Um pouco mais sobre a “desindustrialização”

Este é um trabalho da Austin Assis sobre a rentabilidade comparada de vários segmentos da economia. A tabela original ordenava os setores por ordem de rentabilidade sobre o patrimônio usando a mediana de cada um dos setores; esta tabela (que preserva a informação sobre a mediana) ordena pela média.

Como se pode depreender dos dados (imagino que estes também não devam atingir o padrão de qualidade demandado pelos iluminados, mas fazer o quê?), a rentabilidade da indústria* alcançou 15,8% do patrimônio, superior à média da economia (14,2%), enquanto o setor de serviços** alcançou rentabilidade de 13,3%, apesar do desempenho extraordinário das concessionárias de rodovias. Dos nove segmentos industriais, quatro ficaram acima da mediana da economia, quatro abaixo e o restante foi a mediana propriamente dita (madeira e mobilário). Notem, porém, que os quatro segmentos que superaram a mediana representam um PL de quase R$ 161 bilhões, ou seja, mais de 3/4 do PL da indústria como um todo.

Vale dizer, também os números sobre a rentabilidade dos diferentes segmentos da economia não apóiam a visão dos “keynesianos de quermesse” e seus asseclas.

* Setores “industrial”, “siderurgia”, “editorial e gráfico”, “petróleo e gás”, “madeira e mobilário”, “eletro-eletrônica”, “papel e celulose”, “bebidas e fumo”, e “mecânica”
** Setores “administração e concessão de rodovias”, “serviçoes gerais”, “financeiro”, “convênios e serviços médicos”, “serviços de eletricidade” e “comércio”

7 thoughts on “Um pouco mais sobre a “desindustrialização”

  1. Alex,

    Está claro que a doença holandesa é uma grande besteira que alguns economistas, notoriamente da FGV-SP, acreditam. A rentabilidade de uma firma depende de diversas variáveis, e a taxa de câmbio é apenas uma delas. Estrutura de mercado, ritmo de inovação, diferenciação, etc., também determinam a sorte das empresas. O que ocorreu no Brasil foi que a abertura (dita desenfreada) apenas contribuiu para que as firmas se preparassem para os desafios, e as oportunidades do mercado global. O resultado é indiscutível, pois elevamos nossa produtividade e estamos penetrando em mercados que nunca imaginamos iríamos participar (aviação civil é um bom exemplo). Portanto, sugiro que a doença holandesa passe a ser chamada de “Elixir da Abertura Comercial”.
    Abç.
    M.

  2. Alex,

    Eu não tinha visto ainda, mas o homem está com sua coluna na FSP de hoje falando da doença holandesa. Essa teimosia tem jeito? Ou “ele” não acredita nos dados?
    Lembra do “Nakanomics”? Agora temos o “Bressernomics”.
    Abç.
    M.

  3. é impressionante como a realidade sempre supera toda e qualquer teoria… e aí estão as medidas que o governo que você defende (com unhas e dentes, aliás) está sendo obrigado a tomar para “proteger” o câmbio.

    e você ainda está querendo mostrar que tudo não passa de teoria.

  4. No planeta que você mora falam português?

    Acabei de mostrar dados que confirmam que esta historinha de “doença holandesa” só pode vir de quem consumiu muito do que se vende em Amsterdam.

    A conclusão óbvia é que as medidas do governo “para proteger o câmbio” são uma bobagem (o IOF, na verdade; o fim da cobertura cambial e a isenção dos exportadores são boas medidas, mas não farão o câmbio depreciar).

    E quem sabe ler há de ter certamente notado que eu não defendo este governo (e, diga-se de passagem, nenhum outro).

    Só me resta recomendar um curso de interpretação de texto antes que você se aventure na “análise” econômica. É pré-requisito.

  5. Alexandre,

    Ao que me parece, esse desintendimento com relação ao assunto ocorre por um simples motivo: a definição de (des)industrialização não é a mesma para diferentes correntes — e/ou diferentes linhas de pensamento.

    Confesso não saber qual é a definição usada pelo Pochmann.

    Talvez o conceito — vamos deixar bem claro que estou levantando uma possível interpretação e não que eu acredite nela — usado seja algo um pouco mais próximo à uma idéia de industrialização “estrutural”, no sentido de validar uma interação sustentável — e saudável — (e de longo prazo) entre os setores da economia.

    Só para registrar, não boto fé no câmbio fixo como instrumento de política econômica saudável à economia. E também sou desfavorável ao tamanho atual da máquina estatal.

    Enfim, talvez a solução para a discussão toda envolvendo o assunto da (des)industrialização esteja mais enraizada, impossibilitando um diálogo entre as partes.

    Alexandre, apesar de nem sempre concordar com pontos levantados por você, acho as discussões muito bem elaboradas, interessantes e, porque não dizer, a melhor parte decorre, sem dúvida alguma, dos deboches (deixa mais “leve” a discussão)!

    Abs,
    Guilherme

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