Ufa. E agora, José? Por Marli Gonçalves

Ufa. E agora, José?

Marli Gonçalves

 

Não olha para mim que eu também não sei. Confesso que vivi e confesso que não sei. Fui consultar para que lado o vento vai soprar e não consegui qualquer precisão, ainda está tudo virando doido, pra todos os lados, igual biruta de aeroporto, sem direção

O Hino Nacional bastante cantado, bra-bra-brá, todo mundo de verde e amarelo para lá e para cá sem ser por isso chamado de coxinha, batendo no peito e gritando Brasil! Brasil! Certa sensação de Pátria, de dever cumprido e um enorme alívio, como se tivéssemos passado as duas últimas semanas segurando o ar, sem respirar. É isso que o povo não entende por que que aqui deu tanto pano para manga o caso do nadador Pinóquio e seus amigos. Orgulhinho nacional ferido; teria sido muito chato se fosse verdade. Agora é o banzo.

Haverá Engov para tanta ressaca? O Rio de Janeiro vai continuar lindo. As pessoas vão continuar fazendo coraçãozinho com a mão cada vez que virem uma câmera. Mais umas duas semanas de entrevistas e histórias de superação, mordendo a medalha que todo mundo quer pegar, um pouco de descanso, e lá os atletas voltarão para suas dificuldades cotidianas. O país é o Brasil, onde a dificuldade é cotidiana para todos, ou quase todos.

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou…Drummond, como conseguia escrever coisas tão verdadeiras e belas? Que andam vigorosas pelo tempo, mandando pôr os pés no chão depois da euforia, da distração, das novidades de um momento que, pronto, passou para a História. Arquive-se.

Nesse meio tempo, se você andou longe atrás de alguma bolinha, tatame pista, estádio ou assemelhado, pouca coisa diferente aconteceu, como se elas ficassem em suspensão para não dividir o escasso espaço no noticiário. Só o mesmo de sempre. Mulheres mortas por seus (ex) companheiros, empresas de valores e caixas eletrônicos explodidos, acidentes horríveis nas estradas, pavios acesos nas cadeias, o pastor deputado desmascarado, o tempo com uma variação térmica dramática, candidato topetudo americano expelindo sandices, mortes de gente muito legal e outros nem tanto. No dia que a criatura foi divulgar a carta que escrevia há três meses – sacanagem – foi atropelada por um pedido de investigação vindo da Corte Suprema.

Pronto, está atualizado. E o que vem pela frente?

Ah, na política nacional deram passadas largas para definir o futuro da presidente Dilma, afastada, lembra dela? – esperando o julgamento final do Senado, tudo agora para se definir por esses próximos dias. Ela, completamente abandonada, no meio de um turbilhão que se forma no horizonte das delações premiadas e que as primeiras informações dão como devastador em todas as direções. Um pouco mais de um mês para definir as eleições municipais, pobres e estraçalhadas, e que nenhum deles, dos candidatos, tem bem noção do que vai fazer, além do retrato do santinho.

Não há Arca de Noé capaz para salvar esses espécimes fruto de uma cópula entre ideais perdidos e o mundo cruelmente real.

Esse jogo é mata-mata. A oposição que era governo, e que gerou sua própria sina, na verdade a oposição que sobrar porque boa parte já se acomodou de novo na boca do dragão, continua apostando no romantismo, soluçando golpe, segurando cartaz de Fora! Botaram areia movediça no chão do poder.

Não veem que talvez já já pode ser chegada a hora de dar ordens objetivas, mais gerais e compreensivas a todos, palavras de ordem, uma, duas, três ou todas juntas, e que elas venham em maior uníssono mostrando que ainda realmente não estamos contentes.

Lembro-me de uma linda luta que foi assim – Diretas Já!

20160813_143252Marli Gonçalves, jornalista – Dom Quixote adoraria viver entre nós. Teria farta ocupação.
SP, setembro chegando, 2016, contando moedas de aço que não dá nem para morder, nem para engolir.

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