O Cavaleiro Inexistente e o Visconde Partido ao Meio

As últimas decisões do governo americano indicam que a estatização de parte do sistema financeiro é inevitável. Mesmo acreditando que a solução do problema passe pela estatização de instituições financeiras, ainda não me parece que isto, isoladamente, tenha condições de recolocar o sistema em funcionamento. E, sem crédito, qualquer política de recuperação do crescimento enfrentará dificuldades talvez instransponíveis, como sugerido pela longa agonia da economia japonesa.

Na prática, o problema do sistema financeiro pode ser resumido de forma simples: o valor de seus ativos não é suficiente para honrar todas suas obrigações (depósitos de clientes, dívidas, e outros). Sob tais circunstâncias, seria de se esperar que o valor de suas ações fosse a zero.

No entanto, isto ainda não ocorreu, talvez pelo mesmo motivo alegado por Agilulfo Emo Bertrandino dei Guildiverni e degli Altri di Corbentraz e Sura, cavaliere di Selimpia Citeriore e Fez, para explicar como, sem existir, cumpria seu papel no campo de batalha. Se o Cavaleiro Inexistente o conseguia “pela força de vontade e fé em nossa santa causa”, as ações desses bancos parecem manter algum valor amparadas na fé e na vontade que um plano de resgate, de alguma forma, ainda reserve algo aos acionistas.

Esta possibilidade, porém, parece a cada dia mais remota. Todavia, se o acionista deve terminar sem nada, o credor dessas instituições ainda tem motivos para achar que pode sair bem da história, o que nos traz de volta à estatização dos bancos e suas implicações para a retomada do crédito.

Quando o governo injeta capital para cobrir as perdas dos bancos ele aumenta seus ativos pelo valor de sua intervenção. Caso o montante cubra exatamente a diferença entre os ativos originais e as obrigações dos bancos o valor destas últimas é preservado, mas o capital continua sendo zero. Em outras palavras, embora o contribuinte salve tanto o credor quanto o depositante, os bancos seguem sem capital.

Nesta situação, entretanto, a capacidade dos bancos de retomar o crédito é tão inexistente quanto Agilulfo. Para que possam voltar à sua atividade de intermediação financeira, é necessário que a injeção de capital cubra não apenas a diferença entre ativos e obrigações, mas que também reponha o capital. Vale dizer, o contribuinte teria que pagar duas vezes: uma para salvar o credor/depositante; outra para fazer o crédito voltar. Por enquanto, o governo americano parece estar fazendo a primeira parte e, em algum momento, terá que fazer a segunda.

Ou não. Uma alternativa que poderia limitar o custo para o contribuinte consiste na divisão das instituições em duas, na linha adotada pelo Proer brasileiro. Ativos de má qualidade seriam transferidos para o chamado “banco ruim”, assim como parcela da dívida dos bancos. Estes credores teriam direito a receber aquilo que fosse eventualmente recuperado.

No “banco bom” ficariam os ativos rentáveis além daqueles que são contrapartida da injeção de capital, suficientes para pagar as obrigações restantes e com folga para que o banco voltasse a emprestar. Este arranjo daria maior poder de fogo aos recursos do governo em termos de reiniciar a concessão de crédito, à custa, é claro, dos credores, pois deve ficar claro que a estatização não pode criar valor, apenas redistribuí-lo entre credores e contribuintes. A solução para o problema do Cavaleiro Inexistente passa, pois, por partir o Visconde ao meio, mas será que há um Ítalo Calvino na equipe de Obama?

(Publicado 4/Mar/2009)

82 thoughts on “O Cavaleiro Inexistente e o Visconde Partido ao Meio

  1. Para quem acha que não deve haver regulação porque os bancos sempre darão um jeito de driblá-la, sugiro que passem a usar o Windows sem anti-vírus algum, pois os hackers igualmente sempre acham uma brecha.
    Eu vejo que seria importante limitar a alavancagem dos bancos. Sem sequer levar em consideração um regra “Too Big Too Fail” (que agrava o problema de Moral Hazard), a responsabilidade limitada dos bancos, por si só, podem fazer com que eles se arrisquem mais quando a alavancagem é mais alta. Se evitar a expansão monetária é tirar a cerveja do refrigerador, uma regulação bem feita é esconder a chave do carro.
    Eu desconfio que, com limitação à alavancagem, esse dinheiro que foi usado para fazer pirâmide acabaria indo para a demanda, fazendo com que nem os “negócios da China” segurassem a inflação, o que forçaria o FED a elevar os juros e acabar com a farra.

  2. TIo

    Maravilha de artigo. Voce poderia ter citado Dna. Luzia De La Horta, como anfitria a espera de seus convivas, bond holders ou tax payers.

    Por que vai sobrar pros tax payers? Porque se sobrar pros bond holders havera’ quebra mundial imediata. O banco ruim tem de ser estatizado, com o fim da marcacao a mercado. Insisto no Plano K.

    GALEGO

    Esconder a chave foi muito boa!

    Abracao

    Kleber S.

  3. O problema é que a confirmação de que o acionista não será salvo pode ter o efeito colateral de socarem os outros bancos, mesmo aqueles que não estão hoje no inicio da fila. Não só as ações iriam sofrer, mas provavelmente alguns créditos. O fato do capital ser pulverizado também torna o custo político maior.

    Naturalmente, por outro lado, e essa seria exatamente a demonstração de restauração da confiança, boa parte das obrigações se recuperariam.

    O futuro do pretérito não foi escolhido por acaso. Hipóteses.

  4. Alex estatizar é uma palavra muito forte e vai contra os valores americanos sobre o livre mercado.

    É melhor ficar do jeito que está,quando o sinto aperta o tesouro vai e ajuda os bancos.

  5. ARLEQUIM

    Esquece essa de acionista, mermao! Os tres maiores (C, BAC e JPM) tiveram suas acoes a 50 e poucos dolares em 2007 e agora estao a 1.20, 3.70 e 19 dolares. Isso significa que os unicos acionistas que ainda nao visitaram Dona Luzia De La Horta sao os do JPM. Quem sabe porque o banco e’ solido. Os outros dois ja’ miaram. Por isso insisto que a coisa ficou bastante simplificada agora: o jogo e’ bond holder x tax payer. O acionista ta’ naquela do cara que ja’ tomou 6 tiros (de canhao) na cara. Que diferenca faz uma bala a mais, uma bala a menos?

    Quem esta’ comprando acoes do C hoje em dia? Jogadores. Gente que aposta numa noticia que cause um daqueles rallies que eu chamo de farsescos. Vem uma noticia, a acao sobre 30 centavos (ou seja 25%) num dia, e neguinho vende o mico no fim do pregao, literalmente, como se fosse um jogo de mico. Ha’ poucos dias atras C saltou ai’ de 1.6/1.7 pra 2.10. Neguinho matou o boi. Hoje ta’ a 1.20. Quem sabe algum boato amanha ira’ traze-la pra 1.90. Pode-se ganhar uma fortuna numa tacada dessas.

