A jogada ensaiada. Coluna Mário Marinho

COLUNA ATUALIZADA 19/02- 12H37

A jogada ensaiada

Além de sua própria incompetência, o São Paulo foi vitima em sua estreia na Libertadores de uma jogada mortal que pouco se vê no futebol brasileiro de hoje: a jogada ensaiada, treinada ou de laboratório como dizem os espanhóis.

Jogada que deve ter sido treinada à exaustão e funciona como se fosse executada por uma orquestra filarmônica. Veja o vídeo abaixo.

https://youtu.be/0FVNyfGwIak

Os jogadores tricolores foram levados na conversa logo na “reclamação” do cobrador do escanteio, numa legítima manobra de desviar a atenção dos brasileiros. Na rápida sequência, são envolvidos numa trama para a qual não foram chamados a ensaiar.

E daí sai o gol da vitória do The Strongest – time que não é tão forte assim.

A jogada ensaiada é recurso antigo e requer do treinador e dos jogadores criatividade e perseverança.

Lembro-me que nos meus tempos de garoto ou pouco mais que isso, costumava ir ao velho Independência, então o maior estádio de Minas, assistir a jogos do meu América contra o Atlético, então chamado de clássico das multidões, ou contra o Cruzeiro, então terceira força do futebol mineiro; ou mesmo no estádio Otacílio Negrão de Lima, como se chamava a casa do América.

Naquela época, um treinador grandalhão, truculento, exigente, rigoroso e até violento fazia sucesso em Minas: Yustrich. Ele dirigiu os três principais times de Minas, além de ter sido campeão pelo pequeno e hoje falecido Siderúrgica, em 1964.

Por onde passava, Yustrich usava uma arma mortal: a cavadinha.

Era uma jogada bem treinada e que sempre dava resultado.

No ataque, a bola era lançada para o ponta que levava até, mais ou menos, o encontro da linha da grande área com a linha de fundo. Dali, o ponta rolava a bola para trás, na medida para o atacante que acompanhava a jogada, entrava e chutava forte para o gol.

De cada três ou quatro cavadinhas saía um gol. Era um ótimo aproveitamento.

Telê Santana também trabalhava muito as jogadas ensaiadas. Numa entrevista que fiz com ele em 1983, ao lado de Roberto Avallone, para a rádio Eldorado, ele falou sobre isso.

– Se Você tem a bola parada à sua disposição, com tempo para pensar, para organizar a jogada sem afobação, sem ninguém para marcar, para atrapalhar, não pode perder a chance.

O Palmeiras de Telê nos anos 70, time apenas razoável, cansou de fazer gols em cobranças de escanteio. Baroninho, do lado esquerdo, e Jorginho do lado direito, cruzavam na medida para um jogador que se colocava na entrada da pequena área; esse jogador dava um leve toque de cabeça, o suficiente apenas para desviar a bola do zagueiro e colocá-la na medida para o atacante que entrava de frente e marcava.

No jogo contra o The Strongest, o São Paulo cansou de levantar bolas aleatoriamente na área do adversário. Sempre na cabeça do zagueiro. Nenhuma jogada ensaiada.

Nesse jogo, o São Paulo 70% de inútil posse de bola.

Quando o coletivo não dá certo, a saída é a criatividade dos jogadores criativos, craques, capazes de desequilibrar. O Tricolor tem dois deles, pelo menos: Michel Bastos e Ganso. Mas, ambos desapareceram na triste noite Tricolor.

Deserto
de futebol

O Corinthians fez sua estreia ontem na Libertadores vencendo o Cobresal, do Chile, por 1 a 0, em pleno deserto de Atacama, a 2.500 metros de altitude.

Se o entorno do estádio chileno é tomado pelo árido deserto de Atacama, dentro do estádio o deserto foi de futebol.

Foi uma noite esquisita.

Logo aos 12 minutos de jogo, apagão nos refletores do estádio que durou 17 minutos. Mais tarde, aconteceu a fratura no braço do jogador Jonathan Benitez, uma cena chocante, forte que a televisão chilena, geradora das imagens, repetiu à exaustão como se fosse um gol lindo.

E, ao final, o gol da vitória corintiana foi contra.

Está certo que o estádio não ajudou, a altitude atrapalhou e a estreia é sempre um pouco complicada.

Mas foi um jogo muito ruim, com pouca criatividade por parte dos corintianos.

É preciso também dar-se o desconto de um time em formação pelo excelente técnico Tite. Mas, esperava-se um pouco mais.

De todo jeito, o Corinthians foi o único paulista que estreou com vitória.

Veja o gol, numa jogada de Lucca, o melhor corintiano em campo, que o zagueiro empurrou para o próprio gol.

https://youtu.be/Iusba4ZTaos

O bom
empate verde

Levando-se em conta apenas os números, o empate do Palmeiras contra o River uruguaio não foi um mau resultado.

No formato de competição da Libertadores, um ponto fora de casa é sempre bem-vindo.

O palmeirense lamenta que o time esteve duas vezes à frente contra um adversário fraco e não soube manter o resultado. Ou seja: não foi ruim, mas poderia ter sido melhor.

Veja os melhores momentos do jogo e o belíssimo passe de Dudu no primeiro gol.

https://youtu.be/UZubzM97ecE

Galo:
missão cumprida

Ainda sem sua grande contratação do ano, o atacante Robinho, o Galo passou por um susto inicial no Peru, na cidade de Arequipa, quando levou o gol do Melgar, mas logo em seguida tratou de colocar as coisas em seu devido lugar e virou o jogo: 2 a 1.

Veja os gols:

https://youtu.be/XOhsWfPrkr0

O Grêmio
perdeu a grande chance

Mesmo com um jogador a mais desde a metade do primeiro tempo, o time de Roger Machado abusou dos erros, penou com a bola área e perdeu por 2 a 0 para o Toluca, no México, na madrugada desta quinta-feira, na estreia pela Libertadores. O centroavante argentino Enrique Triverio foi o dono da noite, ao marcar os dois gols dos “Diabos Vermelhos”.

Agenda

Nesta segunda-feira, dia 22, o jornalista José Manuel Dressler estará lançando “Almanaque dos Artilheiros”, na no Espaço Scortecci, na rua Deputado Lacerda Franco, 96, Pinheiro, das 17 às 21 horas.Almanaque dos Artilheiros-01-01Um bom livro para quem gosta de futebol.

 

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FOTO SOFIA MARINHO
MARIO MARINHO, agora qui no Chumbo Gordo.com.br

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em  livros do setor esportivo

A COLUNA MÁRIO MARINHO É PUBLICADA TODAS AS SEGUNDAS E QUINTAS AQUI NO CHUMBO GORDO.

… e sempre que tiver alguma novidade

 

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