Sobre amores ou nem tanto. Por Josué Machado

SOBRE AMORES OU NEM TANTO

Josué Machado

 Luizinácio apoiou Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, assim como Luís Carlos Prestes havia apoiado Getúlio para a presidência da República. Por quê?

Muita gente considerou absurdo Luizinácio ter proposto que os petistas e aliados votassem em Rodrigo Maia para a presidência da Câmara.

Afinal, o rechonchudo Maia e seu partido, o DEM, haviam votado na Câmara e votarão no Senado pelo impedimento de Dilma.

E o DEM, de Democratas, provém do ex-PFL, filhote do ex-PDS,  gerado da ex-Arena de Filinto Müller e da gloriosa revolução redentora de 64, ainda festejada com saudade pelo (entre outros luminares) admirável Boçalnato, também conhecido como Bolsonaro. (Convém lembrar que alguns chamam Boçalnato de capadócio.)

Basta lembrar que Luís Carlos Prestes, o pai do comunismo no Brasil, mandara que os comunistas apoiassem Getúlio em sua intenção de se candidatar a presidente em 1945 e votassem nele em 1950…

Mas será de fato absurdo o PT e aliados terem votado em Rodrigo Maia por inspiração de Luizinácio?

Nem tanto.

Basta lembrar que Luís Carlos Prestes, o pai do comunismo no Brasil, mandara que os comunistas apoiassem Getúlio em sua intenção de se candidatar a presidente em 1945 e votassem nele em 1950.

No entanto, Prestes ficara nove anos na prisão. Havia sido preso com sua mulher, a judia alemã Olga Benário, pela polícia política de Getúlio chefiada pelo criativo Filinto Strubing Müller. Era uma polícia de extrema importância, mas Müller, o carrascoso avô do DEM, progrediu com a tomada do poder pelos militares em 1964: foi senador e presidiu o Congresso e a Arena, esteio político da revolução libertadora nas décadas de 60 e 70. Morreu num desastre de avião em 1973.

Durante a ditadura de Getúlio (1930-1945), a polícia de Müller se especializou em extrair confissões de prisioneiros à custa de línguas de fogo de maçarico e beliscões com alicates nas regiões mais sensíveis do corpo. Ele havia aprendido as técnicas da polícia nazista quando se encontrou com Heinrich Himmler, o líder da SS, em visita à Alemanha em 1937.

(Davi Nasser descreveu os métodos de Müller no livro-reportagem: “Falta Alguém em Nuremberg” [Foi em Nuremberg que os aliados julgaram criminosos da segunda guerra mundial em 1945]).

Pois a ditadura de Getúlio havia deportado Olga, grávida de sete meses, para a Alemanha nazista com o apoio de um STF adaptado à ditadura.

Olga morreu no campo de extermínio de Bernburg, Alemanha, em 1942, com 34 anos. Seis anos antes, havia dado à luz Anita na prisão e ficou com ela enquanto a amamentava. Quatorze meses depois a levaram. Mais tarde, foi recuperada por Maria Leocádia, mãe de Prestes. Anita foi a primeira filha de Prestes.

Por que o líder comunista Luís Carlos apoiou Getúlio, responsável com Müller por sua desgraça pessoal? Apoiou Getúlio em 1945 ao sair da prisão anistiado por ele e recomendou que votassem nele em 1950 para presidente.

Coisas da Realpolitik: o que importa mais do que a emoção e as noções ideológicas são as razões práticas, dizem os absolutamente práticos com doses de realismo absoluto.

Tudo pela luta contra o fascismo, justificou-se Prestes.

Tudo contra o Centrão de Cunha, responsável pela derrocada de Dilma e do PT, responderia Luizinácio se lhe perguntassem.

    Se Prestes apoiou seu algoz naqueles tempos, por que Luizinácio não apoiaria os meio inimigos de agora, que nem foram tão inimigos assim durante seu governo, tal a irrelevância deles? Além disso, é preciso notar que Luizinácio talvez nem tenha chegado a amar a amável companheira Dilma com grande paixão, como Prestes amou Olga.

Mas, pelas barbas do profeta, qualquer profeta!, que ninguém veja aki comparações entre Luizinácio e Prestes quanto a intelecto e a convicções ideológicas!

E sem juízos de valor, que isso não fica bem num caso como este.

Apenas lembranças históricas e coincidências pontuais se tanto, diria Michel Miguel Elias Temer Lulia com o dedo em riste ao lado de ministros de passado ofuscante como Wellington Moreira Franco.

________________________________________________________

JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter