O Itamaraty, o Barão e Dom Sebastião, por Maria Helena RR de Sousa

O Itamaraty, o Barão e Dom Sebastião

Maria Helena RR de Sousa

Minha perplexidade advém do fato do Ministro Ernesto Araújo pedir que a diplomacia brasileira “perca o temor de se manter conectada com o povo”. Tudo bem, ministro, mas será que seu discurso, que precisa de um glossário para ser compreendido, vai ajudar a conexão do Itamaraty com o Povo? O senhor acredita nisso? 


(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT,
   VEJA ONLINE, 4 DE JANEIRO DE 2019)

Perplexidade é a melhor palavra para definir o que senti ao ler o discurso do embaixador Ernesto Araújo por ocasião de sua posse como Ministro das Relações Exteriores do Brasil, anteontem, 2 de janeiro.

Se bem entendi, num discurso de difícil compreensão, o novo chanceler advoga que os diplomatas devem deixar de se achar acima da população e voltar a ser povo.

Fiquei impressionada com isso. Nunca achei que os diplomatas de peso, os grandes, se sentissem acima do povo. Pelo menos não os inteligentes. Não os verdadeiramente cultos. Já os pedantes, bem, esses não têm jeito. Esses se acham acima dos mortais, de qualquer modo.

Também estranhei a ênfase dada ao mote do nosso grande Barão, Ubique Patriae Memor, como se fosse um alerta, pois convivi com muitos diplomatas nos países nos quais morei, por breves temporadas, e testemunhei que todos  tinham e demonstravam ter, em qualquer ocasião, um incensado amor pelo Brasil.

Minha perplexidade advém do fato do Ministro Ernesto Araújo pedir que a diplomacia brasileira “perca o temor de se manter conectada com o povo”. Tudo bem, ministro, mas será que seu discurso, que precisa de um glossário para ser compreendido, vai ajudar a conexão do Itamaraty com o Povo? O senhor acredita nisso?

Outra coisa que me impressionou. Ao sugerir leituras, o Ministro disse, entre outras sugestões, que é melhor ler José de Alencar que o New York Times, melhor Clarice Lispector que a Foreign Affairs. Desculpe, mas isso é, em bom português, comparar alhos com bugalhos.

Sinceramente, acho que Ernesto Araújo, jovem ainda,  e recém promovido a Ministro de 1ª classe, está apaixonado por sua carreira, e por si mesmo, e fez aquilo que condena nos outros: ficou se olhando no espelho durante muito tempo.

O que é natural. Esse é um governo que vai nos trazer muitas surpresas, entre elas ver muita gente sem experiência alguma na vida pública, cometer muitas falhas.

Querem um exemplo? A senhora Michelle Bolsonaro, bonita e elegante, estava perfeitamente bem vestida quando falou em Libras lá no Parlatório. Já no coquetel no Palácio do Itamaraty, por falta de uma orientação do Cerimonial, vestia um vestido de baile, lindo, em renda preta, que seria um sucesso num jantar de gala. Mas num coquetel às 7 da noite? Vejam a foto oficial do evento. Dona Michelle com seu longo e a senhora Ernesto Araújo com um apropriado conjunto, perfeito para o horário e para o tipo de cerimônia. Olhando a foto é difícil acreditar que as duas estivessem na mesma festa…

Encerro com minha alegria pela volta de Dom Sebastião. Com ele certamente o Brasil renascerá, português como nasceu. Para isso valho-me da Mensagem de Fernando Pessoa:

Dom Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza 

Qual a Sorte a não dá. 

Não coube em mim minha certeza; 

Por isso onde o areal está 

Ficou meu ser que houve, não o que há. 

Minha loucura, outros que me a tomem 

Com o que nela ia. 

Sem a loucura que é o homem 

Mais que a besta sadia, 

Cadáver adiado que procria?

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IMAGEM ABERTURA : No coquetel realizado no Palácio do Itamaraty, em 1º de janeiro de 2019

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

 

4 thoughts on “O Itamaraty, o Barão e Dom Sebastião, por Maria Helena RR de Sousa

  1. Correção: na pressa de entregar meu texto, não fiz revisão e lá seguiu o erro: Ernesto Araújo foi promovido a ministro de 1ª classe. Pode assumir uma Embaixada. Mas assumiu foi um ministério!

    1. Certíssima a articulista! No país da jabuticaba se esquece – ou não se sabe- que o título “embaixador ” só pode ser usado quando o diplomata tiver exercido a chefia de um posto no Exterior. Até como ministro de 2a. Classe ( no mínimo!)poderá manter o título após SAIR do posto , ainda que não promovido a Ministro de 1a. Classe. Outros, como Conselheiro, por exemplo podem exercer a chefia do posto como comissionados, o que atrai a expressão ” encarregado de negócios ” é não embaixador. É assim que funciona! Pelo menos, até hoje!

  2. EXcelente comentário. Também não compreendi o discurso do novo ministro, teremos que ter dicionário de tupi-guarani? Realmente o vestido longo da primeira dama estava m ais para um baile, porém isso será esquecido pela elegãncia do primeiro. Já a senhora do vice deveria ser melhor
    orientada na escolha da cor e do tamanho de seu vestido .Coisas da brasilidade…..ah! esas mulheres!

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