    Abracao

    Kleber S.

  6. Kleber,

    Algumas perguntas sobre seu post anterior sobre a ´root cause´ da crise.

    Vc diz que com regulacao/supervisao, a liquidez teria escorrido para outro mercado. Concordo.

    Minha dúvidas:
    1) Para onde escorreria? Acoes, Commodities?

    2) O setor bancario seria afetado ou aconteceria como a crise das dotcom, onde nao houve crise financeira?

    Abs

    FMD

  7. Alexandre,

    concordando 100% fica uma pergunta … Como se comportariam as ações dos outros bancos no day after à estatização do Citi por exemplo ??

    Não corremos o risco de resolver um problema e criar um outro ?

    abraços

    Teco

  8. Depois de muito pensar sobre o assunto dos bancos públicos no Brasil, descobri o óbvio, que Armando Castelar e sua turma são imbecis incuráveis.

    O BNDES tem um efeito (muito) positivo sobre as contas públicas!

    Nas palavras da Ana Cláudia Além (co-autora do melhor livro de finanças brasileiro):

    Os recursos do FAT destinados ao BNDES representam a concessão de créditos e são tratados como inversões financeiras, ou seja, não constituem uma despesa fiscal tradicional, a fundo perdido. Isso significa que todo e qualquer recurso repassado pelo FAT ao Banco constitui um crédito do governo federal e, sendo assim, tem um impacto superavitário sobre as contas públicas. Como grande parte dos recursos do FAT não é aplicada pelo BNDES em empréstimos ou financiamentos a outros governos ou instituições públicas, o crédito do FAT, por seu volume expressivo, tem um impacto direto e positivo em termos de geração de superávit para todo o setor público brasileiro.

    Constatou-se que os recursos do FAT repassados ao BNDES em 2003 tiveram um impacto direto de redução da dívida bruta do Tesouro Nacional e, conseqüentemente, de geração de um superávit no mesmo montante. O impacto positivo do BNDES sobre o resultado primário foi maior ainda, considerando os créditos de outros fundos e o recolhimento dos tributos e dos juros e dividendos ao Tesouro (Tabela 2) [ver Secretaria Federal de Controle Interno (2003)]. Contabilizando apenas os recursos do FAT e os pagamentos do BNDES feitos ao Tesouro Nacional, houve um impacto fiscal
    positivo da ordem de R$ 5 bilhões em 2003.

    Muito mais aqui:

    http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/rev2105.pdf

  9. Ressuscitamos o Jumento de Ouro Awards…

    "Constatou-se que os recursos do FAT repassados ao BNDES em 2003 tiveram um impacto direto de redução da dívida bruta do Tesouro Nacional e, conseqüentemente, de geração de um superávit no mesmo montante"

    O exemplo mais bem acabado de como a análise econômica NÃO deve ser feita. Preciso explicar?

    Explico.

    Alternativa A: uso recursos do BNDES para empréstios e abato este montante da dívida líquida

    Alternativa B: uso estes mesmos recursos para recomprar dívida

    Rendimento da alternativa A: TJLP + spread

    Rendimento da alternativa B: Selic

    A alternativa A só bate a B se:

    TJLP + spread > Selic

    Dizer que o empréstimo do BNDES abate a dívida líquida é uma identidade contábil. Um economista com um mínimo de senso procura estimar o custo de oportunidade.

    Uma afirmação como esta entre aspas levaria bomba no curso de introdução…

    Aqui leva só o Jumento de Ouro e um ticket para a dimensão Z.

  10. “Alex estatizar é uma palavra muito forte”

    OK. Vamos usar “berinjela”, então…

    Aí fica assim:

    “As últimas decisões do governo americano indicam que a berinjelação de parte do sistema financeiro é inevitável.”

    Pronto: não precisa mais ficar ofendido.

  11. “concordando 100% fica uma pergunta … Como se comportariam as ações dos outros bancos no day after à estatização do Citi por exemplo ??

    Não corremos o risco de resolver um problema e criar um outro ?”

    Não dá para fazer um e não os demais. Para usar a expressão consagrada do Kléber, o “enluziamento” é para todos os periclitantes e, talvez, até para os mais sólidos(para estes últimos algum programa de write-offs compensado por aportes de capital ordinário, por exemplo).

    Mas não é o equity que me preocupa. Como vai ser a reação do mercado de dívida?

  12. FMD

    E’ dificil especular sobre o “se”, ja’ que, de acordo com o filosofo Juarez Soares, ele nao joga, amigao. Voce citou dois mercados possiveis, o de acoes, menos provavel, uma vez que o downturn anterior nasceu ali, commodities sem duvida. Poderiam ter sido fabricas de alguma coisa, imoveis no exterior, ou simplesmente titulos de divida publica – o que ocorreu em um certo grau neste fim-de-ano-comeco-de-ano.

    Os bancos so’ perdem em duas situacoes:

    a- Investem em proprietary trading e perdem a aposta.

    b- Emprestam pra alguem que nao paga.

    Quanto maior a alavancagem – isto e’, dinheiro tomado emprestado pela instituicao – maiores as perdas relativas ao patrimonio liquido, portanto mais perigosas para a solvencia.

    Caso eles nao tenham equity (patrimonio liquido) para bancar as perdas eles ficam insolventes. Caso tenham, o Fed da’ liquidez para que eles continuem no jogo para re-ganhar aquilo que perderam.

    No caso das dotcom as perdas pelos motivos a e b nao foram de montante o suficiente para quebrar banco nenhum. As perdas foram resolvidas pela enorme liquidez – que no Barakistao via de regra AUMENTA O SPREAD – distribuida pelo Greenzinho, velho safado e boko-moko. Ta’ vendo a safadeza de abaixar a taxa de juros de referencia (FFR) a niveis muito baixos por muito tempo? Voce transfere renda para os bancos via spread.

    Por que desta vez ha’ pranto e ranger de dentes?

    Porque como postei aqui no passado, o Greenzinho, velho safado e boko-moko, acabou arrastando o POVO TODO para uma situacao de alta alavancagem.
    Ou seja, ele submeteu o sistema ao teste do tiro de canhao na cara.
    Deu no que deu.

