“Terapia Animal Assistida por Corujas: manejo e treinamento” – Uma nova forma para apoio aos autistas

– “Terapia Animal Assistida por Corujas: manejo e treinamento” –

Uma nova forma para apoio aos autistas

Por Mari Aprile Bittencourt

O que podemos fazer? Que animal pode nos ajudar a ajudar nosso filho a superar, por exemplo, a dificuldade de manter contato visual — que o autismo lhe impôs? Então, pensamos nas corujas! Elas têm os olhos dispostos como os nossos e, se nosso filho puder olhar nos olhos dela, certamente olhará para os olhos das pessoas com mais facilidade! Isso sem falar no estímulo para exercícios de coordenação motora…

Publicado em post do Facebook
Desde quando eu e meu marido, Fredy Pallinger, soubemos que o Nick tinha autismo, eu me perguntava como eu poderia ajudá-lo… Assim que suspeitamos sobre a possibilidade dele estar dentro do espectro autista, começamos a vasculhar e estudar tudo o que podia sobre os possíveis tratamentos — encontramos em vários artigos científicos a comprovação da eficácia da terapia animal assistida… tão logo quanto possível, colocamos o Nick na equinoterapia.
Perdi a conta de quantas vezes eu pensei “putz, se eu soubesse, teria terminado a faculdade de musicoterapia, ou teria estudado psicologia, etc. Mas cursei biologia e fiz tudo para poder conhecer o comportamento dos animais ao máximo…porque meu sonho era trabalhar em prol da conservação dos animais, e encontrar uma forma de convivência entre humanos e animais, provar a inteligência deles, e também como eles são muito importantes para nós, seres humanos. Talvez eu devesse ter focado mais em genética, microbiologia, ou outra coisa que pudesse ajudar mais meu filhote…”
Mas há quatro anos, eu e meu marido pensamos juntos: bom, um de nós é um falcoeiro super experiente, outro, biólogo especializado em comportamento animal e estudioso em antrozoologia (ciência que estuda a ligação animal-humano) .
Nico e uma suindara do criadouro Enfalco
O que podemos fazer? Que animal pode nos ajudar a ajudar nosso filho a superar, por exemplo, a dificuldade de manter contato visual — que o autismo lhe impôs? Então, pensamos nas corujas! Elas têm os olhos dispostos como os nossos e, se nosso filho puder olhar nos olhos dela, certamente olhará para os olhos das pessoas com mais facilidade! Isso sem falar no estímulo para exercícios de coordenação motora (dar e tirar nós de falcoaria, por exemplo) entre outras coisas. Digo-lhes que esse momento, foi quando encontrei uma função importante para tudo o que estudei…e meu marido também, pois poderíamos de fato fazer a diferença na vida de uma pessoa: nosso filho.
Assim, nós desenvolvemos uma metodologia de treino com técnicas de falcoaria específica para corujas e terapia animal assistida — metodologia que leva em conta, inclusive, o tipo de desenvolvimento cerebral e de inteligência diferenciados dessas aves. Escrevemos um projeto, apresentamos ao criador comercial credenciado pelo IBAMA (ENFALCO), que nos mandou um filhote de Tyto furcata (coruja suindara). Gandalf, nossa Suindara, chegou para nós há 3 anos, com 15 dias de vida e seu treinamento levou um ano e meio. Como imaginamos, de fato ajudou muito nosso filho e, por isso, decidimos estender o trabalho para outras crianças com o mesmo problema, por meio da interação animal assistida e vivências terapêuticas. Passei a fazer parte da equipe GATI, de Liana Santos como bióloga colaboradora.
Preocupada com a segurança dos atendidos e pacientes — não é porque se trata de coruja, mas se um cão sem ser selecionado quanto à sua índole, temperamento, sem o treinamento adequado, não pode trabalhar como co-terapeuta, o mesmo vale para as corujas — sem o treino adequado, num debater de asas, por exemplo, as garras ferem a pele da pessoa, e pior ainda se isso acontecer nos olhos.
