O Clichê. Por Meraldo Zisman

O Clichê

(A ditadura do politicamente correto*)

Meraldo Zisman

… O eleitor sente-se amedrontado ou discriminado e evita expressar alguma opinião – que pode ser tida como politicamente incorreta…

“Politicamente correto” tornou-se um clichê. Razão tem a filósofa judeu-alemã Hannah Arendt (1906-1975) ao considerar o clichê como potente ferramenta de propaganda dos regimes totalitários, a exemplo do nazismo e do stalinismo no século passado. Foi Joseph Goebbels (1897 – 1945), ministro da propaganda de Hitler, quem  cunhou a frase: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Virou clichê.

A adoção de clichês torna impossível expor ideias sem ofender alguém. Ademais, é insuportável a quebra do diálogo entre os diferentes segmentos do povo brasileiro, às vésperas de eleições gerais.

Na próxima eleição majoritária não teremos segurança quanto à credibilidade das notícias. Dados os avanços tecnológicos dos meios de comunicação, o valor gasto com o merchandising de qualquer dos postulantes à presidência do Brasil continua a ser uma incógnita.

Parafraseando o pensador Umberto Eco (1932 —2016) quando relembrava a história:

Durante a operação Mãos Limpas na Itália a magistratura togada (conjunto dos magistrados que funcionam como juízes) e a magistratura de pé (os membros do ministério público), alcançaram tamanha importância devido à gravidade e intensidade de denúncias em todos os níveis da maioria das empresas e dos políticos que  sobrou muito pouco espaço para a Mídia.

Os meios de comunicação social tão somente conseguiam realizar uma corrida frenética à indiscrição oriunda das cortes judiciais e foram obrigados a proteger sua própria sobrevivência denunciando a magistratura, tornando o jogo mais abalado e confuso. Tamanha convulsão exacerba a luta política entre os Poderes que conduz à insegurança do país, além de fomentar a violência e aumentar o desemprego…

… É criado assim um clima policialesco invasor das mais diferentes áreas das atividades humanas, fazendo com que tudo que seja contrário ao poderoso de plantão passe a ser encarado de forma preconceituosa ou ofensiva.

Fato é que a expressão ‘politicamente correto’ tornou-se mais uma charlatanice ou fake news. Prudente será lembrar que certos intelectuais afirmam que o politicamente correto foi criado para promover a tolerância e reconhecimento das diferenças (racistas, machista, de gênero, abortamento e etc.). Na realidade, o politicamente correto passou a ter o efeito inverso.

O eleitor sente-se amedrontado ou discriminado e evita expressar alguma opinião – que pode ser tida como politicamente incorreta. Percebam que hoje em dia, para contrabalançar uma acusação não é necessário provar que é inocente, basta deslegitimar o acusador.

O politicamente correto é mais um perigoso e sutil clichê que cria aflições e medos a quem pretende opor sua opinião ao outro, que ajuíza.  Basta um mentiroso inventar que isso é necessário para um convívio livre e republicano para que a grande maioria das pessoas passe a se declarar ‘politicamente correta’, mesmo que não concorde com a ideia.

É criado assim um clima policialesco invasor das mais diferentes áreas das atividades humanas, fazendo com que tudo que seja contrário ao poderoso de plantão passe a ser encarado de forma preconceituosa ou ofensiva.

Advirto. Tendo em vista a necessidade do emprego constante de metáforas e eufemismos para ser considerado cidadão “politicamente correto”, conclui-se que a submissão ao clichê constitui uma forma de concordar – à força – com um grupo de pessoas com o qual você, na realidade, não concorda.

Ou seja, leva à perda de sua liberdade de expressão.

      * “Politicamente correto é um preceito, sustentado por uma minoria iludida e sem lógica, que foi rapidamente promovida pelos meios de comunicação (também iludidos e sem lógica)”. 


Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).

 

1 thought on “O Clichê. Por Meraldo Zisman

  1. EM TERMOS DESSE GARROTE VIL QUE SE TORNOU A TAL LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA, O GRANDE PUBLICITÁRIO ALEX PERISCINOTO JÁ COMENTOU NUM DOS POSTS EM SEU BLOG (alexperiscinoto.com.br) UMA FRASE “POLITICAMENTE CORRETA” QUE SERVE NÃO SÓ PRA ELE MESMO COMO PRA VC: “NÃO EXISTE MAIS CARECAS, SOMOS TODOS DEFICIENTES CAPILARES”. PELA FOTO ACHO QUE TAMBÉM VALE PRA VC. ABR E PARABÉNS PELO ARTIGO. NÉLSON ({Publicitário em SP).

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