Aloprados II, A Missão. Por Edmilson Siqueira

ALOPRADOS II, A MISSÃO

EDMILSON SIQUEIRA

…Façamos de conta, então, que eles sabiam que todas aquelas autoridades tinham conta nesse aplicativo. Com o sucesso da missão, o hacker gerente do grupo, notório estelionatário, de posse de milhares de conversas de autoridades, achou que o Brasil precisava conhecer a verdade sobre esse submundo jurídico que só prejudica o PT.

 

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Num país como o Brasil não se deve jamais pensar que uma ação como aquele em que o próprio então presidente Lula classificou de realizada por “aloprados” (e eram todos do PT), não poderia ser superada. E com requintes de ignorância plena muito mais notórios que a ação eternizada pelo adjetivo presidencial.

Pois se os antigos “aloprados”, na ânsia de perturbar a campanha eleitoral da oposição acusando-a de corrupta a partir de um falsificado relatório de contas ou propinas (estou com preguiça de pesquisar os detalhes) comprado de notórios escroques, fato que culminou com a prisão em flagrante até da mala com dinheiro, os aloprados atuais elevaram em muito os índices de, digamos, “alopramento”.

Vamos partir do princípio que a turma do circuito Araraquara/Ribeirão Preto, os good fellows do interior paulista, descobriu sozinha um modo de invadir contas do aplicativo Telegram, deixando de lado o fato de que poderiam ter sido acionados por alguém interessado nessas contas. Façamos de conta, então, que eles sabiam que todas aquelas autoridades tinham conta nesse aplicativo.

Com o sucesso da missão, o hacker gerente do grupo, notório estelionatário, de posse de milhares de conversas de autoridades, achou que o Brasil precisava conhecer a verdade sobre esse submundo jurídico que só prejudica o PT. E ele, patriota como ninguém, não cobraria nada pelo “serviço à Pátria”.

E, apesar de ter acesso fácil a contas virtuais de altas autoridades, não sabia como encontrar um jornalista que tem um site publicado na rede e que é casado com um deputado federal do PSOL. Para a difícil missão de encontrar Verdevaldo para poder “denunciar” membros do governo que processaram o líder do PT, procurou, então, uma política do PC do B. Tá certo que a esquerda, principalmente quando está no limbo, se une, mas um hacker que, segundo seu advogado, não tem partido político algum, (e que vive de pequenos golpes por aí, como revela sua capivara) fazer essa trajetória com a certeza de que “ninguém larga a mão de ninguém” lá pelas bandas socialistas, já é um tanto quanto duvidoso.

Mas vamos lá. A pcdobista jura que recebeu uma ligação de um estranho dizendo que tinha conversas suspeitas de altos membros do Judiciário. Segundo o depoimento do hacker, ela duvidou e ele, então, mostrou algum conteúdo (essa parte, até agora, ele omitiu nas suas declarações). E, diante da prova, ela passou o telefone do Verdevaldo, para ser o publisher das milhares de conversas roubadas. Não, ela não denunciou que alguém havia criminosamente invadido contas de altas autoridades do governo brasileiro. Ela se lembrou que é também jornalista e que tem o dever de proteger a fonte.

Mas outro aspecto do circo todo me chama atenção: o hacker que invadiu quase mil pessoas (ou foram mais? Tô com preguiça…) só passou a Verdevaldo as conversas da turma da Lava Jato de Curitiba (principalmente) e de alguns outros do Rio que poderiam ter algum fato que anulasse a condenação de Lula? Ou ele passou tudo que tinha e o que vem sendo publicado está sendo devidamente escolhido com esse objetivo? É apenas uma curiosidade minha, pois seria uma delícia conhecer conversas de outros notórios membros da nossa República. Já pensou Toffoli, Gilmar e Lewandowski trocando tertúlias ao cair da tarde?

Aliás, se Verdevaldo está mesmo de posse de muitas outras conversas, deveria publicar tudo. Isso porque, até agora, o que se tem publicado trouxe o mesmo efeito que mijar em incêndio: além de não provocar qualquer arranhão na conduta dos que processaram Lula, são papos que não trazem emoção alguma ao leitor, sem novidades, sem traições, sem novela das oito, se é que me entendem. Assim, o Intercept perde mais leitores do que a Folha e a Veja vêm perdendo por embarcarem na canoa do gringo.

De resto, os depoimentos do hacker subgerente e da hacker secretária, que formam um casal, trouxeram um punhado de afirmações um tanto quanto insustentáveis. A secretária, claro, não sabia de nada. Nem de onde seu companheiro tirava dinheiro para o sustento. A história para justificar os mais de 600 mil que passaram pelas contas deles em alguns dias (justo quando começaram as publicações dos vazamentos) deve ter causado risos ao pessoal da PF. Ela disse que não sabia quanto seu companheiro ganhava com bitcoins, não sabia se ele vendia e comprava carros, mas sabia que ele ganhava cerca de 500 reais em cada trabalho de DJ. E que fazia uns três trabalhos de DJ por mês. O amor é lindo, né?

Mas o suprassumo do surrealismo aconteceu no depoimento do gerente. Perguntado sobre sua ocupação atual, ele respondeu que não trabalha atualmente e que vive de resultados de aplicações financeiras. Perguntado de onde veio o dinheiro para as aplicações financeiras, ele respondeu: “Não sei”. Já pensou? Você abre uma conta de investimento no banco com 5 mil reais, que rende, no mês, 0,5%. E ao invés de, no início do mês seguinte, o saldo ser de 5 mil e 25 reais, é de, digamos, 10 mil. De onde veio essa grana a mais? Não sei, diz o hacker.

Como se vê, o grau de “alopramento” é elevado e vai ser difícil de ser superado. Pensando bem, estamos no Brasil. Acho melhor ter cautela, pois em pouco tempo isso vira uma história ultrapassada por outra tentativa de golpe nas instituições muito mais inacreditável.

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Edmilson Siqueira–  é jornalista

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