O que virá. Por Edmilson Siqueira

O QUE VIRÁ

EDMILSON SIQUEIRA

… o errático governo Bolsonaro está contribuindo cada vez mais para o agravamento da situação, não só com os absurdos rompantes contra os chineses, mas também pela conduta do “mito” no desenrolar da pandemia. Com sua oposição aos métodos de combates da proliferação adotados em todo o mundo, ele contribui para que a doença se espalhe mais, lotando hospitais e matando mais gente ainda. Tudo isso poderá levar a uma crise perto da qual a gigantesca debacle provocada por Dilma, Lula e o PT parecerão suaves…

O dólar que chegou hoje, quinta-feira, 7, a bater em R$ 5,83 é apenas um dos sinais do que nos espera ali na esquina, no fim da pandemia da covid 19. O Brasil é um país inserido no mundo e dele depende para vender suas mercadorias e dele comprar muita coisa também. O saldo da chamada balança comercial (exportação menos importação) é o que dá fôlego para o país prosperar e manter sólidas nossas reservas, o que é uma garantia de pagamento de empréstimos e que nos deixam com boas notas nas agências de risco, melhorando o cenário para novos investidores, principalmente estrangeiros.

O mundo está derretendo, ou já está derretido. Hoje mesmo, o Banco da Inglaterra declarou que a crise por lá vai ser a pior em 300 anos. Uns 14% de queda de PIB neste ano e 15% negativos em 2021. No resto da Europa não vai ser muito diferente. Talvez a Alemanha tenha números mais generosos, mas negativos também, o que já é um desastre.

A China, nosso maior parceiro comercial, talvez ajude um pouco, mas não muito. Primeiro, ela terá que curar as próprias feridas causadas pela pandemia que, ao que tudo indica, começou lá. O PIB vem caindo e não há sinais de recuperação no curto prazo. Ela pode ainda depender de alimentos comprados de países como o Brasil, mas será em quantidades menores. Só que há um fator agravante, que não deveria existir: as críticas – infantis e grotescas – de alguns elementos do governo Bolsonaro aos chineses complicam a situação no terreno diplomático com sérios reflexos no terreno comercial. Não bastasse essa estupidez – a China pode ser criticada por ser uma ditadura, mas a crítica tem de ser, no mínimo, inteligente e não baseada em boatos e eivada de preconceito – alguns dos produtos que mais vendemos aos chineses, como a soja e a carne, têm fortes concorrentes.

Ou seja, o errático governo Bolsonaro está contribuindo cada vez mais para o agravamento da situação, não só com os absurdos rompantes contra os chineses, mas também pela conduta do “mito” no desenrolar da pandemia. Com sua oposição aos métodos de combates da proliferação adotados em todo o mundo, ele contribui para que a doença se espalhe mais, lotando hospitais e matando mais gente ainda. Tudo isso poderá levar a uma crise perto da qual a gigantesca debacle provocada por Dilma, Lula e o PT parecerão suaves.

O cenário brasileiro hoje é de dólar batendo recorde, de mínima taxa de juros (a Selic a 3% ao ano é um índice inimaginável desde o Plano Real), de inflação mensal perto do zero e de mais de 50 milhões de pessoas desesperadas atrás de R$ 600 reais por três meses que o governo está distribuindo a pessoas que se credenciaram para recebê-lo. Ou seja, a depressão, um cenário que em economia é pior que a recessão, está batendo à porta.

… As grandes crises econômicas, em alguns países europeus, levaram ao poder demagogos e ditadores. No Brasil, eternamente em crise, elegemos dois demagogos de esquerda e um de direita nos últimos 14 anos.  Nesse tempo todo tivemos, no máximo, menos de dois anos de prosperidade…

A previsão do PIB é negativa para esse e o próximo ano, o que significa que as Bolsas vão continuar ao deus dará numa desesperadora gangorra e o dólar e o ouro manterão firme posição de bons investimentos.  O que significa que vamos entrar no ano eleitoral de 2022 com o povo sedento por aqueles profetas populistas que trazem a solução mágica na ponta dos dedos, prometendo um paraíso já no primeiro ano de governo.