    A situacao e’ a seguinte, cumpadre: nao importa se a divida foi gerada de um modo ou de outro, e outras questoes de outrossim. O que importa e’ que na economia existem 3 trilhoes de dolares em micos. Quem e’ que vai comer essa josta toda? Contribuinte ou credor dos bancos? Como dito anteriormente, o acionista ja’ era. Alias e’ uma bruta de uma sacanagem. Se e’ pra salvar os credores (bond holders), por que botar na dos acionistas? O fato de as acoes do City teram perdido 95% pct de seu valor contribuiu pra reduzir alguma perda de algum subprime qualquer? NAO. Aah, claro, moral hazard! Perfeitamente. Mas entao deveria haver moral hazard amplo, geral e irrestrito, certo? Passeio na horta para os bond holders tambem. Mas nao e’ o que ta’ pintando, justamente por causa da pergunta do Alex no fim do ultimo post acima.

    ALEX

    Que tal e’ esse livro?

    Abracao

  13. Alex,

    Não sei se essa é a idéia do Geithner, e se isso responde à pergunta do ewa (“Como seria a reação no mercado de dívida ???”), mas se o governo americano fizesse o stress test e definisse, para TODOS os bancos, qual o montante de capital que precisariam para se manter em atividade, os bancos saudáveis precisariam de pouco e seus acionistas manteriam o controle acionário, mas os falidos precisariam de muito e o governo assumiria o controle. A partir de então, todos receberiam o selo de qualidade da vigilância sanitária monetária e não teriam problemas para voltar ao mercado de dívida.

    É isso?

    Chucky

    Obs.: li o artigo do Sicsu mencionado acima. É curtinho, leva o tempo de uma cagada no banheiro. Com contas de guardanapo de boteco depois de 15 cervejas, o cara apresenta um cronograma de redução da Selic para 7% até o final do ano, com o propósito de reduzir a despesa com juros, para poder aumentar o bolsa-família. O cara é o chefão de macro do IPEA e ainda não foi apresentado ao conceito de dominância fiscal na política monetária.
    Triste pelo IPEA…

  14. ótimo senso de Humor,poderia largar a carreira de economista para ser humorista,da mais dinheiro.

    Alex estatizar não vale a pena,é melhor possibilita o setor privado se recuperar da crise,tudo que é estatizado demora mais.

    O Proer não precisou nacionalizar bancos,na Europa poderia até ser mais nos EUA não.

  15. Tô com o Kleber: o governo americano tem que limpar os acionistas, salvar bond holder, consertar os balanços e deixar o sistema financeiro em forma. Rápido!

    E depois, enquanto estiver por cima, melhorar a regulação.

    Chucky

    Obs2: lendo os comentários de pessoas tão iluminadas como vossas senhorias, sinto-me humildemente burro. Aí, pra me sentir inteligente, vou ler o Sicsú.

  16. Kleber,

    sem dúvida que grande parte do estrago já foi feito para os que estão pendurados em ações, mas como eu disse, a minha suposição é de que também sofram aquelas que ainda não estão só aguardando a pá, como o Citi e o Bofa. Além do JP tem algo que ainda sobrou do Wells Fargo, do Mellon e ainda tem GS, MS, e acho que mais nada…Mas enfim, essa turma ainda pode sofrer mais por tabela, e alguns títulos emitidos por eles também. Aliás nessa estatização o governo honraria todos os contratos de derivativos, inclusive CDS? O Krugman é um cara-de-pau ideológico, mas em uma coisa eu concordo com ele: é um acinte o conribuinte pagar pelos CDS que AIG era contraparte. Essa Put(A) extrapolou qualquer imaginário, não tem nem qualificação para isso.

    abs,

  17. O BNDES poderia atenuar os efeitos da crise no Brasil aumentando seus desembolsos.

    Se o Banco disponibilizasse 400 bilhões de reais em empréstimos,poderia aumentar o crescimento desse ano para 3%.

    Inclusive tem um grupo de estudo da UFPE trabalhando nisso,falta terminar as estimativas de crescimento com um desembolso do BNDES de 25% do PIB.

  18. “mas se o governo americano fizesse o stress test e definisse, para TODOS os bancos, qual o montante de capital que precisariam para se manter em atividade, os bancos saudáveis precisariam de pouco e seus acionistas manteriam o controle acionário, mas os falidos precisariam de muito e o governo assumiria o controle. A partir de então, todos receberiam o selo de qualidade da vigilância sanitária monetária e não teriam problemas para voltar ao mercado de dívida.”

    Idealmente sim. Implícita na proposta do Visconde Partido ao Meio há hipótese que os credores só olhariam para a frente, i.e., “ok, levei um ferro, mas, na margem, estes caras estão saudáveis de novo e podemos voltar a jogar”.

    Problemas (mais que potenciais): (1) Será que, na margem, os bancos ficam limpos mesmo, ou ainda sobra algum risco? (2) Ninguém leva um ferro desta magnitude tão graciosamente. Em particular nos EUA o risco de “litigation” deve ser boçal. (3) Como ficam contratos de CDS? (deve ter como resolver via valor residual, etc, mas, mesmo assim, deve ser um embrulho só.

    Estes só para começar. Kléber, “O”, Arlequim, Ueyerlenson (agora com identidade secreta desmascaada) e outros: conseguem pensar em cagadas adicionais?

  19. “O Proer não precisou nacionalizar bancos,na Europa poderia até ser mais nos EUA não.”

    Na Dimensão Z eu não sei; na Terra eu já vejo o governo americano como maior acionista do Citibank e não precisa ser um oráculo, só medianamente informado.

  20. “Se o Banco disponibilizasse 400 bilhões de reais em empréstimos,poderia aumentar o crescimento desse ano para 3%.”

    Já eu acho que o BNDES deveria desembolsar 4 trilhõs de reais. Aí a gente cresceria 30%.

  21. Alex nacionalizar seria o governo decretar uma medida,tornando o banco público.

    É melhor ficar do jeito que está,quando os bancos precisarem de capital o governo vai la e compra suas ações.

    Em troca dessas injeções o governo deveria vender unidades desses bancos.

    CIT deveria ser vendido no Brasil para cobrir prejuízos lá.

  22. Alex,

    que tal utilizar a expressão “dimensão Q” (de quermesse), ao invés de “dimensão Z”. Seria mais divertido!

    abraço, Zamba

  23. Alex Brasil deve fazer o mesmo da China,lançar um pacote de de 400 bilhões para estimular a economia.

    Construir casas populares,aumentar investimentos públicos.

    Se CHina pode o Brasil pode.

  24. Zamba:

    A dimensão Z (de zurro) é um lugar especial, onde a realidade é apenas um detalhe, e sempre se adapta à visão de mundo do morador.

    Já a quermesse é algo diferente, meio indefinível. Tem a ver com “a incerteza, o tempo, os contrato” e com as “relações sociais” e “reificação da mercadoria”. Entendeu? Não? Não faz diferença, nem a quermesse sabe o que fala…

    Abs

    Alex

  25. “Alex Brasil deve fazer o mesmo da China,lançar um pacote de de 400 bilhões para estimular a economia.

