A noite dos desclassificados. Coluna Mário Marinho

A noite dos desclassificados

COLUNA MÁRIO MARINHO

Imaginava-se festa na Vila Belmiro. E foi com festa, com muita festa, que os jogadores do Santos foram recepcionados ao chegarem à Vila e ao entrarem no gramado.

Mas a festa parou por aí.

Imaginava-se uma possível festa corintiana em Avellaneda. Difícil, porém, possível.

E todos imaginaram errado.

Depois de empatar com o guerreiro Barcelona em Guayaquil, 1 a 1, a classificação santista na Libertadores pareceu ficar perto demais.

Bastava manter o 0 a 0.

Assim, desfalcado dos excelentes Renato e Lucas Lima, o técnico Levir Culpi optou por escalar um time mais defensivo.

Não foi feliz. Mas futebol é assim mesmo: se o técnico tivesse colocado um time mais atacante, mais arrojado e tivesse perdido pelo mesmo 1 a 0, a culpa seria dele também. Por que não colocou um time mais defensivo? perguntariam.

O que faltou, realmente, foi futebol.

O time santista não jogou nada e ainda levou pouca sorte no lance em que David Braz mandou a bola no travessão, numa cabeçada espetacular.

Tão ruim quanto a derrota, foi o lance nojento proporcionado pelo atacante Bruno Henrique com escrota cusparada na cara de um jogador equatoriano. Isso não se faz. Não se faz em nenhuma circunstância.

Bruno Henrique é um bom atacante, criativo, goleador. Mas, na noite dessa quarta-feira não fez nada e quando apareceu foi nesse lance de sujeira.

Foi a primeira derrota do Santos na Libertadores. E também a última. Agora, só no na que vem.

Cantoria
em Avellaneda

Desde a virada do primeiro para o segundo turno do Brasileirão, o Corinthians vem dando mostras de esgotamento.

Não se sabe se o esgotamento se refere apenas ao físico ou também (e principalmente) à sua munição de futebol.

De repente, o surpreendente timão de 20 jogos invictos no Brasileirão, de toques de bola, de melhor defesa, de competente ataque parece ter se transformado num arroz com feijão que todo mundo conhece e sabe como marcar.

Quebrou-se o encanto.

E na noite de ontem não foi diferente. Para alegria da louca torcida do Racing que não parou de cantar um minuto sequer.

O mágico e envolvente toque de bola deu lugar sonolenta letargia, a um transe mediúnico que jamais se viu no Corinthians. Ou, pelo menos, há muito tempo não se vê.

O empate sem gol era, como foi, bom para o Racing. Mas, quem disso não soubesse, imaginaria que estivesse de bom tamanho para o Timão.

Faltou ousadia, faltou determinação, faltou criatividade – faltou tudo.

Como tudo que está ruim pode piorar, o bom Rodriguinho entrou em campo para substituir o entorpecido Jadson.

Apenas um minuto e meio depois, Rodriguinho recebeu o cartão vermelho por entrada quase criminosa no jogador do Racing.

Entrada grotesca, animalesca, punida merecidamente com a expulsão.

E o Rodriguinho ainda foi atrás do juiz dizendo que foi a primeira falta que fez. Apenas a primeira. E precisava de mais?

Jô, que havia recebido cartão amarelo, fez por merecer outro cartão e levou o vermelho: rua.

O mais incrível foi o discurso do afobado Fagner contra o juiz, acusando-o de proteger o time argentino. E apelando para um patriotismo bobo:

– Time brasileiro sai do Brasil e é isso que acontece. Um absurdo.

Um absurdo é o Fagner considerar que somos todos idiotas, que não sabemos assistir a um jogo de futebol.

Lamentável.

O último
do brasileiros

Entre os 32 times da fase de grupos da Libertadores estavam oito brasileiros.

Agora, resta um: o Grêmio.

Embora tenha passado sufoco no jogo de ontem, o Grêmio impôs seu melhor futebol sobre o Botafogo e venceu por 1 a 0.

Seu próximo adversário será o Barcelona esse mesmo que eliminou Palmeiras e Santos.

Renato Gaúcho, que não é bobo nem nada, vai estudar com muito cuidado os jogos do valente time de Guayaquil e com certeza encontrará o caminho certo para chegar à finais.

Tomara.

Veja os gols da quarta-feira:

https://youtu.be/d2QU2NIkx-I

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

2 thoughts on “A noite dos desclassificados. Coluna Mário Marinho

  1. Assinaria embaixo de tudo o que você escreveu. Para mim, não é muito comum assistir a jogo que não seja do São Paulo. Mas ontem me preparei pra ver uma partida eletrizante. Vi o jogo inteiro. Fiquei chocado. Me deu a impressão de que todo mundo estava a fim de pegar o avião e vir embora.

    Bração
    Portela

  2. Que bom ler mais uma vez você, Marinho!
    Tenho estado longe destes gramados da internet, mas, quando retorno, sempre gosto de apreciar suas crônicas.
    Até porque me falam do que se passa no futebol daí, que acompanho ainda menos do que o do Recife, sobretudo em época de baixa do meu sempre glorioso Clube Náutico Capibaribe, hoje forte candidato à Terceira Divisão – e com mérito…
    Abração.
    Toinho Portela

    P.S.: Quando será o encontro anual do JT?

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