Na janelinha. Por Alexandre Schwartsman

Na janelinha

Por Alexandre Schwartsman

… não dá para garantir que o crescimento do PIB já se mostre positivo no segundo trimestre, mas a evidência aponta para uma economia que finalmente saiu do fundo do poço…

 Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo, coluna do autor, edição de 23 de agosto de 2017
Na semana passada foram divulgados vários indicadores de atividade econômica, culminando com o índice do Banco Central (IBC-Br), que busca antecipar o comportamento do PIB e que, pela primeira vez desde o final de 2013, mostrou dois trimestres consecutivos de crescimento, 1,2% e 0,3%, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior, ajustados à sazonalidade.
Trata-se de desempenho positivo, nem tanto pelo IBC-Br em si, que nem sempre consegue capturar os movimentos do PIB, mas pelo conjunto da obra. No período observamos expansão da produção industrial (+0,9%), do varejo (+1,7%) e do volume de serviços (+0,3%), números que sugerem recuperação difundida da atividade, não mais limitada à agropecuária, como havia ocorrido no primeiro trimestre.
Mais próximo do dia-a-dia das pessoas, há ainda sinais de melhora no mercado de trabalho. Dados do IBGE indicam que, também corrigida a sazonalidade, o emprego total aumentou no segundo trimestre, muito embora o crescimento tenha se dado principalmente entre os trabalhadores informais. Assim, detectamos pequena queda do desemprego (dessazonalizado), de 12,9% para 12,7%, a primeira desde o último trimestre de 2013.
Para ser sincero, não dá para garantir que o crescimento do PIB já se mostre positivo no segundo trimestre, mas a evidência aponta para uma economia que finalmente saiu do fundo do poço. Ao contrário do ocorrido no primeiro trimestre, quando o crescimento veio do setor externo e da acumulação de estoques, componentes que tipicamente não sustentam a economia por muito tempo, o consumo deve ter sido o principal motor da expansão, sugerindo continuidade da retomada.
Em particular, como tenho insistido já há algum tempo, a redução persistente da taxa real de juros (de 7% há um ano para menos de 4% agora), resultado da queda da inflação, é a causa mais provável da recuperação. Notando ainda que seus efeitos costumam aparecer com defasagem ao redor de seis meses, é bastante razoável concluir que ainda há impulso a se materializar na segunda metade do ano, ou seja, devemos testemunhar um desempenho um pouco melhor à frente, longe de espetacular, mas sólido o bastante para nos levar a terreno positivo ainda em 2017 e mais vigoroso em 2018.
Não se segue, contudo, que nossos problemas estejam superados. Muito embora haja condições para uma retomada moderada nos próximos 18 a 24 meses, o comportamento das contas públicas permanece como fonte constante de ansiedade e mais ainda após a revisão das metas fiscais para o período 2017-20.
Mesmo com taxas reais de juros mais baixas, a se confirmarem os números ali previstos, o governo a ser eleito em 2018 herdará uma dívida superior a 80% do PIB e a necessidade de transformar o déficit primário de 2,3% do PIB (R$ 159 bilhões) em superávit de 1% a 1,5% do PIB (de R$ 70 a R$ 100 bilhões).
A eleição do ano que vem pode ser, portanto, a mais importante pós-redemocratização do país: decidiremos se vale a pena seguir o difícil caminho do ajuste, ou se optaremos pela manutenção do status quo, que nos trouxe à pior crise da nossa história.
A depender de nossos políticos, que continuam lutando pelos lugares na janelinha enquanto o ônibus marcha para o abismo, temo que o status quo largue com ampla vantagem.

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Alexandre-BSB * ALEXANDRE SCHWARTSMANDOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS

@alexschwartsman
aschwartsman@gmail.com

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