Degradante espetáculo. Por Edmilson Siqueira

DEGRADANTE ESPETÁCULO

EDMILSON SIQUEIRA

… todos os corruptos do Brasil, tanto os que ainda gozam de liberdade, respondendo a processos ou não, quanto outros que nem foram citados ainda, mas sabem o que fizeram, estão com as barbas de molho…

Passados os primeiros anos da Lava Jato, com as devidas acomodações – Lula preso, empresários presos, outros em prisão domiciliar, delações premiadas correndo – a classe política já deve ter traçado um panorama das possibilidades de alcance das investigações. Baseada no que já foi feito até agora, não fica difícil para ela prever até onde os meninos de Curitiba podem chegar. Exposto esse cenário e avaliado a força que essa nova forma de fazer justiça contra corruptos possui, também fica fácil saber quem é que pode ser acordado às seis da manhã, com alguns homens bem armados e vestidos de preto à porta.

E, claro, todos os corruptos do Brasil, tanto os que ainda gozam de liberdade, respondendo a processos ou não, quanto outros que nem foram citados ainda, mas sabem o que fizeram, estão com as barbas de molho. E, unidos que são, trataram, com certeza, de planejar algo que pudesse lhes garantir, senão a total impunidade, ao menos o máximo possível de retardamento das operações para, quem sabe, a lei só alcançá-los já à beira da morte, doentes, inválidos, inimputáveis ou, melhor, muito melhor, com os crimes todos prescritos.

Assim, dado ao sucesso da Lava Jato e a popularidade de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e companhia, os corruptos unidos do Brasil procuraram um caminho para atingir os heróis brasileiros não na conduta dos processos, mas nas condutas pessoais. Mesmo porque, desde o início dos processos todos, o PT, que bancou a maior corrupção da história da humanidade, vem atacando a raiz da investigação para tentar anular tudo.

Assim, já disseminaram pelo país fartos ataques a Dallagnol e Moro que, embora em nada resultassem de prático, porque todos falsos, inventados pela desonesta esquerda que, na falta de argumentos que inocentassem seus réus, tenta, como na piada do português, jogar fora o sofá, deixaram um caminho aberto para novas calúnias.

O próximo passo foi simples: como a conduta pública dos agentes não apresentasse nada que pudesse comprometê-los, o negócio seria imiscuir na vida privada deles, nas conversas nas redes sociais pra tentar tirar dali o erro que conspurcasse todo o processo.

… O que se viu então foi a invasão de celulares de autoridades brasileiras e a exposição, a conta-gotas para criar um cenário melhor ainda de acusações…

A primeira consequência seria soltar Lula – afinal, o godfather tupiniquim mereceria a honra por ter tornado muitos deles milionários à custa do erário – e, na esteira da farra da impunidade explícita, dezenas, centenas, talvez milhares de outros corruptos se veriam livres das acusações todas.

A nódoa de origem faria com que os processos começassem novamente, o que seria, pelo menos no Brasil, o mesmo que decretar a inocência de todos, apesar das toneladas de provas. O STF, pelo menos boa parte dele, talvez a maioria, referendaria tudo, pois talvez estivem livrando também a própria cara.

Conseguir um hacker na esquerda brasileira é a coisa mais fácil do mundo: o PT os reuniu sob seu manto e os bancou por vários anos. E no Brasil estava ainda um pseudojornalista militante da esquerda, canalha o suficiente para bancar a mutretagem toda e, melhor ainda, norte-americano. Juntou-se a fome e a vontade de comer. O resto, o dinheiro farto da corrupção deve ter bancado facilmente.

O que se viu então foi a invasão de celulares de autoridades brasileiras e a exposição, a conta-gotas para criar um cenário melhor ainda de acusações, de diálogos entre procuradores da Lava Jato e juízes durante os processos todos que culminaram com as prisões iniciais e, principalmente, a de Lula.

Mas, pelo jeito, a turma da corrupção, o pessoal da mutretagem e o gringo Verdevaldo não contavam com um grave problema: os diálogos, mesmo que tenham sido adulterados – e a possibilidade é grande, afinal a turma está cheia de profissionais do ramo – não conseguem revelar um crime que seja para que se tente anular um processinho que seja.

Então, o negócio foi apelar para leitura interpretativa ou algo que o valha. Isso me fez lembrar um fato: na década de 1970 do século passado, o semanário Pasquim, histórico gozador da ditadura militar, costumava publicar um slogan por semana, bem abaixo do nome do jornal. Um dia tascaram lá: “Pasquim, um jornal que vale por dois, pois em cada linha o leitor encontrará uma entrelinha”. A ótima piada expunha um modo de escrever por parábolas, com uso de metáforas, duplo significado, dizendo, mas não dizendo o que se queria dizer, tudo para fugir da feroz censura da ditadura.

Pois os diálogos “vazados”, como se tem visto até agora, devem ser lidos não em suas linhas, mas em suas entrelinhas. E como as entrelinhas são invisíveis aos olhos dos mortais, cada um coloca o que quiser ali. E a camarilha que está promovendo essa sujeirada toda, lê cada palavra exposta como uma espada enterrada no coração da Lava Jato.

E não importa que qualquer jornalista sério deste país, com alguns minutos de pesquisa, desmonte a acusação saída da entrelinha interpretada pelo gringo canalha ou por seus cupinchas todos: há uma legião de gente instruída, talvez cega pela ideologia ou pela grana que ganha apoiando corruptos, que concorda com o que as interpretações.

A conclusão é triste: eu que já vivi para ver uma ditadura militar inteira e vários governos altamente corruptos, sou obrigado a assistir, ao me aproximar da quadra final da vida, ao mais degradante espetáculo já vivido por nossa política: criminosos pautando a política, mandando em tradicionais órgãos da imprensa e gozando na cara de brasileiros honestos. Tudo para defender a maior quadrilha que já operou de dentro de um governo e para livrar a cara dos criminosos que ainda não foram alcançados pelo braço da lei.

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Edmilson Siqueira-  é jornalista

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