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Violência contra os Idosos – III – Solidão. Por Meraldo Zisman

VIOLÊNCIA CONTRA OS IDOSOS – III

– SOLIDÃO –

MERALDO ZISMAN

A chegada à terceira idade sempre foi um fator de risco e apresenta, em registros históricos, uma tendência maior ao desalento e ao suicídio. Para cada quatro adolescentes que decidem tirar a própria vida, 200 idosos fazem o mesmo…

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Não é à toa: evitar o isolamento é um dos fatores considerados cruciais para viver bem a terceira idade. É a chave para uma vida não só longa, mas saudável e feliz. “É sabido que pessoas com vínculos envelhecem melhor e com maior vitalidade”

A solidão como agente do suicídio e a facilidade do acesso a meios letais são fatores importantes para o aumento de mortes, ferimentos, adoecimentos, quase todos auto infringidos pelo punir-se ou impor castigo a você mesmo, na maioria das vezes encobertos ou rotulados como acidentes. É o que encontro, frequentemente, quando atendo pessoas idosas.

É fundamental compreendermos que envelhecer não é inerente apenas aos idosos, o envelhecimento é uma constituinte de todos os seres vivos, sendo um processo irreversível, inscrito no tempo entre o nascimento e a morte.

Países de baixa e média renda respondem por quase 75% das cerca de 800 mil mortes anuais por suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (Genebra, 2014).

A chegada à terceira idade sempre foi um fator de risco e apresenta, em registros históricos, uma tendência maior ao desalento e ao suicídio. Para cada quatro adolescentes que decidem tirar a própria vida, 200 idosos fazem o mesmo…

Crises econômicas podem agravar o quadro de desalento, mas não respondem sozinhas pela elevação do número de suicídios. Embora a crise econômica seja fator de risco reconhecido pelos órgãos internacionais de saúde, ela não responde sozinha pelo aumento no índice de suicídios nem de lesões auto infringidas ou de tentativas de autoextermínio. A maioria dos brasileiros está enfrentando a atual crise econômica, sob pressão social e mental, e está sobrevivendo. Portanto, não é a crise um fator isolado da ampliação da ocorrência de suicídios.

Vivemos uma era de fácil acesso aos meios letais, isso sim tem mais a ver como esse aumento. Ter acesso a um meio letal, armas de fogo, armas brancas ou drogas, é fator altíssimo de risco, tanto que médicos, policiais militares e membros das forças armadas são os profissionais mais expostos a esse risco. É preciso reduzir o acesso às armas e às drogas e oferecer tratamento psicológico e psiquiátrico aos que sofrem com ansiedade e desesperança decorrentes do isolamento causado pelo prolongamento da vida.

Os profissionais da saúde devem agir como pioneiros nesta luta. Pertinente lembrar que os profissionais da saúde devem sempre ter como meta aliviar o sofrimento humano e curar, quando possível

Muito embora a problemática do suicídio interesse a todos, notícias recentes propalam que o contexto suicida é parte das agendas do G20 (Grupo dos 20), grupo constituído por ministros da economia e presidentes de bancos centrais de 19 países com economias mais desenvolvidas do mundo, mais a União Europeia. Criado em 1999, na esteira de várias crises econômicas na década de 1990, o G20 é uma espécie de fórum de cooperação e consulta sobre assuntos financeiros internacionais.

Para se ter ideia da gravidade do problema, um estudo da Universidade de Harvard que acompanhou as mesmas pessoas durante 80 anos apontou no ano passado que os relacionamentos são a chave para uma vida não só longa, mas saudável e feliz. Recente amostragem na cidade de São Paulo indica que os idosos não querem ficar sozinhos, pois 27% dos respondentes imaginam um futuro cercados de uma família grande, curtindo os netos. Além disso, 29% temem a solidão. Não é à toa: evitar o isolamento é um dos fatores considerados cruciais para viver bem a terceira idade e uma das principais razões na prevenção do suicídio nos idosos.

Não sei se Leon Tolstói (1828 —1910) estava certo quando afirmou em seus escritos: “Os felizes são iguais; os infelizes o são cada um à sua maneira” – no romance Anna Karenina, quando escrevia sobre famílias ricas e pobres.

Eu creio que esse conceito pode ser estendido aos idosos que, além de serem parte de uma família, são avôs e avós importantíssimos na educação dos netos, algumas vezes mais importantes do que os próprios genitores. Eles têm mais tempo, mais experiência, e sobretudo a vida ensinou-os a serem menos influenciados pelo consumo, narcisismo deste contemporâneo apressado. Gostaria de lembrar que a tecnologia se tornou tão indispensável à sociedade que seria prudente lembrar que a ciência não é o único caminho para o conhecimento.

Na compreensão da mente e dos sentimentos, a Arte chegou muito antes…

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NÃO DEIXE DE LER TAMBÉM, DO AUTOR:
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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).

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