Existem cuidados específicos para as garras, bicos, e treino…muito treino para que a coruja não segure com força seu apoio, seja tolerante a inúmeras situações, etc.
Sim eu peco pelo excesso de cuidados, e tem gente que fica com bronca e me acha “chata” , mas por causa disso, NUNCA nenhuma criança, idoso, pessoa com deficiência, nem o animal , se feriram ou se machucaram nas interações realizadas conosco.
Nicolas, Fredy Pallinger e Momô
No ano passado resolvi registrar nosso trabalho, devido ao fato de ver muita coisa errada, de saber que pessoas se feriram, que corujas se machucaram, e até pessoas que usam espécies não permitidas pela lei. Achei que era hora de colocar um pouco de ordem, e também de explicar a todos, que esse trabalho tem uma história, tem um porquê, e tem pessoas muito capacitadas por trás disso. Esse trabalho é inovador e pioneiro no Brasil, mas no exterior isso já é feito há anos!
Então, nesse ano de 2017 ( embora tenha dado entrada em 2015) finalmente, está aí o registro de nosso trabalho. Só para que os profissionais de terapia não entendam mal, o título completo é: ” Terapia Animal Assistida por Corujas: manejo e treinamento
Treinar corujas, investir em cursos de manejo para finalidades terapêuticas conosco é GARANTIA de segurança para o animal e para as pessoas envolvidas. Por isso, registrei a metodologia de treino e manejo de corujas para T.A.A.para garantir qualidade, segurança e para proteger algo que criamos com tanta dedicação e carinho contra cópias que colocam em risco a integridade de todos os envolvidos: atendidos, pacientes, terapeutas, e o próprio animal.
Pra quem não conhece o trabalho, pode visitar a página do Grupo Suindara. Também fazemos educação ambiental de forma diferenciada, vivências, e auxiliamos na educação inclusiva
Aqui em São Paulo, eu e meu marido damos cursos, palestras, consultoria, treinamos corujas para essa finalidade, e realizo trabalho no Instituto Casa do Sol, além de estar à disposição do Grupo de Abordagens Terapêuticas Integradas (G.A.T.I) de Liana Santos, coordenado por Julia Ramos.
Agora em 2017 fechamos, ainda, parceria com a Samanta Cristina Pacheco , excelente T.O. especialista em autismo e TDAH.
Só pra deixar bem claro, apenas eu e o Fredy meu marido temos a metodologia para esse tipo de treino, uma vez que nós a desenvolvemos — portanto, pessoal, cursos para essa finalidade apenas nós podemos ensinar, no momento. Se você quer uma coruja como PET, ou para educação ambiental, também damos curso e consultoria, embora para isso hajam mais pessoas no mercado e a escolha de profissionais é livre. Agora,  para terapia, não.
Gandalf ; a primeira coruja treinada para trabalhar em terapia animal assistida.
Um lembrete: animais silvestres, sejam corujas ou outros, devem SEMPRE ser adquiridos de criadouro comercial credenciado pelo IBAMA. Se comprar de particular, certifique-se da Nota Fiscal ( e anilha), que devem ter a identificação do animal e do criador e não se esqueça de pedir (em casos de venda particular) o termo de venda ou doação que a pessoa deve lhe fornecer — senão, você não tem provas de que comprou de alguém, ok?
E pra quem não sabe, Gandalf é a primeira coruja no Brasil treinada para trabalhar em terapia animal assistida.
Esse post tem caráter informativo, para que todos saibam que esse trabalho, bem como o Grupo Suindara tem uma história e uma razão de existir.
                             IMAGENS: FACEBOOK DA AUTORA

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Mari Aprile BittencourtMARI APRILE BITTENCOURT – 

Bióloga, estudou Ciências Ambientais no Centro Universitário São Camilo. Bióloga na empresa Animal Legal; Equipe GATI ; Grupo Suindara; Projeto Biophilia

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