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O Brasil da carochinha. Por Edmilson Siqueira

O BRASIL DA CAROCHINHA

EDMILSON SIQUEIRA

Só que o Brasil não é para amadores, como dizia Jobim, o gênio da música, não o político, rei do fisiologismo. O agraciado pelo troco mensal, ao encontrar um emprego, pede para não ser registrado em carteira para não perder a boquinha da esmola social. O empregador, diante da possibilidade de pagar menos impostos (que são gigantescos, muito acima do razoável) aceita a mutreta…

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Quem ouviu os discursos do governo nesta manhã de terça-feira e não conhece a realidade brasileira, deve achar que estamos no paraíso. Anúncio de crescimento das esmolas sociais que, como fez Lula, vai mudar de nome pra continuar tendo o mesmo efeito: uma enxurrada de votos dos mais pobres pra garantir a reeleição. Uma reforma administrativa que mantém todos como estão, com todas as regalias de muitos e injustiças a granel. Ou seja, em nome de uma excrescência chamada “direito adquirido”, ela vai gerar efeito mesmo daqui uns dez anos, quando, talvez, grande parte dos atuais servidores estarão aposentados.

Mais uma vez, o governo faz grande pompa para não resolver problema algum. O coronavoucher que vai diminuir pela metade e vigorar até dezembro, adia para 2021 que uma nova legião de desempregados se faça presente, já que o mercado não dá sinais de recuperar tão já pelo menos boa parte dos 14 milhões de postos de trabalho necessários perdidos desde que a desgraça petista escancarou suas garras.

A ampliação do Bolsa Família ou do Renda Brasil, como vai ser chamado para diferenciar do anterior, é a declaração cuspida e escarrada do fracasso das políticas brasileiras de inserção social. Ora, quem recebe essa merreca está saindo da miséria para a pobreza. A entrada nesse novo patamar é pra dar condições mínimas para o desempregado fazer duas ou três parcas refeições por dia e procurar emprego. Então, a lógica diz que, ano a ano, o programa deve ter menos gente, pois os que encontraram emprego com carteira assinada, devem sair dele.

Só que o Brasil não é para amadores, como dizia Jobim, o gênio da música, não o político, rei do fisiologismo. O agraciado pelo troco mensal, ao encontrar um emprego, pede para não ser registrado em carteira para não perder a boquinha da esmola social. O empregador, diante da possibilidade de pagar menos impostos (que são gigantescos, muito acima do razoável) aceita a mutreta. A fiscalização, tanto do empregado quanto do empregador são muito “sensíveis” à questão social. Ao descobrir que o cidadão não está registrado, o fiscal vai na empresa e resolve a questão profissionalmente: uma merreca que lhe molhe a mão e está tudo certo.

Assim, o registo oficial de empregos não cresce, novos beneficiários entram no programa sem que dele saia qualquer um e o programa vai inchando ano a ano, quando, claro, deveria ser ao contrário.

Isso tudo já ocorreu antes e agora se repete com o mesmo propósito: a manutenção do poder concretizada pela reeleição que poderá ocorrer em 2022, como já ocorrera com Lula uma vez e com Dilma por duas vezes. A fórmula é infalível pois explora o que o brasileiro pobre tem de melhor para ser explorado: a pobreza mesma, a ignorância e a fome. Os votos das multidões de pobres espalhadas pelo Brasil, mas concentradas mais no Nordeste e no Norte, garantem larga margem de votos ao sinhozinho que distribui a esmola, margem essa suficiente para cobrir a diferença nos centros mais politizados, ou menos ignorantes. Foi assim: Lula e Dilma perdiam por pouco no Sudeste e no Sul e ganhavam com grandes sobras no Norte e Nordeste.

No Brasil, todo presidente que for eleito, vai ficar por dois mandatos no poder, pois o PT cantou a bola na reeleição de Lula e agora Bolsonaro vai copiá-la. Evidentemente que todo aquele discurso ouvido nesta terça-feira no Palácio do Alvorada, é balela pura. O coronavoucher de 300 reais até o fim do ano segura a popularidade do presidente que depois o substitui pelo Renda Brasil, diminuindo apenas um pouco o valor para que o beneficiado não mude o voto.

carochinha… de enganação em enganação, o Brasil vai percorrendo sua via crucis, com milhões de miseráveis que sobem na escala social e se transformam em pobres e agradecem de joelhos e com votos o governante da hora que lhes prestou tamanho favor…

A reforma administrativa que, parece, vai sair da gaveta presidencial depois de quase um ano parada, será feita de modo a não atingir o atual servidor, garantindo a Bolsonaro o apoio do poderoso lobby dos barnabés todos. Ou seja, o país vai continuar gastando muito mais do que precisa em salários e penduricalhos e só vai diminuir quando grande parte dos atuais servidores morrer ou mudar de emprego (é mais provável que morra antes…).

Os efeitos para a economia serão pífios no curto prazo, mas é importante que todos fiquem satisfeitos em suas repartições. Servidores públicos de escalões médios e altos têm, geralmente, um padrinho no Congresso, mesmo que seja concursado. E seus sindicatos sabem fazer barulho e podem até parar a máquina ou fazer coisa pior, como já vimos, já que o sindicalismo do poder público é protegido com tantas leis e regulamentos que ele pode agir até como marginal que nada lhe acontece.

E assim, de enganação em enganação, o Brasil vai percorrendo sua via crucis, com milhões de miseráveis que sobem na escala social e se transformam em pobres e agradecem de joelhos e com votos o governante da hora que lhes prestou tamanho favor. A máquina pública continua sugando, só com salários, gigantesca parte do que o governo arrecada. Outra boa parte é consumida pelo pagamento da dívida. Para novas obras, tome mais endividamento – e agora com os nova base aliada, claro que novas obras surgirão, pois é disso que os valorosos democratas do Centrão precisam pra engordar seus patrimônios pessoais.

Como disse Fernão Lara Mesquita, o Brasil não vai mudar enquanto os políticos eleitos e nomeados não forem submetidos, sempre, à avaliação popular, dentro de um sistema distrital puro. Se não cumprir o que prometeu ou sair da linha, um escrutínio pode tirá-lo do cargo rapidinho e colocar outro. Simples assim. E funciona.

Só que no Brasil bastou ser eleito ou nomeado por um poderoso qualquer para ser blindado de todas as formas. Aqui, você pode mandar assassinar o próprio cônjuge ou comandar o maior esquema de corrupção que o mundo já viu. Em ambos os casos, as leis, as protelações processuais e os magistrados suspeitos de sempre vão proteger os facínoras ad infinitum.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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