Quando nem a vitória resolve. Blog do Mário Marinho

QUANDO NEM A VITÓRIA RESOLVE

BLOG DO MÁRIO MARINHO

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Essa é a situação em que se encontra o Cruzeiro, um dos maiores times de futebol do Brasil nos últimos 50 anos.

Neste fim de semana será disputada a última rodada do Brasileirão e o Cruzeiro, acostumado a frequentar o topo das tabelas de classificação, chega à beira da queda para a Série B.

Está em 17º lugar com campanha absolutamente ridícula: em 37 jogos venceu apenas 7, perdendo 15 e empatando outros 15.

Marcou 27 gols e sofreu 44, com o saldo negativo, portanto, de 17 gols.

Para escapar da queda, o Cruzeiro precisa vencer o forte Palmeiras, no Mineirão, e torcer para que Botafogo vença do Ceará, no Engenhão.

Nenhum dos dois jogos é fácil.

Porém, a missão do Ceará é muito mais provável, pois basta empatar.

Se isso acontecer, o Ceará somará 39 pontos; no caso de vitória no Mineirão, o Cruzeiro também irá a 39 pontos, porém, tem apenas 7 vitórias, contra 10 do Ceará.

Depois da derrota para o Grêmio, nesta quinta-feira, o técnico Adilson Batista, para manter as esperanças de jogadores e torcedores cruzeirenses, disse que milagres existem.

Existem, sim.

Mas é duro um time com a história do Cruzeiro depender do sobrenatural, do inexplicável, da fé que por vezes se transforma em fanatismo.

Historicamente, o Cruzeiro foi sempre o terceiro time das Minas Gerais.

O primeiro era o Atlético, o time do Povão, que enchia estádios e ganhava títulos.

O segundo era o América, time tido como da elite.

O terceiro era o Cruzeiro, time que teve sua origem na colônia italiana – tanto assim, que se chamava Palestra Itália, como o Palmeiras de São Paulo.

Essa história começou a mudar em 1962 com a eleição do empresário Felício Brandi para presidente.

Felício Brandi passou a tomar uma série de atitudes para mudar essa situação.

Começou por levar crianças que moravam e estudavam no Barro Preto, onde estava o seu campo, chamado de estádio Juscelino Kubitschek, para fazer visitas, assistir treinos – enfim, plantando simpatias.

A partir de 1963, as obras do Mineirão ganharam impulso e sua inauguração foi prevista para o segundo semestre de 1965 (foi inaugurado em 09/09/1965).

Antevendo que aquele estádio para cerca de 120 mil torcedores seria um marco no futebol mineiro, Felício Brasil começou a montar um time à altura do estádio.

A primeira grande contratação foi Tostão, que já havia jogado do futsal cruzeirense, e estava no América.

Consta que Felício Brandi chegou atrasado no próprio casamento porque estava cuidado da contratação do jovem e goleador Tostão.

Vieram depois, Wilson Piazza, que estava no Renascença (time de Belo Horizonte); Dirceu Lopes (do Pedro Leopoldo da vizinha cidade de mesmo nome); Zé Carlos, do Tupi da cidade de Juiz de Fora); Ilton Chaves, volante que defendia o América, tão mineiro quanto eu.

Para técnico, buscou Airton Moreira que já havia sido técnico anos antes. Airton Moreira era irmão de Zezé Moreira e de Aimoré Moreira, também técnico, que foi até campeão do mundo pelo Brasil em 1962, na Copa do Chile.

Vieram outros jogadores que fizeram parte daquele time histórico: o goleiro Raul Plasmann; o zagueiro William; o meia Zé Carlos; os pontas Natal e Hilton Oliveira.

Em 1966 eu começava minha carreira de repórter e fui cobrir um treino do Cruzeiro, ainda no acanhado estádio JK.

Deparei-me com o presidente Felício Brandi, identifiquei-me como repórter do Diário da Tarde, e comecei a entrevistá-lo.

Em determinado momento, ele me disse assim:

– Menino, escreve aí: eu vou transformar o Cruzeiro num time famoso do Brasil todo. Ninguém mais vai falar se é Cruzeiro de Minas ou Cruzeiro de Porto Alegre.

Havia em Porto Alegre, além de Grêmio e Internacional, o Cruzeiro.

Fora das Minas Gerais, sempre que a Imprensa noticiava Cruzeiro, explicava se era o mineiro ou o gaúcho.

Ao final daquele ano de 1966, o Cruzeiro enfrentou, no Mineirão, o Santos de Gilmar, Carlos Alberto, Zito, Pelé, Toninho e companhia.

Jogo válido pela Taça Brasil.

O primeiro tempo terminou cm vitória cruzeirense, 5 a 0 para os mineiros. Placar final: 6 a 2. Inimaginável o time de Pelé levando essa goleada.

No jogo de volta, na noite de 07/12/66, chuvosa em São Paulo, o Santos abriu 2 a 0 no primeiro tempo. Tudo levava a crer que haveria um segundo jogo.

No segundo tempo, com gols de Tostão, Dirceu Lopes e Natal, o Cruzeiro virou e conquistou o seu primeiro título brasileiro.

A profecia de Felício Brandi, que a muitos pareceu uma bravata, começava a se tornar realidade.

Os cinco primeiros títulos mineiros disputados no Mineirão tiveram um só vencedor: o Cruzeiro.

E fez-se concreta a profecia: o time do bairro Barro Preto tornou-se nacional.

Pesquisa feita apelo Datafolha no mês de setembro, aponta que a maior torcida de futebol hoje, em Minas, pertence ao Cruzeiro, vindo o Atlético em segundo.

O panorama, no Brasil, mostra o Flamengo em primeiro, com 20% dos torcedores; 2º – Corinthians, 14. O Cruzeiro é o 5º com 4%, enquanto o Galo é o sétimo colocado.

Curioso: a pesquisa aponta que 20% dos brasileiros não torcem para time nenhum – ou seja: os sem time superam a torcida do Mengão.

Enfim, a situação do Cruzeiro é complicada, embaralhada, confusa, triste e terrível.

Talvez o Adilson Batista tenha razão; é bom rezar por um milagre.

Veja os gols de Grêmio 2 x 0 Cruzeiro:

https://youtu.be/JQZYPsYpwUc

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.FOTO SOFIA MARINHO

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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