O suicídio dos jovens no Brasil – II. Por Meraldo Zisman

O SUICÍDIO DOS JOVENS NO BRASIL II.

MERALDO ZISMAN

…O fato é que o suicídio, no grupo etário dos brasileiros entre 15 aos 19 anos, figura como a terceira causa de morte, sendo superado pelos homicídios e acidentes. O fato é que muita gente conhece famílias que viveram, vivem ou temem viver o acontecimento…

‘O suicídio é muito raro nas pessoas idosas e achacadas, e de ordinário acontece com gente moça 
e de meia-idade que goza de saúde vigorosa’. 
Marquês de Maricá (Mariano José Pereira da Fonseca 1773-1848), em Máximas, pensamentos e reflexões.

Não vou iniciar este artigo com números ou estatísticas sobre o aumento de suicídios ou tentativas de auto eliminação dos jovens do Brasil. Que adianta o leitor saber que no ano de 2016, a cada três segundos, uma pessoa tentou se matar e a pouco menos de cada quarenta segundos alguém conseguiu se suicidar? Suicídios e abortamentos são temas amaldiçoados. A diferença é que a interrupção de gestação afasta as pessoas enquanto o suicídio, passado o choque inicial, tende a ser agregador dos familiares com outras famílias enlutadas por motivos idênticos.

O fato é que o suicídio, no grupo etário dos brasileiros entre 15 aos 19 anos, figura como a terceira causa de morte, sendo superado pelos homicídios, acidentes. O fato é que muita gente conhece famílias que viveram, vivem ou temem viver o acontecimento. Bastaria dizer que há grupos de famílias de suicidas que se auto amparam pela internet, criando grupos de autoajuda e consolo. Costumo aconselhar esses grupos a não buscar os motivos ou as causas que levaram à morte do suicida. As razões não são claras e os fatores são os mais diversos. E pouco sabemos dos motivos.

A ocorrência quanto à etnia (cor da pele) é maioria entre jovens índios, negros ou pardos. Nas mulheres os suicídios – que eram mais raros – estão aumentando assustadoramente e, pelo andar da carruagem, a tendência é igualar ou ultrapassar o número de suicídios entre os homens. Os homossexuais pertencem a um dos grupos mais vulneráveis. Alguns estudos relatam que o motivo de as pessoas do sexo masculino se matarem mais que as do sexo feminino é a posse de armas de fogo.

…O recente crescimento de atos suicidas deve ser tomado como um alerta para que se aprofunde estudos sobre a perda desses jovens nesta cultura liquida, que leva à solidão e à insegurança psicossocial. Adianto ser a solidão a principal causa de suicídios.

O incremento está agora composto em sua maioria pelos suicídios anômicos. Recordo, suicídio por anomia é aquele causado por mudanças e inseguranças sociais/financeiras*. A pessoa perde seus objetivos e sua identidade.

No presente momento a insegurança é gerada pelo desemprego, a falta de oportunidade, o endeusamento do consumo, a necessidade da beleza física, o narcisismo, o isolamento fruto da desorganização social e a falta de oportunidade em garantir as necessidades básicas. A atitude nos jovens em produzir selfies e aguardar resposta deixando o outro com quem está – não estando e estando – gera um comportamento de solidão existencial expressa na incapacidade de reagir com o real. Viver no virtual é muito diverso da realidade. Daí porque as palavras pânico, depressão, ansiedade são palavras muito pronunciadas pelos jovens. É bom lembrar que a palavra falada é a alma ou espírito da pessoa.

Tudo isto que escrevi é muito interessante, mesmo evitando os números e as frias estatísticas. O recente crescimento de atos suicidas deve ser tomado como um alerta para que se aprofunde estudos sobre a perda desses jovens nesta cultura liquida, que leva à solidão e à insegurança psicossocial. Adianto ser a solidão a principal causa de suicídios.

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 *Émile Durkheim (1858 – 1917) sociólogo francês autor do livro: “O Suicídio” publicado em 1897.

NÃO DEIXE DE LER: O suicídio dos jovens no Brasil -I- por Meraldo Zisman

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.

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