    Construir casas populares,aumentar investimentos públicos.

    Se CHina pode o Brasil pode.”

    O Brasil pode mais que a China! (Hino Nacional cantado pela Fafá de Belém ao fundo, em crescendo).

    (Pausa. Tomar fôlego).

    Somos maiores que China. Nosso PIB é maior, nossa dívida é menor, nossas reservas são maiores. Nossos bosques têm mais vida, nossa vida em teu seio mais amores. Ó pátria amada, idolatrada, salve, salve (junto com a Fafá agora).

    Já disse: pelo menos $ 4 trilhões; $ 400 bilhões é coisa de boiola…

  26. Alex a crise chegou no Brasil por diversas maneiras,uma delas foi o Banco Central ter deixado o cambio ir para 2,30.Deveria ter mantido o cambio a 1,60,isso evitaria o pior.

    Nem dólar SPOT o BC vendeu.

  27. Alex 8 bi em reservas é muito pouco,BC vendeu Swaps,Swaps não determina a taxa de cambio.Os ortodoxos quiseram inventar uma maravilha de cambio flutuante,deu no que deu.

  28. PQ todo Keynesiano é apressado para resolver as crises?

    A pressa é a inimiga é perfeição,é melhor fazer um programa de limpamento do sistema financeiro bem em 3 anos do que um mal em 1 ano.

  29. “A pressa é a inimiga é perfeição,é melhor fazer um programa de limpamento do sistema financeiro bem em 3 anos do que um mal em 1 ano.”

    Não se preocupe. Se fizerem o “limpamento” (algo contra “limpeza”? Também é uma palavra forte?) e três anos não vai sobrar muito o que limpar.

  30. Alex,

    sendo assim não tem solução para o sistema financeiro americano, pois mesmo estatizando, mesmo separando, mesmo fazendo qq coisa que o Siscu invente, ficaremos sempre com: dúvidas, riscos morais e judiciais e um custo altíssimo para alguém.

    Vamos lá meu amigo, tem que ter um caminho menos pior …

    abraços

    Teco

  31. Alex, Kleber, Chucky, outros…

    A questao da nacionalizacao eh que detonaria uma bomba no mercado de CDS (nacionalizacao eh um evento de default), e ninguem sabe o que aconteceria no dia seguinte.

    ‘o’

  32. TIO ALEX

    As 3 perguntas la’ de cima esgotam todo o estoque de estrume do planeta inteiro!

    1- Realmente nem belzebu pode garantir que os bancos estariam limpos de fato.

    2- Litigation: haveria tanta, mas tanta, que o pais precisaria importar advogados.

    3- CDSs: iria desencadear uma quebradeira tao grande que pode fazer com que resolver a situacao dos bancos nao adiante porra nenhuma. Alias, ai’ e’ que esta’ o grande no’ da questao. Por isso comentei ha’ meses atras que o grande problema da questao atual sao os CDSs. Dar um merecido hair cut nos credores podera’ acionar o gatilho dos CDSs. Ninguem desse mercado teria cacife pra guentar o tranco. De onde vem o dinheiro desse pessoal? Ora, vem dos bancos. Entao o pessoal da ponta vendedora dos swaps iria instantaneamente ‘a falencia, entrando em default com o seu financiador. O que traria outra tsunami de estrume de volta para os bancos.

    Em principio poder-se-ia pensar em uma pre-concordata estruturada, como estao batalhando no caso da GM. Todos os stakeholders levariam um HC do mesmo tamanho, e vamu-qui-vamu. Mas seria impossivel legislar sobre os contratos particulares. Seria mais litigation do que qualquer coisa imaginada para o item 2. Ai’ teriam que importar juizes.

    Mudando o assunto, realmente 400 bi de reais e’ coisa de boiola. Mas 4 trilhoes ainda soa meio acanhado, Alex. Eu proponho 8 trilhoes.

    Sobre o Jumento de Ouro para o agraciado acima, tambem discordo. Ele merece um de Platina, ou quem sabe ate’ um Jumento de Plutonio. Sabe por que? Porque a bobagem foi tao monumental que acaba setting the bar too high. Como e’ que a gente vai outorgar um JdO para outro energumeno futuro? Sem duvida estariamos cometendo injustica.

    Um grande abraco

    Kleber S.

  33. Alex o sistema quebrado não esta mais (comparado a 2008),por isso que o programa de recuperação tem que durar 3 anos,para fazer bem feito.

  34. Quebrado não está,ele esta funcionando a partir de garantias do governo,mais esta funcionando não?

    Quebrado seria se o governo não intervisse.

    Regulação não consegue fazer mágica como vc acredita,Espanha tem uma legislação mais rígida que a dos EUA e isso não impediu a bolha imobiliária.A recessão lá ta pior que dos EUA (desemprego atingiu 16%) enquanto nos EUA ta 7%.

    É uma cretinice achar que regulação faz mágica.

  35. “Quebrado não está,ele esta funcionando a partir de garantias do governo,mais esta funcionando não?

    Quebrado seria se o governo não intervisse.”

    Na dimensão Z não está quebrado; no planeta Terra a ação do Citi vale $ 1, quando em outubro (pós-Lehman) valia $13,7; o BofA vale $3 (valia $ 24).

    Ainda no planeta Terra o CDS do BofA roda em torno de 300 (era 130 em outurbo); o do Citi está um pouco abaixo de 500 (era 200). Realmente a vida na dimensão Z é bem mais fácil, mas você não diz como chegar lá (imagino que a lobotomia possa ser uma alternativa).

    Quanto à Espanha, a conclusão é exatamente a oposta: houve bolha, mas os bancos sobreviveram (afinal de contas, eu trabalho para um deles). Isso é resultado de regulação séria, não de mágica. Mas a lobotomia causa certos efeitos colaterais.

  36. Aumentou a desconfiança sobre os bancos,mais isso não quer dizer que eles estejam quebrados.Estão funcionando a partir do tesouro americano.

    Nada nas pressas sai bem feito,por isso que esse plano tem que ser feito aos poucos.

    “Isso é resultado de regulação séria”

    Regulação séria? A regulação Espanha é restritiva,mesmo assim não evitou o surgimento da bolha e não evitou a recessão desemprego lá ta em 16% da PEA enquanto nos EUA ta 7.

  37. Alex,

    Você disse:
    “Problemas (mais que potenciais): (1) Será que, na margem, os bancos ficam limpos mesmo, ou ainda sobra algum risco? (2) Ninguém leva um ferro desta magnitude tão graciosamente. Em particular nos EUA o risco de “litigation” deve ser boçal. (3) Como ficam contratos de CDS? (deve ter como resolver via valor residual, etc, mas, mesmo assim, deve ser um embrulho só.”

    Considere uma situação em que o governo, ao estatizar um banco, limpa os acionistas pela diluição do capital, mas se compromete a proteger os bondholders (me dá uma boa tradução em português). Elimina-se o litígio com estes credores. O que sobra da objeção (2)?

    Sendo o banco do governo, a sua objeção (1) fica fraca, pois sempre dá para colocar mais capital. Se o banco não foi estatizado, deve estar OK. Se não estiver, acabará sendo estatizado mais tarde.

    O governo, após o stress test, se oferece graciosamente a assumir o controle, injetando capital. Se os acionistas de banco quebrado não quiserem, vão ficar com os credores na cola até cederem. O incentivo será favorável à estatização, pois a put não valerá nada se o governo não resgatar os banqueiros reticentes (comprando ativos podres, por exemplo). Como a estatização será “voluntária”, diminui-se a chance de litígio de acionistas. No limite, estes conseguiriam, após um longo processo, apenas o valor ridículo atual destes bancos. O que sobra da objeção (2)?

    Quanto à (3), eu sou ainda menos informado para tentar contra-argumentar. Mas, aos valores atuais, boa parte das hipotecas vale mais do que as casas, e haverá muito default estratégico, com os altos custos associados(judiciais, conservação do imóvel, desutilidade para o inquilino despejado). A solução global para a economia seria baixar o principal de TODO MUNDO em 20% mais ou menos, algum valor que torne o default estratégico um mau negócio. Mas, para isso, tem que estar tudo na mão do governo.

    Com a estatização, boa parte dos CDS’s, CDO’s, hipotecas, etc… já vai para o governo, que atualmente já controla Fannie e Fred. Aí, o governo renegocia com os inquilinos as hipotecas de sua carteira de ativos, e vai, lentamente, readquirindo as hipotecas, CDS’s e CDO’s restantes que os bancos sobreviventes quiserem vender (a preços baixos, pois o mercado será vendedor).

    Limpam-se os balanços de bancos e famílias, e o sistema financeiro começa a retornar à normalidade. Às custas do contribuinte. Mas a alternativa seria pior.

    Tem furo?

    Chucky

  38. “Aumentou a desconfiança sobre os bancos,mais isso não quer dizer que eles estejam quebrados”

    Não, com certeza quer dizer que estão saudáveis e bem. Aliás, deve ser por este motivo que o mundo está uma maravilha… Pelo menos da dimensão Z…

  39. “Considere uma situação em que o governo, ao estatizar um banco, limpa os acionistas pela diluição do capital, mas se compromete a proteger os bondholders (me dá uma boa tradução em português). Elimina-se o litígio com estes credores. O que sobra da objeção (2)?”

    Na verdade, a objeção (2) não é à estatização, mas à divisão do banco com parcela da dívida sendo transferida para o banco ruim. Se for da forma como você disse é exatamente o caso em que o contribuintes financia o credor (não tenho tradução melhor para bondholder).

    O acionista está devidamente eluziado (valeu Kléber!).

    Abs

    Alex

  40. O Citi não está quebrado,mais o mercado está confiante de que se os bancos precisarem de $$ o tesouro vai lá e compra as ação.

    Uma pergunta as operações dos bancos americanos devem encolher com essa crise?

    provavelmente o governo americano vai pedir para o CIT vender seus ativos “bons” como operações no Brasil e no México.

  41. Alex meu professor de economia monetária comentou que o Brasil deve aumentar a meta de inflação para esse ano,para algo em torno de 8% para o Copom acelerar o corte nos juros,em compensação em 2010 o Copom se comprometeria em manter a inflação na meta.

    Vale a pena correr esse risco?

  42. “O Citi não está quebrado,mais o mercado está confiante de que se os bancos precisarem de $$ o tesouro vai lá e compra as ação.”

    Ah, então tá… Aliás, se “o mercado está confiante de que se os bancos precisarem de $$ o tesouro vai lá e compra as ação” como é que “Aumentou a desconfiança sobre os bancos,mais isso não quer dizer que eles estejam quebrados.”

    Eu nem peço concordância (as ação), ou a diferença entre “mas” e “mais”, mas você podia, pelo menos, se lembrar do que escreveu para não cair em contradição dois comentários abaixo.

    Já sei, já sei, esta história de coerência não existe na dimensão Z.

  43. “Alex meu professor de economia monetária comentou que o Brasil deve aumentar a meta de inflação para esse ano,para algo em torno de 8% para o Copom acelerar o corte nos juros,em compensação em 2010 o Copom se comprometeria em manter a inflação na meta.’

    Ruy:

    Não sei quem é o seu professor de economia monetária, mas fico com pena dos alunos.

    Esta é uma das afirmações mais cretinas que testemunhei.

    Em primeiro lugar, se você anuncia que irá buscar uma meta mais alta, o que você imagina que ocorrerá com as expectativas?

    Hoje o consenso (não a minha previsão, diga-se) é que a inflação ficará próxima à meta (o consenso anda ali pelos 4,6%). Avisando todo mundo que o BC vai buscar uma inflação de 8% implicaria convidar o mundo (até a dimensão Z) para elevar as expectativas de inflação e, por este canal, os preços para cima.

    Na inspiradíssima definição de um amigo e colega de BC, isto equivaleria a “comer cocô de graça”.

    Bom, aí teremos inflação mais alta este ano. Mas, diz seu professor, o BC voltaria a buscar a meta em 2010.

    OK. O que ocorre com a taxa de juros? As pessoas vêem inflação mais alta em 2009 e o BC tendo que desinflacionar a economia em 2010, i.e., alta probabilidade do BC ter que subir juros no começo de 2010. Neste caso o DI Jan10 pula dos atuais 10 e qualquer coisa para, sei lá, 14%-15%. Por que?

    porque o BC terá que subir o juro real para trazer a inflação para baixo e, como a inflação (e a expectativa de inflação) estará mais alta, o juro nominal tem que subir também.

    Ponho dinheiro nisto: se o BC anuncia que vai perseguir uma meta mais elevada de inflação este ano e voltar à meta ano que vem o juro mais curto cai um pouco e o juro mais longo (entre 2010 e 2012 sobe como se não houvesse amanhã).

    Como disse, não é todo dia que se ouve um cretinice deste porte. Jogou na loteria hoje?

  44. Ruy,

    Não entendi seu professor. Ele quer reduzir a Selic para 8% para quê?

    Para aumentar a demanda?
    É um tiro no pé. Pela primeira vez na história, com uma pusta crise rolando, temos uma curva de juros com liquidez para até uns 3 anos. Graças à estabilização da inflação. Isso significa pouco risco de mercado para os bancos que concederem crédito ao consumidor com prazos semelhantes. Se teu professor esculhamba a inflação e cria incerteza, a curva encurta, pois ninguém vai querer emprestar com prazo de mais de 1 ano. O crédito ao consumidor seca. Consumo de duráveis (mais atingido pela crise) idem. Tiro no pé.

