Coco na veia. Por José Horta Manzano

COCO NA VEIA

JOSÉ HORTA MANZANO

…Tome o título deste artigo. Uma leitura rápida pode até sugerir que estou propondo atirar coquinhos na senhora idosa. Não é isso. Não se deve ler véia, mas vêia. Volta e meia, a história da água de coco na veia (vêia!) ressurge. Até doutor Bolsonaro tocou no assunto esta semana…

coco

As repetidas e forçadas correções de rumo de nossa ortografia oficial trazem efeitos secundários danosos. O maior deles é semear a desorientação entre os que escrevem: a cada parágrafo, uma ou duas palavras nos fazem hesitar. Outro efeito importante é dificultar a leitura. Tome o título deste artigo. Uma leitura rápida pode até sugerir que estou propondo atirar coquinhos na senhora idosa. Não é isso. Não se deve ler véia, mas vêia.

Volta e meia, a história da água de coco na veia (vêia!) ressurge. Até doutor Bolsonaro tocou no assunto esta semana. Na festa que organizou para comemorar os 100 mil mortos de covid-19, valeu-se de uma fábula para justificar o uso de cloroquina no tratamento do coronavírus.

Mencionou um caso ocorrido na Guerra do Pacífico (guerra essa que se supõe ser o conjunto de batalhas travadas na região do Oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial). Segundo o presidente, um soldado precisava de transfusão de sangue. O estoque estava a zero. Na emergência, o médico decidiu ministrar-lhe água de coco por via intravenosa. Segundo o presidente, a injeção foi aplicada e… deu certo! A injeção de água de coco valeu por uma transfusão de sangue!

Nesta altura, os devotos hão de ter vibrado. É notório que doutor Bolsonaro é homem de poucas letras. Estivéssemos no tempo dos almanaques, pode até ser que ele tivesse colhido essa historieta num deles. Dado que desapareceram, pode-se supor que algum assessor lhe tenha soprado a dica. Só que, como diria minha avó, ouviram cantar o galo mas não sabem onde.

A história registra – não só na «Guerra do Pacífico» – raras ocasiões em que a água de coco realmente teria sido injetada no homem. São casos extremos, em que um paciente se encontra em quadro sério de desidratação, complicado pela impossibilidade de reidratação por via oral e coroado pela ausência de soro fisiológico disponível. Em casos assim, para salvar uma vida in extremis, médicos já teriam utilizado água de coco. Mas, se aconteceu, será fato raríssimo.

De saída, é preciso que a cena se passe em terra tropical, aquelas em que cresce esse coqueiro que dá coco. Em segundo lugar, é necessário escolher um fruto verde; aqueles maduros de casca marrom dura não servem. Em terceiro, é indispensável dispor de material esterilizado e certificar-se de que o coco não tem nenhum sinal de rachadura, que é para garantir que o líquido interno não está contaminado pela entrada de ar do exterior.

A água de coco não é idêntica ao plasma sanguíneo. Em compensação, é líquido estéril (sem bactérias e outros germes). Em casos desesperados, pode substituir o soro fisiológico, com o fim de hidratar o paciente. Mas não pode ser usada como tratamento habitual, dado que não contém sódio suficiente para permanecer na circulação sanguínea. Assim, poderia elevar o cálcio e o potássio do organismo a um nível perigoso.

Portanto, se o distinto leitor tiver acesso ao doutor Bolsonaro, solicito-lhe o obséquio de fazer chegar ao Planalto o complemento de informação que está faltando aos ouvidos presidenciais. Em casos excepcionais e desesperados, como último recurso para reidratação de um paciente que, sem isso, periga morrer, uma perfusão intravenosa de água de coco pode prolongar-lhe a existência por algumas horas.

Só que isso não é «transfusão de sangue», presidente!

Água de coco não substitui o sangue. Em hipótese alguma. Em medicina, pode haver remédio bom, remédio mais ou menos ou remédio inútil, mas remédio milagroso não há. Salvo um, cujo nome não vou dizer aqui, que é pra não fazer propaganda indevida.

______________________________________________________________

JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

____________________________________________

2 thoughts on “Coco na veia. Por José Horta Manzano

  1. Como sempre, os “jurnalistas” tentam, tentam e tentam denegrir O ÚNICO PRESIDENTE QUE ESTE PAÍS JÁ VIU! e aqui temos o porquê do completo DESCRÉDITO DA IMPRENSA PERANTE A POPULAÇÃO. Se já não sabem “informar” e passam a “opinar segundo seus viéses”, que credibilidade esperar?

    O fato do coco utilizado como substituto ao plasma sanguíneo é VERDADEIRO e já era de meu conhecimento faz muitos anos e inclusive já vi isso em duas produções americanas que as chamam de “recurso de elementos das Forças Especiais”.
    Conselho: larguem o “paulo freire” (com letras minúsculas) e vão estudar!!
    O PT ACABOU! Aceitem!

    1. Fernando, qual sua idade para OUSAR dizer que esse ser do mal é o “único presidente...”??? E nos manda estudar? Achamos que está sonhando muito com o PT. Cuidado, faz mal pra a digestão e para o cérebro…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter