaner (cerveja amarga) pelo amor de Deus!!!

    Ela conseguiu te responder e redobrar o fato de que ela não olha para dado! Falou de equilíbrio, citou Kahn e Piketty, mas não respondeu o porquê da política que ela propõe não ter dado certo nos últimos 4 anos…

    abs X

  9. "Olha, na verdssde, eu tenho pena de ambos: O levy, um engenheiro com boas intenções mas que está servindo a um projeto comunista à brasileira, e o outro, o Pessoa, na mesma linha com a única diferença de que ainda irá servir. "

    renato: você acha que burrice é renovável? Está gastando como se não houvesse amanhã…

  10. "Ela conseguiu te responder e redobrar o fato de que ela não olha para dado! Falou de equilíbrio, citou Kahn e Piketty, mas não respondeu o porquê da política que ela propõe não ter dado certo nos últimos 4 anos…"

    Não me escapou… 🙂

  11. "As várias faces do desenvolvimentismo" VALOR, J. L. Oreiro. Defende que o fracasso do governo DR não é da turma do desenvolvimentismo. Nega o que pregava antes dos primeiros sinais do fracasso. Merece uma crítica (ou não se chuta cachorro morto?)? Nega a utilização de poupança externa para o desenvolvimento (deve ser utilizada apena a poupança interna (pública + privada).

  12. Renato, obrigado pelos seus comentários. Eles me motivam a estudar cada vez mais, pois quero ficar distante da possibilidade de escrever o que você escreve.

  13. Achava Samuel Pessoa um dos melhores economistas agora vem defendendo um aumento de 2,5% na carga tributária. Virou contador? Esqueceu que a ordem dos fatores altera o produto : teremos apenas tributos, primeiro,como sempre,e o mesmo pacto social(as mesmas bocas) depois.Ele conhece a literatura caramba: ajuste só funciona com cortes.

  14. Anônimo disse… " Renato, obrigado pelos seus comentários. Eles me motivam a estudar cada vez mais, pois quero ficar distante da possibilidade de escrever o que você escreve

    >>> Agora você entende porque nada muda no Brasil e ficamos mais distantes daquele brasil do futuro ? 😉

  15. A formação desse mandarinato campineiro que vai salvar a economia brasileira da estagnação dos últimos 35 anos deve ser através de tertúlias hegelianas,furtadianas…

  16. O sr tem inveja do irmão levy porque ele tem formação acadêmica superior a sua, porque ele é mais inteligente e bem sucedido ou porque ele é levita?

  17. "O sr tem inveja do irmão levy porque ele tem formação acadêmica superior a sua, porque ele é mais inteligente e bem sucedido ou porque ele é levita?"

    Não: é porque ele é mais parecido com um saci do que eu…

  18. "Agora você entende porque nada muda no Brasil e ficamos mais distantes daquele brasil do futuro ? 😉 "

    Se você está se oferecendo como exemplo, sim, todos nós entendemos.

  19. O senhor não pode ser considerado um economista pois o senhor desconhece a função social que um economista deve ter em uma sociedade.

  20. "O senhor não pode ser considerado um economista pois o senhor desconhece a função social que um economista deve ter em uma sociedade."

    Já você não pode ser considerado um mamífero, pois lhe faltam os neurônios para tanto.

  21. : Aliás … pode ser contra-intuitive para um engeheiro e/ou fisico mas todo economista sabe que menos imposto concorre para MAIOR arrecadação."

    Ih, olha o renato defendendo o aumento da arrecadação…

  22. Queria uma ajuda de qualquer um por aqui.

    Sou graduando em economia e pretendo trabalhar no mercado financeiro, pra quem deseja trabalhar nessa area um mestrado vale a pena?

  23. Durante épocas de crise é sempre bom ficar mais tempo estudando, melhor se preparando, e um mestrado pode sim ajudar a abrir futuras portas. Digo aos jovens que conheço que os estudos abrem portas, mas para crescer precisa trabalhar de forma inteligente e produtiva. Boa sorte.

    E sobre DR, sua esperança (e com sua história) deve ser do Levy fazer o "dirty work" (necessário)para arrumar a casa para que o Brail possa atrair novos investimentos para então voltar a gastar a vontade para eleger outro petista…

  24. "Sou graduando em economia e pretendo trabalhar no mercado financeiro, pra quem deseja trabalhar nessa area um mestrado vale a pena?"

    Para arranjar trabalho? Sim. Para ganhar dinheiro? Não.

  25. Boa Alex,

    estava interessado em pesquisar mais sobre a situacao das contas publicas do Brasil.
    Nos dados oferecidos pelo site do Ipea lembro-me que a relacao divida liquida/Pib era de por volta de 35% do Pib ate o fim de 2014.

    Onde vc coletou os dados que vc apresentou? "Nem o salto da dívida pública, de 52% para 62% do PIB…"

    Esses dados sao da divida bruta? O que usualmente eh incluso na divida bruta mas nao na liquida?

    Abs

  26. "Esses dados sao da divida bruta? O que usualmente eh incluso na divida bruta mas nao na liquida?"

    Sim, você pode encontrá-los no site do BCB. Aliás, a série histórica lá mostra as diferenças entre dívida líquida e bruta.

    As principais são as reservas internacionais (abatidas da dívida bruta) e os ativos do Tesouro contra os bancos públicos (principalmente BNDES), mas, se quiser todos os detalhes, o melhor é pegar no site do BC mesmo, na série histórica da dívida (definição nova).

  27. "Não: é porque ele é mais parecido com um saci do que eu…"

    Desculpas, não entendi, o levy é perneta? Ou o ajuste fiscal dele que é perneta?

  28. A derrota decana do Brasil no trilho do desenvolvimento econômico e social é fruto do fracasso das políticas econômicas adotadas nos últimos seis anos.
    Milhões de desempregados é o custo desta estupidez experimental "desenvolvimentista".
    Pede pra sair!

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