INIMIGOS

Inimigos, inimigos, negócios à parte. Coluna Carlos Brickmann

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EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 20 DE JUNHO DE 2021

A política brasileira está mesmo dividida: de um lado, bolsonaristas, que adoram gastar à vontade o dinheiro público; de outro, com lema invertido, lulistas, que adoram gastar o dinheiro público à vontade. Bolsonaro (e seus aliados no Congresso) tentam há tempos furar o teto das despesas públicas. Lula disse agora que, se for eleito, vai revogar o teto de gastos – conhecido como a “regra de ouro”, que desde o Governo Temer segura a inflação.

Só se juntam nisso? Não: os presidentes da Câmara e do Senado foram eleitos por bolsonaristas, com pleno apoio do PT e partidos-penduricalhos que usam outros nomes para parecer que não fazem parte do PT.

Só nisso? Imagine! A reforma da Lei da Improbidade Administrativa, que facilitará em muito a tarefa de privatizar recursos públicos, já tem a garantia de que será sancionada por Bolsonaro (ele diz que é para “desburocratizar” a gestão pública). OK, há quem se refira ao contrabando como “importação desburocratizada”. O relator da reforma da Lei da Improbidade é um lulista, Carlos Zarattini. O PT votou de forma unânime a favor da desburocratização de Bolsonaro. A aprovação na Câmara foi por 408 votos a 67, com apenas uma abstenção. O caro leitor quer algo mais próximo de uma união nacional?

E a rapidez, então! O relatório de Zarattini foi apresentado às 17h10, a urgência foi aprovado às 17h19, em nove minutos. No dia seguinte, a reforma foi aprovada. Se facilita a corrupção, todos dormem com o inimigo.

 O objetivo

O procurador Roberto Livianu, do Instituto Não Aceito Corrupção, afirma que a Lei da Improbidade (essa que está sendo “flexibilizada” – palavra de Bolsonaro) é a mais importante medida anticorrupção em vigor no país. “Não foi urgência para salvar vidas, combater desemprego, Covid, corrupção”. A pressa foi para facilitar a vida de quem gosta de meter a mão no pudim.

 Ele conhece

Por que Lula está tão bravo com o teto de gastos? Ele explica: “A quem interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro? Gasto é quando você investe um dinheiro que não tem retorno. Quando você dá um bilhão para rico é investimento, e quando dá R$ 300 para pobre é gasto?”

As palavras de Lula devem ser pensadas: em seu Governo, empreiteiras, “campeões nacionais” e ditaduras estrangeiras receberam bilhões, chamados de “investimentos”, e os mais pobres receberam a Bolsa-Família, pequena quantia que, no entanto, fazia falta para suas despesas. Gastou-se muito mais com obras em ditaduras estrangeiras, mas Lula acusa os adversários de ser contra a Bolsa Família. Enfim… Bolsonaro gastou com cloroquina e a Bolsa Família que ele prometia melhorar até agora está esperando algum dinheiro.

E, como o próprio presidente lembra, seu Governo já tem quase 900 dias. O Governo Kennedy, que transformou os Estados Unidos, só durou mil dias.

 Noves fora…

Luciano Huck anunciou que não será candidato à Presidência. Mas, cá entre nós, alguém algum dia acreditou que Huck poderia ser candidato? É um bom apresentador de TV, parece ser gente boa, ligou-se a um economista de prestígio, Armínio Fraga, faz cursos, conversa. Mas jamais disputou uma eleição. Até hoje não conseguiu se definir por um partido. Desde que se fala em candidatura, nunca participou de debates. Entrevistas, só depoimentos em que diz o que quer, sem ser contestado. Entregar a economia a Armínio Fraga pode ser uma boa ideia – é o que se dizia de Bolsonaro, que com Paulo Guedes na Economia e Sérgio Moro na Justiça seu governo não poderia falhar.

Em resumo: depois de anos de candidato a candidato, não é candidato.

 …nada

O governador Flávio Dino, do Maranhão, se desligou do PCdoB. Agora não é mais comunista: é socialista. Como Paulo Skaf (o da Fiesp) antes dele, está no PSB. E daí? Daí, nada: se pretende ser candidato à Presidência sem o carimbo de comunista, pode se preparar que para os bolsonaristas quem é adversário só pode ser comunista (e dos piores, que nem tomam cloroquina). Dino realizou a façanha de vencer a família Sarney no Maranhão, mas isso é pouco para que alguém possa rivalizar com Lula e Bolsonaro. Além disso, o PSB, hoje, tende a se aproximar de Lula. E se mudar será por um candidato que tenha chances de unir o centro democrático contra os dois polos que se dizem opostos, mas que precisam um do outro (e se aliam quando convém).

 Caminhão no caminho

Há uma crise prontinha para estourar: os caminhoneiros, que há quatro meses aceitaram as promessas do Governo para não entrar em greve, sabem agora que foram enganados. Algumas promessas: prioridade na vacinação; diesel mais barato (está em R$ 4,20, não caiu um centavo, nem com general no comando da Petrobras), fim dos impostos federais sobre combustível. O Governo zerou os impostos em abril e voltou a cobrá-los em maio.

Já se fala novamente em greve, com apoio de líderes nacionais da categoria.

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5 thoughts on “Inimigos, inimigos, negócios à parte. Coluna Carlos Brickmann

  1. Você está andando pela rua e, de repente, vê um sujeito com um jeitão meio insano, entre a loucura e o transtorno, correndo em sua direção. Não adianta você desviar, ele já mostrou que fixou os olhos em você e te persegue decidido. Alguém por perto diz que ele acabou de escapar de alguma prisão, ou sanatório, ou quartel, ou qualquer coisa parecida, e vai pegar o primeiro que aparecer pela frente. Em que você pensa? O que você, justo você, que é apenas um eleitor, prefere agora? Que o louco seja um ladrão, ou um assassino?

    1. Prezado. Por enquanto, o que sabemos é que o assassino também é ladrão – aliás, sua família de zeros muito ajuda nessa estatística. O ladrão, por ora, ainda não é assassino, mas o futuro a deus pertence…

  2. Enquanto o ladrão e sua sucessora experimentavam viver em palácios e viajavam para confabular no exterior com outros ladrões, foram fechados em torno de 30.000 leitos do SUS.

  3. Vale lembrar, pra finalizar a alegoria, que quem escolhe o ladrão sai do encontro com os bolsos vazios. Quem prefere o assassino, sai num saco do IML. Não, os bandidos não são todos equivalentes ou iguais entre si. É o que garantem a sorte da vítima, por um lado, e o Código Penal, por outro.

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