A Diferença que faz a Diferença. Coluna Mário Marinho

A Diferença que faz a Diferença

COLUNA MÁRIO MARINHO

Ao candidato a um cargo de comando são exigidas diversas qualidades. A primeira delas, claro, é o conhecimento técnico da função que irá exercer.

Outras que, a princípio, podem parecer secundárias, são também muito importantes: liderança (não confundir com chefia), empatia com os subordinados; comunicação eficiente com subordinados, chefes, público; carisma e, claro, sorte – se possível.

Outra qualidade absolutamente imprescindível é a vontade de trabalhar.

O conhecimento técnico pode ser adquirido e, ou ampliado. Outras qualidades são inatas.

Tite parece ser a síntese de todas essas qualidades.

A elas ele agrega outra que não é muito comum entre muitos profissionais, não apenas aos técnicos de futebol: a incessante procura pela atualização.

São inúmeros os casos de jornalistas, médicos, advogados, engenheiros e outros que não dão a mínima para a tal atualização.

Alguns consideram que pelo simples fato de terem alcançado um diploma ou, no nosso caso específico, tenham sido jogador de futebol, é o bastante para se tornarem um grande técnico.

Se assim fosse, Pelé seria o maior de todos os técnicos. Seria infalível, como foi dentro de campo.

Aliás, nem sempre o grande técnico foi um grande jogador.

Assim, numa visada rápida, lembro-me de que Vicente Feola, que levou o Brasil ao primeiro título mundial, em 1958, foi um obscuro jogador de futebol (defendeu o São Paulo ), um péssimo jogador, segundo ele mesmo.

Em 1962, o Brasil foi comandado por Aymoré Moreira, no Chile, na conquista do bicampeonato Mundial.

O baixinho Aymoré (1,72 metro de altura) foi goleiro competente e até chegou a defender a Seleção Brasileira por 4 vezes. Só.

Zagalo, que comandou a Seleção no tri Mundial do México, 1970, foi um excelente jogador. Um ponta esquerda batalhador, criativo. Não era um jogador que disparava pela ponta, mas, sim, que voltava, ajudava o meio do campo. Foi também um excelente técnico. Na Copa de 1974, na Alemanha, mostrou estar totalmente desatualizado. Prova disso, foi que desdenhou da revolucionária Seleção da Holanda, ao classificá-la de “um grupo de alegres rapazes”. Em 1998, perdeu a Copa para a excelente Seleção da França, dona da casa.

Técnico da Seleção na Copa da Argentina, em 1978, Cláudio Coutinho foi um teórico: jamais jogou futebol. Extremamente inteligente, pagou caro com a pouca experiência na Argentina, mas brilhou no Flamengo no começo dos anos 80.

Telê Santana criou e comandou a excelente seleção de 1982 – só faltou ganhar o título. Dentro de campo, foi um ótimo ponta direita e no Fluminense recebeu o apelido de Fio de Esperança. Fio, porque era muito magro, e Esperança porque sempre que a bola caía a seus pés, nascia ali uma grande jogada. Sério, respeitoso, líder, amigo, criativo e amante do futebol arte foi, em pinha opinião, o melhor técnico do Brasil.

Em 1990, a Seleção foi dirigida por Sebastião Lazzaroni. É melhor passar ao largo.

Outro teórico, Carlos Alberto Parreira, dirigiu o Brasil na conquista do tetra, nos Estados Unidos, em 1994. Parreira foi um grande conhecedor do futebol de sua história, de suas lições. Foi campeão do Mundo em 1994, mas, infelizmente, ao voltar à Seleção em 2006, na Alemanha, faltou pulso, faltou comando.

Na Copa disputada no Japão e na Coreia, em 2002, o título se deveu, em muito, à competência do bravo (em todos os sentidos) Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Montou um bom time e o transformou em uma unida família. Como jogador, não passou de um beque botineiro e botinudo. Voltou ao comando da Seleção na Copa de 2014, no Brasil e… bom, é melhor esquecer… ah!, os 7 a 1…

Jogador raçudo, Dunga comandou a Seleção Brasileira em 2006 e 2010. Apesar de títulos conquistados (Copa das Confederações, Copa América) nunca convenceu como grande técnico. Foi até um bom jogador, de muita raça, de muita dedicação. Longe ser um craque. Como técnico, o desempenho ficou abaixo do jogador.

Chegamos a Tite.

Leio hoje (03-04-2017), no Estadão, que a atual Comissão Técnica da Seleção Brasileira, Tite à frente, se reúne diariamente no Rio de Janeiro, na CBF, para fazer análises e se atualizar sobre o desempenho dos jogadores convocáveis.

Quando necessário, viajam para acompanhar de perto os treinamentos, como testemunha o goleiro Alisson:

– O Taffarel esteve em Roma e acompanhou os meus treinamentos de perto. Detectou que eu precisava de treinos específicos para jogar com os pés. Foi ótima essa observação dele.

Os times também recebem informações sobre desempenho e treinamento de seus jogadores quando estão a serviço da Seleção. Há, portanto, sinergia entre seleção e clubes.

Assim, o jogador botinudo que foi Tite, completa o seu perfil de ótimo técnico de futebol com essa inovação na CBF. Aqui fala alto o bom administrador, o comandante fora de campo, o técnico com vontade de trabalhar.

Como se dizia em França: Le Roi est mort; vive Le Roi!

Longa vida a Tite.

Os gols
do Fantástico

Divirta-se.

https://youtu.be/sL4d8jyc2-A

Por que
Não te calas?

Frase do senador Renan Calheiros a respeito do governo Temer: “quem não ouve erra sozinho”. Talvez, fosse o caso de Temer responder: “Melhor só do que mal acompanhado”.

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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