A hora é de luta. Por Edmilson Siqueira

A HORA É DE LUTA

EDMILSON SIQUEIRA

… diante de um cenário onde ululam criminosos soltos – e fazendo leis – a Justiça que quer honrar seu nome se vê impotente ao exercer seu ofício, pois corre sempre o sério risco de ver seu trabalho, na instância seguinte, ser jogado no lixo, com o criminoso se livrando das penas em pouquíssimo tempo, ou mesmo nem chegando a “tomar café na canequinha”…

Os vazamentos dos diálogos entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato e entre esses e o ex-juiz Sergio Moro vão causar enormes ruídos em todo o processo que se viveu até aqui. A oposição, comandada pelo PT, vai querer provar, descaradamente, pinçando frases aqui e ali, todas as suas teses de processo meramente político, de falta de isenção, de parcialidade e outras tentativas – infrutíferas, diga-se, até aqui – de melar os processos e as condenações. Para se ter uma ideia da guerrilha que se avizinha, o único governador eleito pelo PCdoB, já nesta segunda-feira, está pedindo o afastamento do ministro Sergio Moro, consubstanciando o que parece ser o sonho maior de todos os corruptos do Brasil.

Em outro artigo aqui neste espaço, escrevi que as leis brasileiras, na sua grande maioria e, principalmente, as de cunho penal, foram produzidas pelos próprios bandidos que cometiam os crimes todos. O emaranhado legal que tantos recursos oferece, tem também o propósito explícito de dificultar investigações, de favorecer o acusado e, quando não há mais saída para a condenação, de protelar, ad infinitum, a decisão judicial final.

Então, quando finalmente não cabe mais recurso, surgem inúmeras outras tentativas de tirar o réu da cadeia, baseadas em inacreditáveis argumentos, todos eles aceitos pela nossa legislação e dependentes, muitas, de uma decisão monocrática, ou seja, de apenas um juiz, para que todo o enorme trabalho anterior de policiais da PF, de procuradores e de juízes das instâncias inferiores vá por água abaixo.

… a Justiça não tem outro caminho senão tentar comprovar os notórios crimes de todas as formas possíveis para que não reste saída – e elas são muitas – para a não punição dos culpados.

A lei alcançar Maluf já doente e no fim da vida, depois de usufruir da roubalheira toda que praticou, é um dos notórios exemplos. Renan Calheiros, rei dos processos, por exemplo, a lei não consegue pegar e ele continua estendendo seu poder, se elegendo e elegendo o filho para governar seu pequeno império estadual. José Dirceu, o notório comandante do Mensalão e participante ativo do Petrolão, eminência parda do petismo e da corrupção, só está encarcerado porque não havia outra saída, depois de passar enorme tempo livre, leve e solto, conspirando contra a República (ele quer uma ditadura, claro) e gozando de uma liberdade comprada com nosso dinheiro.

Há centenas (milhares, talvez) de outros exemplos, pois o Brasil é pródigo em exercer diferente justiça para os que têm dinheiro e poder.

Pois então, diante de um cenário onde ululam criminosos soltos – e fazendo leis – a Justiça que quer honrar seu nome se vê impotente ao exercer seu ofício, pois corre sempre o sério risco de ver seu trabalho, na instância seguinte, ser jogado no lixo, com o criminoso se livrando das penas em pouquíssimo tempo, ou mesmo nem chegando a “tomar café na canequinha”, como dizia um radialista de Campinas ao se referir ao dia seguinte dos bandidos comuns presos pela polícia.

Diante dessas dificuldades todas criadas pelos “legisladores” brasileiros, a Justiça não tem outro caminho senão tentar comprovar os notórios crimes de todas as formas possíveis para que não reste saída – e elas são muitas – para a não punição dos culpados.

E tem mais: querer prender os criminosos brasileiros de colarinho branco apenas usando o que a leis lhes dá, se torna missão impossível. É preciso, sim, ir além, esbarrando na ilegalidade, forçando a barra ao máximo, interpretando leis sempre contra o crime e não a favor, buscando confissões e acordos de delação premiada no limite da pressão legal, caso contrário o caso se torna, perante as leis brasileiras e na esperteza de advogados que se especializaram em defesas desse tipo e são milionários por isso (com nosso dinheiro, diga-se) um processo frágil, facilmente contestável na instância seguinte.

Os selecionados vazamentos de conversas que tomamos conhecimento até aqui, apenas demonstram a preocupação de homens honrados tentando prender bandidos de colarinho branco. Mas, claro, neles se verá, pelos milionários advogados e pela classe corrupta política, “robustas provas” de que todos os processos da Lava Jato não passaram de farsa para tirar do poder um grupo que só queria o bem do país.

É o que temos de enfrentar daqui pra frente: um bombardeiro contra a força-tarefa da Lava Jato e contra o ex-juiz Sergio Moro.

Um país que deveria estar agradecendo a esses homens por romperem a muralha de aço que separava o crime de corrupção da punição, terá agora boa parte de sua população e da imprensa, justamente atacando esses homens e fazendo coro à bandidagem que dominou esse país por mais de quinhentos anos e quer, a todo custo, voltar ao poder. Caberá a nós, pessoas de bem, muito mais que às forças e instituições democráticas e sérias, tentar impedir essa volta da farra da corrupção que tanto desgraçou o Brasil.

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Edmilson Siqueira é jornalista

 

 

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