    "…em compensação em 2010 o Copom se comprometeria em manter a inflação na meta…"
    => Inconsistência temporal. Kydland & Prescott (1977).

    É pra diminuir despesas com juros?
    => Dominância Fiscal. Sargent & Wallace (1981).

    Teu professor precisa de aulas de macro. Até eu que sou pequenininho vejo que é mancada…

    Chucky

  45. eu chamaria o Barao nas Arvores. Alguem de fora, sem os vicios americanos entre eles o pavor de intervencao.

    Nao sou economista mas me interesso muito pelo assunto, o que eu li ate agora e concordo é: o Tesouro Norte Americano deveria injetar lote de dolar nos bancos zumbis, aumentando o K para deixa-los solventes e ate com K para novos emprestimos. O Tesouro nao deve na moeda que imprime? Entao nao existe o risco de default. Os riscos são inflacao e desvalorizacao do dolar. Penso que inflacao na atual situacao é um mal bem menor do que depressao / recessao. E o mundo no inferno de dante, que moeda vai ganhar do dolar para forcar a desvaolizacao do mesmo? Esquece os chinas depois do discurso de ontem. EUR, GBP, JPY parecem que estao pior que os yankees.

    falei muita merda?

  46. “Com a estatização, boa parte dos CDS’s, CDO’s, hipotecas, etc… já vai para o governo, que atualmente já controla Fannie e Fred.”

    Chucky,
    CDS (credit default swap) eh um contrato de seguro entre particulares sobre o evento de default de um credito. Por exemplo, o JP Morgan pode ter comprado seguro da GS que o Citi nao vai default. Uma nacionalizacao seria um evento de default, e daih a bagunca ninguem sabe onde acaba.

    “O”

  47. AGILULFO PICANDO A MULA

    Hoje as acoes do C cairam abaixo de um dolar. Quem diria, hein, cambada, Citibank virou penny stock! E praticamente todos os bancos seguiram cantando:

    “Eu vo, eu vo, pra horta agora eu vo, eu vo, eu vo, eu vo, eu vo!”

    CHUCKY

    Parece que o conceito de CDS nao esta’ claro pra voce. O tio “O” foi preciso. E’ um contrato qualquer entre duas instituicoes financeiras quaisquer sobre a possibilidade de calote de um terceiro, QUER A INSTITUICAO TENHA DEBITO DO TERCEIRO EM CARTEIRA OU NAO. Sacou a jogada? E’ como seu eu fizesse seguro sobre a SUA vida. Como isso nao e’ legal, esses contratos sao chamados de “swaps” em vez de “insurance”. Como toda instituicao financeira e’ alavancada, e a alavanca – emprestimo – acaba num banco, diretamente ou por tabela, o default de um negao vai espalhar uma quantidade de estrume desconhecida e incontrolavel.

    CDS NAO sao transacionados em clearing houses. Nao ha’ qualquer registro ou controle sobre a existencia desses contratos. Tenho ate’ o palpite que caso um desses eventos ocorra, uma porcao de predios em Manhattan vai pegar fogo. Alguem que descobriu onde seu swap perdedor de alguns zilhoes de dolares esta’ guardado, contratando os servicos do pessoal de Lower Manhattan. A zona e’ inimaginavel.

    Inflacao e’ um instrumento perigosissimo. Tudo aqui e’ prefixado. O que acontece para um detentor de um CDO hipotecario rendendo um juro medio de uns 7 pct, e a inflacao vai para modicos 12 pct? Ta’ todo mundo debaixo dagua! O preco dos bonds federais desaba. Com isso gente que nao tem nada com o peixe tambem vai pro vinagre. Estes bonds lastreiam moedas pelo mundo inteiro, Brasil incluido. Com a perda do valor dos bonds, o real perde parte do seu lastro. E nao e’ so’ o real. Como o reverso da medalha e’ a subida concomitante dos juros, o governo e’ forcado a se financiar com mais emissao de moeda. A inflacao pode muito bem entrar em espiral “sarneyca”. E se espalhar pelo resto do muito pelo currency debasement das moedas utilizadoras dos bonds como lastro, mesmo que parcial. Voce propoe que o governo decrete um decrescimo de 20 pct no valor das hipotecas. Pois bem: sao 2.5 trilhoes de dolares que vao ser perdidos do valor de face dos contratos hipotecarios. O numero de acoes contra a constitucionalidade desse decreto seria tao gigantesco que iria faltar papel. Caso o governo tenha que indenizar essas perdas, ele nao tera’ alternativa senao imprimir. Cairiamos entao no caso acima, sem apelacao.

    Por isso tudo eu ainda acho que a mehor alternativa e’ o Plano K.

    Um abraco de quebrar costela

    Kleber S.

  48. O PLANO K

    1- Todos os ativos toxicos – com passivos correspondentes – sao transferidos para um ou mais bancos ruins de posse do governo.

    2- O valor desses ativos podera’ ser tanto o de face como o book value corrente.

    3- Esses ativos portanto nao precisariam mais ser marcados a mercado.

    4- Cada banco teria seus ativos administrados em uma conta propria. Ao fim de cada periodo – mes ou quarter – os bancos receberiam os proventos dos ativos em questao. Caso o portfolio tenha rendimento negativo em funcao de defaults, o banco reembolsaria o governo da diferenca.

    Como uma hipoteca leva em geral 30 anos, e a maioria dos emprestimos problematicos sao relativamente novos – 3 a 5 anos – a galera teria uns 20 anos para limpar a merda toda.

    Qual seria o impecilho? Shareholders. Ninguem quer acoes de empresas que levariam decadas limpando o estrume. Mas como ja’ concordamos aqui, os shareholders dos bancos fodidos ja’ foram devidamente enluziados. Ontem ate’ Agilulfo estava de saida. Entao perdido por perdido, truco!

    Um abraco de quebrar costela

    Kleber S.

    PS: Essa do Agilulfo foi muito gozada, precisamos arrumar uma “personalizacao” da figura para mante-lo aqui no blog, tipo Jumento de Ouro, ou coisa parecida.

  49. Obrigado ao “O” e ao Kleber pelas explicações do CDS, eu também estava com algumas duvidas sobre sua definição.

    Foi muito engraçado a competição de 400bilhoes e o país cresce 3% ou 4 trilhões e o país cresce 30%, mas o preocupante é o Sicsú falando esse tipo de asneira em nome do IPEA.

    Ipea sugere redução gradual da taxa Selic em 2009

    País economizaria R$ 43 bilhões com corte imediato de 5,75 pontos percentuais

    http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=8288

    Pelo visto, a Dimensão Z parece cada vez mais real.

