“Se”. Por José Paulo Cavalcanti Filho

“SE”

José Paulo Cavalcanti Filho

… Na linha do “Se” de Kipling, pergunto “se” o governo Temer é mesmo tão ruim quanto se diz. Para que não haja dúvidas, o considero tão lamentável quanto o de Dilma. Ruim por ruim. Muito ruins, os dois. A rigor, é o mesmo governo. Com os mesmos atores. E a mesma matriz de corrupção…

Se és capaz… Assim o hindu-britânico Rudyard Kipling, Nobel de Literatura em 1907, começa o seu mais famoso poema (“Se”): Se és capaz de manter tua calma…, De crer em ti…, De esperar sem te desesperares…, De não mentir ao mentiroso… E finda com És um Homem, meu filho! Conselhos a seu único filho, John, então com 12 anos. Seis anos depois, o pequeno John seria morto. Na Primeira Grande Guerra. A aranha do destino, palavras de Pessoa (num poema sem título de 1932), lhe negou a chance de por em prática recomendações dadas pelo velho pai. Mas essa é outra história.
Na linha do “Se” de Kipling, pergunto “se” o governo Temer é mesmo tão ruim quanto se diz. Para que não haja dúvidas, o considero tão lamentável quanto o de Dilma. Ruim por ruim. Muito ruins, os dois. A rigor, é o mesmo governo. Com os mesmos atores. E a mesma matriz de corrupção. Condenados, réus e indiciados por todos os lados. Quando todos nós, indeterminados cidadãos comuns, queríamos algo diferente. Grandes nomes. Pessoas limpas.
… A rigor, ele está sendo criticado pela única coisa boa de seu governo lamentável. O de aceitar essa impopularidade pantagruélica para tentar aprovar reformas em favor do Brasil.
Por exemplo, um grande médico no Ministério da Saúde. Em vez do “Tesoureiro Geral” do PP – investigado, no inquérito 4.157, por corrupção e peculato. Esse governo, como seu antecessor, se resume a um loteamento vergonhoso na busca do poder. E da grana. Muita grana. Com poucas exceções. Entre elas, a Petrobras – mesmo sendo acusada, por xenófobos, de estar vendendo nossa soberania. E a equipe da Economia, graças ao bom Deus.
Mas há sempre uma candeia/ Em meio a tanta desgraça, escreveu Manuel Alegre (em “Trova do vento que passa”).
Há também, em meio a tanta ruindade, um detalhe que vem escapando à mídia. Em favor de Temer. É que, pensasse apenas em si, e poderia estar em situação bem mais cômoda. Bastaria tirar de pauta esses projetos polêmicos todos. Simples assim. A começar pela reforma da Previdência. Nesse caso, políticos que pensam mais neles (ou nas eleições), que no país, perderiam a chance de falar mal dos projetos. E do presidente. Daria, também, aumento salarial para todas as categorias do serviço público. Seria o Temerzinho paz e amor. A história se repetiria, pois. Com o Brasil ainda mais quebrado. E o próximo presidente ganharia de presente todos esses problemas, coitado. Aumentados. Muito.
…Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas/ Em armadilhas as verdades que disseste…
Teria também, o pobre do Temer, a vantagem de não ficar tão refém de sua “base”, do “é dando que se recebe”, desse estágio vergonhoso que marca nossas elites políticas de agora. Como já não precisaria mais de votos para aprovar projeto nenhum, então poderia negar cargos e verbas. Ou parte. A rigor, ele está sendo criticado pela única coisa boa de seu governo lamentável. O de aceitar essa impopularidade pantagruélica para tentar aprovar reformas em favor do Brasil.
Resumindo, e voltando ao “Se” de Kipling, Temer não poderá recitar alguns versos do poema. Como Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes… Ou E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes. Mas poderá pelo menos dizer, como ele, Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas/ Em armadilhas as verdades que disseste.
Pensando bem, e isso é quase uma ironia, seu governo poderia sofrer bem menos críticas. Já falta pouco, até as próximas eleições. E com certeza iria, sem maiores problemas, até o fim. Problema, só, é que seria muito pior para o Brasil.
________________________

José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife.

jp@jpc.com.br

1 thought on ““Se”. Por José Paulo Cavalcanti Filho

  1. Diante do sofrível atual, temos saudades dos menos sofríveis que o antecederam.

    1. Que saudadezinhas do Lula!
    2. Da Dilma, não!
    3. O FHC também dá saudades, pelo Plano Real e a Lei da Responsabilidade Fiscal.
    4. Saudades do Itamar Franco, que substituiu o impinchado “caçador de marajás”, deixou alguns competentes trabalhar e, consequentemente, criando condições que viabilizaram mudanças benéficas.
    5. Do Collor, nem é bom lembrar.
    6. Do Sarney, também saudadezinhas… afinal, temos que dar um desconto pela redemocratização a partir do governo dele!
    7. Sete é número de mentiroso. Deixemos esse quinteto descansado na última morada, onde os que lá estão por nós estão esperando.

    Faltam Estadistas com “E” maiúsculo?

    Esse período de de governos cada vez mais titubeantes, de regular a sofríveis não está ocorrendo apenas no Brasil.

    Estaríamos diante de um fenômeno global, que teria relação e/ou explicaria crises e consequentes retrocessos econômicos, políticos, sociais e morais?

    A corrupção generalizada levou a substituir Padrões de Excelência por padrões cada vez mais condizentes com a mediocridade à serviço de interesses ilícitos?

    Eleições cada vez mais decididas pelos votos “no menos pior”, “no menos ladrão” e até “no menos burro”?

    E agora, nós, os eleitores, o que faremos para sairmos dessa sinuca de bico ?

    AHT
    23/11/2017

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter