É cada desculpa… Coluna Mário Marinho

É CADA DESCULPA

COLUNA MÁRIO MARINHO

Vida de treinador é nada fácil.

Ouve a torcida chamá-lo de burro, ouve vaias e, depois e cada derrota, ainda tem que comparecer à entrevista coletiva e explicar aquilo que só tem uma explicação: incompetência. Que tanto pode ser do próprio treinador como dos jogadores. Ou ambos os casos.

Foi assim que após a derrota para o Bahia, na noite dessa quarta-feira, que marcou a 22ª eliminação do São Paulo desde a conquista da Copa Sul-Americana, em 2012, que Cuca compareceu à coletiva para se explicar.

Começou dizendo que não iria culpar ninguém, pela derrota por 1 a 0, mas foi logo culpando. Disse:

“Quando você tem um grupo grande e alguns jogadores vão sair, e sabem que vão sair, mas, isso não acontece de imediato, algumas coisas começam a acontecer. Não são pessoas ruins nem maus jogadores, mas terão que sair…”

Cuca deixa no ar que esses jogadores que vão sair e sabem que vão sair fazem corpo mole em campo e, portanto, são culpados pela derrota.

Ora, realmente isso é tirar o dele da reta e colocar o dos outros.

Por que não dá nomes? Por que já não os afastou se essa não foi a primeira derrota e nem a primeira vez que o Tricolor não joga bulhufas?

A declaração, além de não explicar absolutamente nada, deixa o ambiente, que já é tétrico, ainda pior.

A verdade é que o São Paulo mais uma vez jogou pedrinhas.

Seus dois mais famosos jogadores, Hernanes e Pato, foram figuras decorativas.

E quando um time enfrenta outro de marcação forte, como o caso do Bahia, espera-se que as individualidades prevaleçam. Era o que se esperava dos badalados Hernanes e Pato.

Em vão.

O São Paulo fica entregue agora a apenas e tão somente a disputa do campeonato Brasileiro. Terá tempo, muito tempo, para treinar e buscar soluções.

Haja paciência, torcedor tricolor.

Traíras

& trairagens

O técnico Abel, popular e simpático Abelão, deixou o Flamengo e saiu atirando.

– Fui traído.

Na verdade, o casamento entre Abel e o Mengão jamais chegaria a Bodas de Ouro, como acontece em alguns casamentos mais felizes, já que técnico, dirigentes e torcedores se estranharam desde o princípio.

Abel errou muitas vezes nas escalações e em substituição. Mas, também fora do campo, em entrevistas.

Em duas coletivas, trocou o nome do Flamengo pelo inimigo Fluminense; noutra, qualificou o Beira Rio de estádio mais bonito do Brasil quando o Flamengo tinha acabado de acertar a administração do Maracanã.

Deixou o craque Arrascaeta, contratação mais cara do Flamengo, no banco diversas vezes. Escalou time reserva para o jogo contra o Fortaleza quando o Flamengo tinha tempo de sobra para descansar seus titulares.

Enfim, tropeço em cima de tropeço.

Com Abel ainda no comando do time, o Flamengo entrou em contato com o técnico português Jorge Jesus para contratá-lo.

É trairagem. Sem a menor sombra de dúvida.

Mas, no ano passado, Abel aceitou conversar com o Flamengo que tinha como técnico contratado e trabalhando Dorival Júnior.

Também é trairagem.

Enquanto

Isso, o Mito…

Pois é, na mesma noite em que o Soberano foi eliminado pelo Bahia, seu mais famoso goleiro e Mito da torcida, Rogério Ceni (na foto ao alto), conquistava a Copa do Nordeste para o Fortaleza, ao vencer o Botafogo-PB, em João Pessoa, 1 a 0.

Foi o terceiro título conquistado por Ceni em um ano e meio: campeão brasileiro pela Série B, campeão cearense e agora do Nordeste.

No Brasileirão, o Fortaleza não está assim tão bem.

É apenas o 14º colocado com 7 pontos em 6 jogos disputados. São 2 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.

Campeão

há Cem anos

A Copa América, que vai ser disputada no Brasil no mês vem, aconteceu pela primeira vez em nosso território em 1919, portanto há 100 anos, e se chamava campeonato Sul-Americano.

No dia 29 de maio de 1919, uma quinta-feira, o Brasil venceu o Uruguai, 1 a 0, gol marcado por Friedenreich, na segunda prorrogação, e ficou com o caneco.

No dia seguinte, o Estadão trouxe esta notícia:

“Hontem os brasileiros conquistaram, afinal, pela primeira vez o titulo de campeões de ‘football’ sul-americano.

O jogo terminou às 17 horas e 25 minutos com o seguinte resultado: Brasileiros: 1 ‘goal’; Uruguayos 0.

Na conquista do titulo os brasileiros mostraram possuir melhores qualidades: a) agilidade assombrosa; b) extraordinário poder de reação; c) igual capacidade tanto para o ataque mais impetuoso como para a defesa mais continua e eficiente; d) excepcionais possibilidades de resistência.”

Friedenreich “El Tigre”

Por se tratar de um feito histórico, dou mais informações.

O campeonato Sul-americano deveria ter sido realizado em 1918, mas a forte e trágica epidemia da Gripe Espanhola adiou a competição.

Participaram além do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile.

Para chegar à final, Brasil e Uruguai venceram seus dois adversários e empataram o confronto que fizeram.

Os jogos foram disputados no recém construído estádio do Fluminense, no bairro das Laranjeiras, que tinha a capacidade para 25 mil espectadores, considerada assombrosa para a época e lhe conferia o título de maior estádio da América Latina.

O primeiro jogo, disputado no domingo, dia 25, terminou com glorioso empate: 2 a 2, conquistado após estar perdendo por 2 a 0. Neco marcou os dois gols brasileiros.

Na quinta-feira, com os organizadores prevendo que o jogo poderia ter prorrogação (não havia iluminação), seu início foi marcado para as 14 horas.

Por volta das 9 horas da manhã já havia torcedores nos portões do estádio.

O jogo terminou 0 a 0 e foi para a prorrogação que também terminou em 0 a 0.

Com os dois times no bagaço, segundo descrição do historiador Thomaz Mazzoni, começou a segunda prorrogação.

Pouco antes de terminar o primeiro tempo, o atacante Heitor chuta forte e o goleiro uruguaio Saporiti rebate. A bola vai aos pés do centroavante Friedenreich que, da entrada da área, manda forte para fazer 1 a 0.

Assim termina o confronto épico e o Brasil conquista seu primeiro campeonato sul-americano.

O grande herói Friedenreich é também artilheiro da competição ao lado de Neco, ambos com 4 gols.

Eis o time brasileiro:

Marcos Mendonça (Fluminense), Píndaro (Flamengo), Bianco (Palestra Itália), Sérgio (Paulistano), Amílcar (Corinthians), Fortes (Fluminense), Milton (Santos), Neco (Corinthians), Fried (Paulistano), Heitor (Palestra) e Arnaldo (Santos).

A Seleção era dirigida pelo jogador Amilcar Barbuy e tinha ainda na Comissão Técnica Arnaldo Silveira, Mário Pollo, Afonso de Castro e Ferreira Viana.

Paulistano-campeão-paulista-de-1918.-Ao-centro-Rubens-Sales-abaixo-dele-Friedenreich.-Foto-Museu-do-C.A.-Paulistano.-Reprodução-Norma-Albano-Folha-Imagem

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FOTO SOFIA MARINHO

Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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