Pessoa humana, cão, gato, ou anta? Por Josué Machado

Por Josué Machado

… a expressão “pessoa humana” enquadra-se gostosamente na definição de pleonasmo ou redundância viciosa, porque o substantivo “pessoa” já engloba sem lágrimas o significado do adjetivo “humano”.

Cachorro e gato são pessoas? E a nariguda anta? Parece haver divergências. Então, para evitar discussões, o governo federal trocou o nome do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) por Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).

A mudança ocorreu faz algum tempo, mas os governos de São Paulo e de mais alguns estados continuam mantendo organismos com a expressão “pessoa humana” no nome.

Pois é, “pessoa humana”.

Seria bom lembrar que o substantivo feminino “pessoa” refere-se a homem ou mulher. E que, em filosofia, pessoa significa “cada ser humano considerado na sua individualidade física ou espiritual, com atributos como racionalidade, consciência de si, domínio da linguagem, valor moral e capacidade para agir conforme fins determinados e o discernimento de valores”, como a definem os dicionários combinados.

É fácil concluir, portanto, que

Claro que muitas vezes é mais fácil estimar um cão, um gato ou um cágado do que certas “pessoas humanas”, que parecem menos humanas do que eles. Políticos serão pessoas humanas, todos eles?

Algum não político ou não parente de político ou não amigo de político considera político pessoa humana?

Tudo considerado, alguns sábios ponderam mesmo assim que os animais, sendo sencientes, isto é, tendo sensibilidade e consciência, também podem ser classificados como pessoas. Chegam a tal conclusão depois de filigranas mirabolantes formuladas com eruditas palavras de base jurídica emaranhadas. Como fazia Kant, só que com o Kant as coisas faziam sentido.

… Pois naquele tempo, em que nenhum dos políticos atuais, já em ação naquela época, classificava impeachment como golpe, andaram criticando Magri por ter usado carro oficial para levar sua amada cadela ao veterinário.

Claro que grande parte dos animais tem consciência, memória e sensibilidade, mas daí a considerá-los pessoas é coisa para criaturas como Rogério Magri, o antológico (alguns diriam “antAlógico”) ministro do Trabalho do notabilíssimo e probo Collor, ainda por aí. Sim, ainda por aí o finório Collor então afastado por impeachment prestes a se repetir, agora contra Dilma, como sabemos todos.

Pois naquele tempo, em que nenhum dos políticos atuais, já em ação naquela época, classificava impeachment como golpe, andaram criticando Magri por ter usado carro oficial para levar sua amada cadela ao veterinário. E ele explicou:

“A cachorra é um ser humano, e eu não hesitei! ”
Tanto que a levou à Suíça, onde ele — não ela – representava o país em congresso sobre trabalho. Flagrado em passeio com o bicho por lá em hora de reunião, comentou com seriedade:

“Ora, mas cachorro também é gente! ”

Talvez tivesse razão.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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