As grandes crises econômicas, em alguns países europeus, levaram ao poder demagogos e ditadores. No Brasil, eternamente em crise, elegemos dois demagogos de esquerda e um de direita nos últimos 14 anos.  Nesse tempo todo tivemos, no máximo, menos de dois anos de prosperidade. O resto foi de um populismo desenfreado e de corrupção estratosférica que transformaram o Brasil no que é hoje, pois agravado pela crise da covid 19, estamos caminhando para um abismo sem precedentes, pois não há rumo traçado a ser seguido.

Enquanto o ministro da Economia aponta para um lado, o presidente e outros ministros insistem em ir para outro, mudando a proposta liberal – que poderia nos dar algum alento à frente – pelo velho desenvolvimentismo que desgraçou o Brasil durante a ditadura e durante os anos do PT.  Estamos repetindo – e não é mera coincidência – o mesmo cenário no combate ao vírus da moda: toda a ciência e todos os países desenvolvidos  apontam para a quarentena, para o isolamento social, como única forma antes de um remédio eficaz ou de uma vacina, para diminuir a proliferação e não colapsar o atendimento médico. Mas aqui, o fla-flu político contaminou a ciência, e muita gente segue em sentido contrário às recomendações médicas indo atrás das opiniões de um ex-tenente do Exército (ele virou capitão com a baixa) que, vendo a economia afundar, sabe que sua reeleição se tornará impossível.

Reeleição? Pois ela também periga de nem ocorrer, pelo menos para o atual ocupante da cadeira presidencial, pois ele pode ser defenestrado antes. Enrolado em, pelo menos, três casos cabeludos, Bolsonaro pode ser impedido de continuar a governar por não obedecer a simples determinações jurídicas que podem provar ou não que ele cometeu crimes variados.

… Por essas e outras, percebe-se que o maior obstáculo para que o Brasil enfrente com bom senso e alguma esperança as crises econômica e de saúde que estamos vivendo tem nome, sobrenome e é presidente da República. É muito importante nos livrarmos desse obstáculo o quanto antes…

Ele está obrigado judicialmente a entregar o resultado dos exames médicos que fez para saber se estava infectado com o novo coronavírus. Por que isso é importante? Porque, se foi infectado e seu curou sem apresentar grandes problemas, pode ter transmitido, conscientemente, o vírus para muita gente. Não sei se tipifica crime, mas provaria uma canalhice que não pode caber no chefe de uma Nação e, com certeza, a opinião pública não o perdoaria, o que refletiria no ânimo dos congressistas num eventual pedido de impeachment.

Ele está obrigado judicialmente a entregar as provas que declarou ter de que a eleição de 2018 foi fraudada de modo a impedir sua vitória no primeiro turno. Se não tiver provas, atentou contra o sistema eleitoral brasileiro e contra o Tribunal Superior Eleitoral, com uma denúncia falsa ou, pelo menos, não provada. Crime que poderá gerar muitos outros processos e uma péssima, digamos, impressão aos congressistas.

E, por fim, ele está obrigado a entregar ao STF, a gravação de uma reunião ministerial onde as conversas podem provar suas tentativas de interferência no trabalho da Polícia Federal, tentativas essas ilegais e recusadas pelo ex-ministro Sergio Moro. E que levaram, poucos dias depois, quando o presidente tornou real a substituição – sem motivo aparente – do diretor-geral da PF, à demissão de Moro. Se não obedecer à ordem do STF, a tal crise institucional pode ser deflagrada com resultados imprevisíveis.

Por essas e outras, percebe-se que o maior obstáculo para que o Brasil enfrente com bom senso e alguma esperança as crises econômica e de saúde que estamos vivendo tem nome, sobrenome e é presidente da República. É muito importante nos livrarmos desse obstáculo o quanto antes. Caso contrário, os mortos serão muitos mais e o tempo que levaremos para a necessária recuperação será tão grande que poucos sobreviverão.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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