DESMONTE

O desmonte. Por Edmilson Siqueira

O DESMONTE

EDMILSON SIQUEIRA

… Não será de um dia para o outro que ela vai desaparecer. Seu fim, na verdade, começou lentamente, com as chicanas dos advogados de Lula, questionando cada vírgula das sentenças, abusando de todos os recursos que as leis brasileiras oferecem aos bandidos e o PT fazendo enorme campanha contra Moro, embora suas sentenças fossem aprovadas em instâncias superiores…

O fim da Lava Jato não será um fim registrado em cartório. Não será de um dia para o outro que ela vai desaparecer. Seu fim, na verdade, começou lentamente, com as chicanas dos advogados de Lula, questionando cada vírgula das sentenças, abusando de todos os recursos que as leis brasileiras oferecem aos bandidos e o PT fazendo enorme campanha contra Moro, embora suas sentenças fossem aprovadas em instâncias superiores. Parte da imprensa, visivelmente esquerdista, apoiou essa espécie de cruzada a favor do mal enchendo páginas, sites, redes sociais e blogs de artigos prenhes de acusações contra Moro, de defesa de empresas que foram prejudicadas, de uma volta à “normalidade”, publicando até resultados de escutas ilegais que podem ter sido manipuladas, enfim, uma campanha torpe, como a esquerda já se cansou de fazer pelo mundo afora neste e  no século anterior.

Depois a coisa ganhou valiosos aliados quando a Lava jato começou a alcançar emplumados políticos do PSDB. No STF, onde Toffoli e Lewandowski brigavam quase sozinhos  – e desavergonhadamente – para fazer valer a indicação deles para o cargo, ocorreu mudança importante: Gilmar Mendes, cujos discursos anteriores apontavam a corrupção como grande mal para o país, de repente mudou de posição e passou a admitir que a prisão só poderia ser em quarta instância – essa aberração jurídica que só no Brasil encontra abrigo – e a agasalhar teses de defesa de réus condenados por provas cabais e robustas.

Havia ainda uma outra excrescência criada pela esquerda no fim do segundo ano de mandato de Lula, especialmente para proteger os corruptos não só da Lava jato, mas de todo e qualquer processo que o Ministério Público propusesse: o Conselho Nacional de Justiça. Entidade típica de governos autoritários, esse Conselho é composto por membros indicados por várias entidades sujeitas a todo tipo de influência e com enormes poderes sobre toda a Justiça brasileira. Como os honestos são sempre em minoria no Brasil, a composição do CNJ geralmente é eivada de defensores da proteção máxima aos delinquentes, principalmente políticos poderosos.

Assim, com um STF onde os envolvidos em larga corrupção no Brasil ganharam foro privilegiado (no mais amplo sentido possível) e com um CNJ disposto a punir todos os que se atrevam a apontar os dedos acusatórios para seus padrinhos e/ou comparsas, a Lava Jato se viu acuada por gente que tinha e tem o poder de acabar com ela.

No Congresso, o cenário não mudou muito. Ali a Lava Jato nunca teve  tempo bom. Lembram das dez medidas contra a corrupção que foram totalmente desfiguradas e se transformaram em mais um mecanismo de proteção da bandidagem de colarinho branco? Pois é, o cenário continua o mesmo, com a prisão em segunda instância e outros projetos moralizadores dormindo sob as nádegas dos presidentes das casas legislativas. E por ali ficarão, enquanto não houver novo e gigantesco clamor popular pela moralização do país.

E o toque de Midas invertido contra a Lava Jato se deu através do presidente Jair Bolsonaro. Já enrolado com a farta corrupção que ele e sua família praticaram ao longo da vida pública, amealhando salários de dezenas e dezenas de funcionários – fantasmas ou não – de seus gabinetes, o presidente da República, não teve dúvida alguma ao escolher o novo Procurador Geral da República, que é o chefe do Ministério Público, desdenhando olimpicamente a lista tríplice elaborada pela categoria. Escolheu, fora da lista e de qualquer prognóstico, o que lhe prometeu proteção, num formidável desvio de sua função – inclusive atropelando leis e regulamentos. Augusto Aras tem agido assim desde que tomou posse, em total sintonia com os desejos do presidente e em total confronto com o que o Ministério Público tem de melhor.

Já o clamor popular, que poderia mudar alguma coisa no Brasil, se encontra em quarentena nesses tempos de pandemia – neste domingo, 6 de setembro, houve manifestação a favor da Lava Jato em forma de carreatas que, se não foi tímida, não chegou a abalar qualquer estrutura mafiosa nos poderes constituídos do Brasil.

Ou seja, estamos vendo – e de mãos atadas – o fim de uma era de combate à corrupção no Brasil na forma como ela deve ser combatida, sem que seus resultados, que foram enormes,  tenham consequências perenes para o país, pois chamar de gigantesca a corrupção brasileira é simplesmente minimizá-la. As quadrilhas que foram tiradas de circulação estão se organizando novamente e prontas para dar o bote final, agora que seus poderosos chefões encontraram a guarida que queriam no governo Bolsonaro. A aliança com o Centrão é o início da “nova era” do atual poder, onde o compadrio, a nomeação de amigos que são comparsas, a troca franciscana de favores e a divisão do butim vão ocorrer tranquilamente e à vista de todos.

De tudo isso, resta a lembrança dos versos do poeta que, ao descrever uma era de trevas, foi e continua sendo, embora sem essa intenção, profético ao descrever o passado recente e também acertar  no futuro. Aliado de Lula, sua previsão serviu para a corrupção na era petista e, agora, a nova união de todos os canalhas espalhados pelo Executivo, Legislativo e Judiciário brasileiros, deverão levar o país à nova onda das já conhecidas e cantadas “tenebrosas transações” com a “pátria-mãe” dormindo bem distraída sem perceber o quanto será subtraída de suas riquezas.

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Edmilson Siqueira é jornalista

1 thought on “O desmonte. Por Edmilson Siqueira

  1. ARREÉGUA!!!!!
    Não entendi porque falou mal do PROCURADOR GERAL DA PRESIDÊNCIA, que vem exercendo as suas funções com desvelo e galardia; quisera que a REPÚBLICA tivesse PROCURADOR GERAL com o mesmo destemor e determinação.

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