Especial: A imprensa luta para eleger Bolsonaro. Por Carlos Brickmann

A imprensa luta para eleger Bolsonaro

Carlos Brickmann

A saída é simples (e trabalhosa): informar-se, ter dados atuais sobre os maiores problemas do país, e perguntar quais os planos do candidato para a Previdência, por exemplo; e para o equilíbrio fiscal; para o crescimento da economia…

Roberto Freire era comunista da linha soviética, Aldo Rebelo era comunista da linha chinesa, Antônio Palocci era comunista da linha trotskista, e dizem até que o Partido Comunista já foi comunista. Foram, mudaram; a ninguém ocorreria entrevistá-los hoje com base apenas em suas posições do passado.

… Este colunista já trabalhou em diversas eleições, variando de entidades de classe à Presidência da República – e, entre seus candidatos, apenas um foi derrotado. Um dos trabalhos básicos da assessoria de imprensa é estudar os pontos que possam ser explorados em debates ou entrevistas…

Mas é o que boa parte dos repórteres faz com Jair Bolsonaro. Pode ter mudado de opinião, em contato com pessoas bem preparadas como Paulo Guedes; pode ter mudado de opinião para se colocar melhor na disputa presidencial, convencido de que boa parte dos eleitores é conservadora nos costumes e liberal na economia; pode estar fingindo para, na primeira oportunidade, retomar as velhas teses. De qualquer forma, perguntas sobre ódio a homossexuais, desprezo pela capacidade das mulheres, virtudes dos militares que implantaram e mantiveram a ditadura, são inúteis: não é nesse ponto que alguém irá conseguir derrubá-lo (aliás, a função do repórter não é derrubá-lo, apenas, eventualmente, permitir que ele próprio se derrube).

Este colunista já trabalhou em diversas eleições, variando de entidades de classe à Presidência da República – e, entre seus candidatos, apenas um foi derrotado. Um dos trabalhos básicos da assessoria de imprensa é estudar os pontos que possam ser explorados em debates ou entrevistas, e deixar as respostas preparadas. Outro trabalho básico é, preparadas as respostas (que não podem ser mentirosas, já que seriam desmoralizadas em seguida), fazer entrevistas e debates simulados. Normalmente, tanto os debates quanto as entrevistas são gravados, para que o candidato, seus conselheiros próximos, os advogados e os assessores possam analisá-los e fazer correções.

E ele vai faturando prestígio. Não se iluda: a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional foi 7×1 para ele.

A saída é simples (e trabalhosa): informar-se, ter dados atuais sobre os maiores problemas do país, e perguntar quais os planos do candidato para a Previdência, por exemplo; e para o equilíbrio fiscal; para o crescimento da economia. Se for o caso, mostrar que as soluções sugeridas são inviáveis, ora por problemas aritméticos, ora pela oposição da população. Privatizar como, se as pesquisas mostram que 70% são contra? E as relações com os 35 partidos (se é que são hoje apenas 35), geralmente ávidos por nacos de poder com os quais consigam faturar algum e empregar mais alguns?

É por aí. Se insistirem em dizer que Bolsonaro é racista e não tem apreço pelas mulheres, aparecerá uma simpática dona de casa negra abraçada com ele; quando o acusarem de homofobia, haverá homossexuais para abraçá-lo e garantir que ele é amigo dos veados – desculpe, em nosso Português de hoje em dia, “gay friendly”. Quanto mais se basearem em besteiras que ele falou no passado (e, cá entre nós, a Globo acusá-lo de ser favorável à ditadura militar, justo a rede do dr. Roberto Marinho, é de doer), mais levantarão a bola para Bolsonaro chutar.

E ele vai faturando prestígio. Não se iluda: a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional foi 7×1 para ele.

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Carlos Brickmann

Carlos BrickmannJornalista e diretor do site Chumbo Gordo; um dos fundadores do Jornal da Tarde, ex-repórter especial e editor da Folha de S. Paulo e ex-editor-chefe da Folha da Tarde. Especialista em gerenciamento de crises e em marketing político, tendo participado de várias campanhas vitoriosas.

2 thoughts on “Especial: A imprensa luta para eleger Bolsonaro. Por Carlos Brickmann

  1. Reza uma lenda…

    Um pouco acima e sua maior parte abaixo da linha do Equador, existiu um grande e rico estado-nação predestinado a um futuro brilhante e verdadeiro celeiro do mundo. Tinha um sistema de governo considerado quase perfeito, se não fosse algumas falhazinhas que, em poucas décadas, foram se transformando em falhas gritantes e nefastas, ao ponto de interromper aquela respeitável trajetória. Aconteceu o que seria inimaginável para aquele alegre, desarmado e descontraído povo: a eclosão de crises políticas, econômicas e sociais.

    Segundo historiadores e cientistas econômicos, sociais e políticos, inicialmente essas falhas envolvendo os Três Poderes desse estado-nação foram mais visíveis no Legislativo, onde os legisladores produziam leis em profusão e com brechas intencionais prevendo-se futuras necessidades pessoais deles próprios, além de comparsas e clientes com interesses em grandes projetos de infraestrutura e uma vasta gama de negócios público-privados.

    O Executivo movido por interesses de eleitos e indicados, de partidos políticos e grupos entranhados na máquina pública, entrou em declínio e incapaz de governar efetivamente aquele quase continental estado-nação. Em consequência, esse Poder Executivo acabou se tornando refém dos legisladores e de decisões judiciais provocadas por opositores e oportunistas.

    O Povo, dependente das ações dos Três Poderes: a sofrida missão de ser a eterna vítima das crises produzidas e resultantes desde a incompetência, passando por interesses inconfessáveis e até de ações criminosas daqueles que deveriam se esmerar na governabilidade e exemplos éticos e morais.

    O Judiciário sendo contaminado por consciências maleáveis e disponíveis, incrivelmente habilidosas em interpretar as leis exatamente em conformidade com as circunstâncias e prioridades, e sempre dispostas a dar atenção especial aos carentes por justiça célere, incluindo-se entre esses carentes personalidades da política e empreendedores público-privados, alvos constantes de “injustiças perpetradas por funções da própria justiça e, principalmente, por opositores políticos e concorrentes de grandes negócios” – logicamente, de acordo com habilidosos defensores contratados a peso de ouro.

    Reza ainda essa lenda, que no decorrer de poucas décadas esse estado-nação definhou ao ponto que até o seu nome caiu totalmente no esquecimento, pois todos os registros foram criminosamente queimados em uma grande ação de obstrução da Justiça.

    AHT
    29/08/2018

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    PS: O nome desse estado-nação não seria Brazilzuela? Ou seria, Venezil?
    .

  2. Errata:
    No terceiro parágrafo, atualizado para: “O Executivo movido por interesses de eleitos e indicados por 51 partidos políticos e grupos entranhados na máquina pública, entrou em declínio e incapaz de governar efetivamente aquele quase continental estado-nação.

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