Até tu, tênis? Coluna Mário Marinho

Até tu, tênis?

Embora não seja totalmente uma realidade, o tênis no Brasil é tido como um esporte de classe média alta. Ou até mesmo de classe alta.

Já foi assim, mas hoje, com o número de quadras espalhadas pelo Brasil, a classe média média tem acesso ao tênis.

Claro, não falamos aqui da classe média definida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo do PT que define como classe média quem ganha entre R$ 219,00 e R$ 1.119,00 (http://www.sae.gov.br/imprensa/sae-na-midia/governo-define-que-a-classe-media-tem-renda-entre-r-291-e-r-1-019-cidade-verde-em-24-07-2013/)

No mundo mais avançado que o nosso, tênis é um esporte bem classe média.

Mas a grana que corre, os tenistas vitoriosos, tenistas bonitas, os torneios transmitidos pela TV com imenso glamour, dão charme e importância ao tênis.

Coisa de altíssimo nível, pensamos.

Pois bem, a corrupção chegou lá.

A BBC de Londres revelou que tem documentos com evidências de partidas com resultado combinado mesmo entre os jogadores da elite do tênis.

Segundo a notícia, há uma rede formada por apostadores e atletas de alto nível internacional. Seus nomes não foram divulgados.

De acordo com a BBC, na última década pelo menos 16 jogadores, que estão entre os 50 melhores do mundo, foram ou estão sendo investigados.

É um golpe duro para um esporte de tanto charme, cheio de classe e de dinheiro.

Mais duro ainda que não se trata apenas de cartolas corruptos mas também dentro da quadra, entre atletas.

No futebol de antigamente, havia muitas histórias de jogadores que se vendiam. A expressão usada era: tá na gaveta.

Contam as lendas do futebol paulista que num jogo de segunda divisão, no rico interior paulista, um centroavante invadiu a área e ouviu do goleiro:

– Chuta de qualquer jeito que eu tô na gazeta.

– Não posso, respondeu ele: eu também tô.

São poucos os casos provados de suborno no futebol brasileiro. Em meados da década de 70 a revista Placar mostrou os emaranhados de uma quadrilha que subornava jogadores para garantir os resultados da Loteca.

Daí, inexplicáveis zebras que ocorriam uma ou duas vezes por mês e apenas um “sortudo” acertava os 13 pontos.

A quadrilha foi desbaratada e a Loteria Esportiva entrou em irrecuperável declínio.

Na Itália, em 1980, um escândalo abalou o futebol italiano e ficou conhecido como Totonero 1980.
A descoberta de resultados arranjados acabou rebaixando times como Lazio, Perugia, Bologna e Avellino.

Dezoito jogadores tiveram penas de suspensão que variaram de três a seis anos. Entre eles, Paolo Rossi que depois teve a pena reduzida e fulminou o Brasil na Copa de 1982, na Espanha. Deveria ter ficado preso.

Em 2005 o campeonato brasileiro foi abalado com a denúncia de que o juiz Edilson Pereira de Carvalho, então no quadro da Fifa, manipulou resultados. Onze jogos foram anulados e disputados novamente.

Mas, o grande escândalo, o maior de todos, é internacional e atinge, menos mal, os cartolas. Desde o cartolão Joseph Blatter, então presidente da Fifa, outros cartolas menores, alguns brasileiros, sul-americanos etc. etc.

Digo menos mal, porque ali entre os cartolas o que está acontecendo é roubo, descaradamente roubo. Não atinge o esporte em si.

Se acontece dentro de campo, o caso é outro.

A violência
Na Copa dos Meninos.
Outra vez.

Em 1995, o gramado virou campo de batalha. Resultado: um morto.

Era para ser um final de domingo de festa na pacata Mogi Mirim, cerca de 180 quilômetros da Capital paulista.

O São Paulo iria enfrentar o Rondonópolis (venceu por 4 a 0) nas quartas de final da Copa São Paulo, tradicional disputa que termina no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade, e reúne jogadores de até 20 anos do Brasil e de outros países.

Só que com o ingresso de graça todo mundo quer entrar. O acanhado estádio teve seus oito mil lugares tomados. Parte de uma torcida uniformizada do São Paulo ficou de fora. Os que entraram, se acharam no direito de partir para cima de policiais da Polícia Municipal (em pequeno número) para arrombar o portão e colocar para dentro seus companheiros de vandalismo.

Foram 20 minutos de enfrentamento, de bombas, de pedradas, de crianças chorando, pais e mães fazendo o possível para proteger seus filhos, de gente desesperada, correria.

Só não acabou em tragédia porque sempre vem aos nossos ouvidos aquela frase famosa: Deus é Brasileiro.

É mais do que sabido que com ingresso gratuitos, é quase impossível controlar a portaria.

A Federação Paulista de Futebol sabe disso.

Em 1995, no mês de agosto, a final da Supercopa Júnior, disputada no Pacaembu, transformou o gramado em campo de batalha entre torcedores do Palmeiras e do São Paulo,

Foi uma carnificina.

Daquela vez, Deus deixou que os homens se entendessem.

Resultado: um garoto de 16 anos, Marcio Gasparian da Silva, morto e dezenas de feridos.

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FOTO SOFIA MARINHO
MARIO MARINHO, agora qui no Chumbo Gordo.com.br
  • Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em  livros do setor esportivo
A COLUNA MÁRIO MARINHO É PUBLICADA TODAS AS SEGUNDAS E QUINTAS AQUI NO CHUMBO GORDO

 

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