  50. “como foi a recuperação do Banespa e posterior privatização. Não foi feita a divisão do banco certo?”

    Não. Foi muito melhor (para o acionista) e muito pior para o contribuinte (se bem que, como o acionista majoritário passou a ser o governo federal, até certo ponto as coisas se confundem).

    O principal problema do Banespa (e dos bancos estaduais de maneira geral) era ter uma quantidade enorme de empréstimos feitos ao seu acionista controlador (i.e., o Estado), que não tiha condições de honrá-lo.

    Pois bem: o governo federal, ao reestruturar as dívidas estaduais (isto é se tornou credor do governo estadual e devedor dos bancos, até então estaduais) na prática comprou do Banespa (e dos demais bancos estaduais) a dívida dos estados a valor de face, entregando títulos públicos federais.

    Bancos, até então quebrados, se tornaram solventes. Obviamente não há milagre: o governo federal transferiu valor ao acionista (em 1997 a ação do Banespa foi, talvez, o negócio do ano. Valia R$ 2,40 (US$ 2,3) em out/96 e atingiu R$ 52 (US$ 47,6) em set/97.

    Parte do presente voltou na privatização, já que, pelo acordo de reestruturação da dívida, o banco passou do governo estadual para o federal. Isto dito, as acionistas privados fizeram a festa.

    Guardadas as devidas proporções, seria como o Tesouro comprar todos ativos podres do Citi a valor de face, entregando US Treasuries. Se houver qualquer chance disto acontecer, venda a mãe, o cachorro, o papagaio, os filhos, tome todo dinheiro que puder e compre ações do banco beneficiado. Obviamente a chance é próxima a zero (a cauda de chance de algo como isto ocorrer é que mantém as ações dos bancos ainda no quadrante positivo).

  51. COMO MONTAR UM CDO

    1- Um banco qualquer estabelece uma companhia paralela, fora do seu balance sheet para nao comprometer sua alavancagem vis-a-vis seu patrimonio liquido.

    2- Essa companhia chamada SIV lanca commercial paper no mercado. Como a liquidez e’ estupidamente alta, os juros pagos por CP sao uma merreca. A contrapartida e’ que esse credito tem que ser renovado entre 1 e 270 dias.

    3- A SIV vai entao a companhias mortgage originators – que sao as que emprestam dinheiro diretamente para o mortuario, digo, mutuario – e pergunta: “Voces tem contratos de hipoteca pra vender?”. A mortage originator (Countrywide, por exemplo) diz: “Claro que sim!”. Qual a vantagem? Segurar a hipoteca paga um juro de digamos 7 pct ao ano. Mas nao vem de graca, pois a originadora tem que pagar juros sobre o emprestimo junto ao seu financiador, etc. Entao ela ganha X a partir de um risco. Caso ela venda a hipoteca, ela fica com o dinheiro da taxa administrativa, ou seja, ganha algum a partir de nenhum.

    4- A SIV entao poe um montao de hipotecas numa lista que e’ chamada de underlying assets.

    5- Isto posto, a SIV elabora um contrato chamado de CDO. Esse contrato estabelece 3 fatias que basicamente trata da distribuicao do rendimento proveniente das hipotecas listadas.

    – Fatia Equity: digamos uns 10 do bolo. Essa fatia recebera’ juros de X pct, bem acima da media dos juros pagos pelas hipotecas subjacentes. Mas tem um porem: esta fatia e’ a ultima a receber os proventos. Caso o calote seja do tamanho da fatia – os tais 10 pct – eles nao recebem porra nenhuma.

    – Fatia Mezzanine: recebe menos juros que a Equity, mas so’ perde dinheiro se as perdas do pacote de hipoteca for maior que os 10 pct da Equity. Suponhamos que estao fatia englobe 15 dos ativos. Veja o amigo que eles nao tem uma lista com os nomes 15 pct dos mortuarios, digo, mutuarios. A fatia detem 15 pct do total.

    – Fatia Senior (AAA): recebe um juro contratual bem menor que as outras, mas so’ perde grana caso as perdas globais do pacote sejam superiores a 25 pct, no exemplo dado.

    4- A SIV – que se financiou no curtissimo prazo para receber no longuissimo prazo – vai entao atras de otarios, digo, investidores para vender cotas nas tais fatias.

    5- Uma vez que o pacote fatiado e’ vendido, a SIV lucra com as taxas contratuais e comissao, e os otarios, digo, investidores ficam com seu contrato de acordo com a fatia especificada.

    Um abraco de quebrar costela

    Kleber S.

  52. COMO LUCRAR COM UM CDO

    1- Um hedge fund ou financeira qualquer toma dinheiro de seus cotistas, e estabelecem o patrimonio do fundo.

    2- Ai’ eles tomam dinheiro emprestado dos bancos, se alavancando 10 vezes.

    3- Suponhamos que o juro pago aos bancos seja 8 pct. O hedge fund entao vai ‘a SIV e compra uma Fatia Equity que rende 12 pct.

    4- Viram que maravilha, cambada? Imaginemos que eles botaram 100 milhoes de patrimonio e emprestaram 1 bizinho do banco. Pagam 80 milhoes de juros e recebem 120. Rendimento sobre o patrimonio: 40 PORCENTO AO ANO!

    Um abraco de quebrar costela

    Kleber S.

  53. COMO A MERDA DESANDOU

    1- Conforme visto na licao anterior dessa escolinha do Professor Imundo, as empresas de originacao de hipotecas passaram a ganhar dinheiro basicamente pela prestacao do servico.

    2- Ora, ja’ que ela nao tem mais risco, pois tudo o que ela consegue emprestar aos mutuarios ela repassa com lucro para as SIV, ela nao tem mais a preocupacao de analise de risco.

    3- A empresa passa entao a ganhar exclusivamente por volume.

    4- Numa dessa, qualquer neguinho que saiba assinar o nome recebe um emprestimo. Porque se ele nao pagar, o “pobrema num e’ meu”.

    5- Para que o volume nao caia, no decorrer do tempo se torna necessario abaixar o criterio de concessao de emprestimos para ex-inadimplentes, carinhosamente apelidados de subprime.

    6- Como o cara ja’ tem o credito fodido, e a empresa originadora nao exige garantia de qualquer especie, ele topa a parada.

    7- Como a prestacao e’ menor que um aluguel por um certo tempo, antes do reset da taxa de juros para valores cheios – nos 3 primeiros anos o neguinho pagaria so’ uma parte dos juros, a tal ARM – o neguinho nao tem nada a perder.

    8- Quando a taxa vai para as nuvens, o subi refinancia a quantia que o imovel se valorizou no periodo, e continua a pagar sua prestacao com esse refinanciamento. E’ isso que eu chamo de comer o proprio braco para saciar a fome.

