Pobres, ricos e o coronavírus. Por Meraldo Zisman

POBRES, RICOS E O CORONAVÍRUS

MERALDO ZISMAN

… Ao longo da história, os pobres foram mais afetados pelas pandemias. Muitos países pobres ou de renda média enfrentam uma crise na balança de pagamentos e um colapso nas receitas do governo, pois precisam aumentar gastos e importações relacionados à saúde (para reduzir o número de mortos) e bem-estar (para que os trabalhadores possam se isolar sem fugir), sem dinheiro…

O novo coronavírus está causando estragos nos países ricos como a Itália, Espanha, França. Alemanha, Estados Unidos, e em outros menos importantes ou jornalísticos.  Muitas vezes esquecido, é o dano que causa ou causará nos mais pobres, o que pode ser ainda pior. Não há vacina.  Não há cura. Os medicamentos sugeridos ainda não têm comprovação cientifica, etc.  Sem uma campanha de distanciamento social, entre 25% e 80% de uma população geral será infectada. Destes, talvez 4,4% estarão gravemente doentes e um terço deles precisará de cuidados intensivos nos ricos. Para lugares e pessoas pobres, isso implica mais que uma calamidade.

O distanciamento social é praticamente impossível se você mora em uma favela lotada. A lavagem das mãos é difícil se você não tiver água corrente.  Os governos podem dizer às pessoas para não sair para trabalhar, mas se isso significa que suas famílias não vão comer, elas saem de qualquer maneira. Se impedidos, eles podem se revoltar.

Os jovens dizem são menos susceptíveis à doença embora isto não impeçam que possam disseminar o vírus. Devemos lembrar que as pessoas, mesmo jovens, nos países pobres podem ser jovens, mas geralmente têm pulmões ou sistemas imunológicos fracos por causa da desnutrição intrauterina. Conferir: http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n58/14.pdf.

 Ao longo da história, os pobres foram mais afetados pelas pandemias. Muitos países pobres ou de renda média enfrentam uma crise na balança de pagamentos e um colapso nas receitas do governo, pois precisam aumentar gastos e importações relacionados à saúde (para reduzir o número de mortos) e bem-estar (para que os trabalhadores possam se isolar sem fugir), sem dinheiro. Como ainda há muita coisa desconhecida sobre a covid-19, qualquer resposta deve ser baseada em informações imperfeitas. Mas algumas coisas são urgentes e óbvias.

Os governos dos países pobres, como em outros lugares, devem fornecer às pessoas informações oportunas e precisas, por qualquer meio prático. Sem encobrimentos, sem desligamentos da Internet, sem prender quem compartilha notícias indesejadas.

Imran Khan, primeiro-ministro do Paquistão, e ex-jogador de críquete que escreveu um livro A Personal History (2011), atleta consagrado mundialmente diz: “se fecharmos as cidades… salvaremos [as pessoas] da coronavírus em uma extremidade, mas elas morrerão de fome”.

 Em resumo o novo coronavírus pode até abalar as economias dos países ricos. Os mais pobres serão devastados. Tem um velho ditado que diz: quando o rico passa fome, o pobre já morreu de FOME.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.

 

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