    9- Um dia, os precos das moradias ficaram tao altos que os subis comecaram paulatinamente abrir o biquinho. Emprestimos ja’ entravam em default em questao de meses.

    10- As fatias Equity foram rapidamente para o vinagre. As outras foram indo pelo mesmo caminho.

    11- Com a foreclosure das casas “perdidas” pelos subis, os precos dos imoveis entraram na descendente. Refinanciar e “comer o proprio braco” ja’ nao era mais uma opcao. Com isso a quantidade de foreclosures cresceu aceleradamente.

    Um abraco que quebrar costela

    Kleber S.

  54. Desculpe a perguna juvenil…
    O que significa “quermesse”?

    Ps. Maravilhosos textos publicados por Alex e excelentes comentários do Kleber S.

    Abs a todos,

    Fábio

  55. COMO OS BANCOS SE ENLUZIARAM

    1- Com o passar do tempo, as SIVs perceberam que os clientes estavam particularmente interessados nas Fatias Mezzanine. As duas outras comecaram a encalhar.

    2- Os bancos ficaram com esses micos em suas SIVs.

    3- ‘A medida em que os subis iam para o vinagre, os hedge funds que entraram naquela jogada mencionada no capitulo anterior, tambem comecaram a ir para o vinagre, pois da mesma maneira que a alavancagem jogava seus rendimentos para estratosfericos 40 pct, um pequeno acrescimo na inadimplencia era suficiente para leva-los a falencia.

    4- Por consequencia, os CDOs se tornaram toxicos. Ninguem mais queria saber deles porque aquela pergunta crucial de probabilidade condicionada nao podia ser respondida: “Qual a probabilidade de default de A DADO que seu vizinho B entrou em foreclosure?”. Como nao ha’ resposta para este risco, nao ha’ definicao de preco – nem de modelo, muito menos de mercado. Por isso mesmo ninguem compra.

    5- Billy the Ben concluiu: “Ahah! Se ninguem compra e’ porque eles sao iliquidos. Entao vou dar liquidez para o auditorio”. Como os cumpadres ja’ sabem, num adiantou porra nenhuma.

    6- O que concluiu Kleber S., o neguinho que vos fala? O problema e’ solvencia, pois o volume e velocidade de inadimplencia dos subis – e pouco depois, dos naosubis – nao iria dar folego pra ninguem levar o tranco e se levantar. A tal da marcacao a mercado se assegurou de fazer com que o tempo jogasse contra.

    6- O mercado concordou com o Ben da boca pra fora. Botaram pressao ate’ que ele zerou a FFR. Mas concordou com o Kleber S. do bolso pra dentro, uma vez que as acoes dos bancos viraram “coisa de Agilulfo”.

    Um abraco de quebrar costela

    Kleber S.

  56. A lição que tiramos dessa crise é que mercado financeiro não gera riqueza,o que gera riqueza é setores da economia real e que não devem existir bancos privados pois quando eles quebram é o contribuinte que arca com os prejuízos.

  57. “A lição que tiramos dessa crise é que mercado financeiro não gera riqueza,o que gera riqueza é setores da economia real e que não devem existir bancos privados pois quando eles quebram é o contribuinte que arca com os prejuízos.”

    Esta afirmação brilhante do gabriel, direto da dimensão Z, me lembra a famosa frase: “o capitalismo é exploração do homem pelo home; já o socialismo é exatamente o contrário”.

    Se o gabriel não fosse um menino especial, já teria levado mais um Jumento de Ouro para casa…

  58. Desculpe a perguna juvenil…
    O que significa “quermesse”?

    Foi uma sugestão de um leitor, na verdade. Eu me referia aos pessoal campineiro, UFRJ e afins como “desenvolvimentistas”. Foi sugerido que os tratasse por “keynesianos festivos”, para diferenciar dos keynesianos sérios.

    Dada a origem campineira da maioria dos “festivos” o autor do comentário mencionou que “keynesianos de quermesse” seria ainda melhor. Como de fato é.

    Abs

    Alex

  59. ALEX

    Obrigado.

    Uma coisa nos podemos ter certeza: os unicos caras que estao dando alguma risada nessa crise sao os frequentadores do blog.

    Um grande abraco

    Kleber S.

  60. “Alex a GM tem um risco sistêmico maior que o CITI.Se a GM quebrar serão 350 mil a menos,diferente do CITI.”

    Isto. E os 3,5 milhões que perderem seu emprego porque as empresas em que trabalham não conseguiram crédito vão aplaudir…

    Desculpe a pergunta, mas você já procurou o médico que eu recomendei?

  61. Se sera estatizacao ou good.bad bank, o que e interessante e como o mundo sera diferente nos proximos anos. Aqui vao algumas previsoes

    1) O private equity business vai acabar.

    2) Varios private equity deals grandes, Freescale e o mais obvio, vao ser restruturados, com perdas materiais a todos os investidores

    3)A contracao, desaceleracao, e retomada lenta de crescimento nos US vao ter efeitos mundiais (obvio). A China sera o pais mais afetado, e nos veremos instabilidade politica (a la Tienamen Sq) quando as dezenas/centenas de milhoes de migrantes camponeses ficarem sem emprego em Shenzhen e outras muitas areas industriais.

    4) Na India, variuos outros casos de contabilidade criativa a la Satyam vao aparecer, com a desaceleracao da industria de IT

    5) Esse papo de que a China e a India vao ser os Imperios Globais no final do seculo vai acabar, quando notarem que
    – o seu GDP per capita ainda e uma piada
    – os Hispanicos nos US consomem mais que a China inteira, e vao continuar consumindo, por muitos anos
    – a eficiencia de capital adicional cai conforme a economia cresce (os economistas ai podem afirmar e explicar melhor que eu, reles matematico). Extrapolar o indice de crescimento atual da China e da India pros proximos 25 anos e moronico

    6) O Stimulus package II (e talvez o III) vai investir ainda mais em infrastrutura (transporte, educacao, saneamento), em energia, e em telecomunicacoes. Veremos a criacao de uma nova industria de energia renovavel mundial, e paises que tiverem ou um headstart (e.g., Alemanha e Japao em solar) ou uma politica industrial/energetica inteligente seram beneficiados nos proximos 10 anos (O Brasil perdeu o boom dos semis na decada de 70, da informatica na decada de 80, da Internet na decada de 90, e vai perder o da energia nos proximos 10 anos)

    7) O Palmeiras vai ganhar Libertadores este ano.

    PIG

  62. Falando em denominações de escolas de “pensamento” (cof, cof)…
    Os da Unicamp poderiam ser chamados de “keynesianos de fazenda” e os da UFRJ de “keynesianos de favela”. Pra ser mais específico e justo — tenho conhecimento de causa.

    Fica aí a dica.

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