A tragédia e a farsa. Por Edmilson Siqueira

A TRAGÉDIA E A FARSA

EDMILSON SIQUEIRA

Já disse aquele barbudo que criou o marxismo que a história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa. Não sou muito fã de Marx e, muito menos, do marxismo, do socialismo, do comunismo e quejandos oriundos de seus livros, mas essa frase se encaixa perfeitamente no que estamos vivendo no Brasil nos últimos 10 ou 15 anos.

 

Logo após a descoberta do Mensalão, o governo Lula teve de redobrar esforços para garantir maioria no Congresso e se manter no posto sem o risco da aprovação de um impeachment. O Petrolão, então, veio logo a seguir, com uma força corruptiva muito maior. E a partir dali, o governo redobrou também os discursos contra seus adversários, pois precisava sempre culpar alguém para disfarçar os próprios erros e desviar a atenção para roubar sem ser percebido.

Como à época a política era um interminável fla-flu, já que a oposição não  tucana não produzia ninguém capaz de enfrentar o PT, o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso que, além de pouco fazer para eleger seu sucessor, não fez questão alguma de esconder certa alegria ao passar a faixa presidencial para seu adversário, foi feito como o “inimigo” de sempre e o culpado por todos os males. Como culpar sempre FHC estava virando piada, Lula e o PT trataram de diversificar os ataques criando novos inimigos: “as elites”, “eles”, a “TV Globo” e a mãe de todos os males, a “mídia”.

Como não apareceu adversário de fato – e o próprio PSDB, dividido internamente, não conseguiu se entusiasmar totalmente com José Serra ou Geraldo Alckmin, Lula pode se reeleger, eleger sua sucessora, reelegê-la e só perder o poder quando a coisa chegou a um ponto em que nem velhos petistas conseguiam disfarçar o incômodo dos títulos de campeões mundiais da corrupção, com a agravante de que uma crise internacional – a tal “marolinha” do Lula – estraçalhou a economia brasileira, provocando queda vertiginosa do PIB e mais de 12 milhões de desempregados. Como não podia sair da crise usando métodos tradicionais por ser contra a ideologia (acho que foi por não saber mesmo, mas isso é outra história), a cria de Lula usou e abusou de empréstimos de bancos públicos para pagar dívidas, o que é proibido por lei e ela acabou sendo cassada. Os petistas até hoje insistem em dizer que a cassação de Dilma foi golpe, mas para quem acredita que o partido nunca roubou e que Lula foi preso injustamente, a insistência no golpe é até leve diante de tal estado de demência.

A farsa petista continua se repetindo por aí, um pouco embaçada pelos tenebrosos acontecimentos pandêmicos e “bolsonaristêmicos”, mas vez por outra, como acontece hoje, terça, 9 de junho, aparece uma Gleisi Hoffmann para dizer que o candidato do PT em 2022 é, tchan tchan tchan… Lula. Sim, o condenado e inelegível pela lei da ficha limpa. Mas tudo bem, Gleisi deve conversar com duendes que vivem sob sua cama todo dia antes de dormir.

Já disse aquele barbudo que criou o marxismo que a história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa. Não sou muito fã de Marx e, muito menos, do marxismo, do socialismo, do comunismo e quejandos oriundos de seus livros, mas essa frase se encaixa perfeitamente no que estamos vivendo no Brasil nos últimos 10 ou 15 anos.

Depois da tragédia que foi o petismo, tivemos um presidente tampão que não fedeu nem cheirou e a eleição de um ex-capitão (na verdade, ex-tenente, já que a promoção a capitão veio com a baixa no Exército) que prometia acabar com a corrupção, liquidar a ideologia de esquerda vigente, acabar com a política do toma-lá-dá-cá e fazer o Brasil progredir novamente.

As coisas já não caminhavam muito bem, pois ao invés de focar nas promessas de campanha, Bolsonaro e seu núcleo duro focaram na reeleição e na criação de inimigos imaginários. E é justamente nessa última parte que a tragédia petista se repete agora como farsa.

Assim que Bolsonaro assumiu o governo, começou um estranho tiroteio nas redes sociais, com o beneplácito (e ação, soube-se depois) dos zeros à esquerda, contra gente bem próxima do poder. Além de políticos, os ataques chegavam também a ministros, inclusive os generais. Eram bolsonaristas atacando bolsonaristas por motivos que raramente vinham à tona. Os ataques evoluíam rapidamente e alguns deles chegaram ao topo dos assuntos comentados em redes mais populares.

… percebe-se a repetição da tragédia como farsa. O bolsonarismo e o petismo se juntam, mais uma vez, ao usar as mesmas e inúteis armas para se manter no poder…

O que era aquilo? Depois de algum tempo, e sem que esses ataques diminuíssem, pois assim que concretizada a degola de um atacado, no dia seguinte já havia um novo alvo a ser estraçalhado, percebeu-se que, mais que um temor real de um inimigo próximo que tinha que ser abatido, a ação tinha mais contornos de um método. Sim, o bolsonarismo, mercê sua incompetência, sua falta de inteligência e de liderança para tocar um país do tamanho do Brasil, tinha criado, sem, evidentemente, querer plagiar Trotsky, uma espécie de revolução permanente pelo poder, onde o inimigo se materializava em cada membro do governo que se aproximasse mais do presidente, que aparecesse – por seus méritos – um pouco mais na “mídia”, ou que tivesse ideias e ações que recebessem aprovação mais ou menos geral. Na falta desses inimigos, há sempre a TV Globo, a “extrema imprensa” ou os chineses. É risível até.

Para todos aqueles que ousam criticar o governo, sejam famosos ou não, o objetivo da crítica é um só: a volta do petismo ao poder. Ontem mesmo vi um post no Facebook chamando de “burros ou ignorantes” quem quer que a roubalheira anterior volte. Ou seja, não há outra opção: ou amamos o “mito” ou estamos lutando para Lula voltar.

A partir desse, digamos, raciocínio, os 70% de brasileiros que consideram péssimo, ruim ou regular o governo, estão enquadrados na categoria de “burro” ou “ignorante”, pois “está na cara” que ser contra o “mito” é querer que Lula vote.

Evidente que a pobreza dessa acusação revela exatamente a burrice e a ignorância – e outros adjetivos dessa mesma categoria – de quem a produziu e de todos aqueles que a repetem por aí, compartilhando posts nas redes sociais como os robôs das fake news.

Mas, tirando esse aspecto notório, percebe-se a repetição da tragédia como farsa. O bolsonarismo e o petismo se juntam, mais uma vez, ao usar as mesmas e inúteis armas para se manter no poder. Com o petismo deu certo por quase 14 anos. Com o bolsonarismo, estamos com apenas um ano e seis meses de governo e, se não há, ainda, um ânimo político para um impeachment, é certo que a maioria do povo brasileiro já não quer mais “isso aí” como presidente da República.

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Edmilson Siqueira é jornalista

1 thought on “A tragédia e a farsa. Por Edmilson Siqueira

  1. Quanta simplicidade, quanta clareza, quanta objetividade, quanta imparcialidade!!!!
    – Obrigado pela aula, caríssimo Edmilson!
    Aceite uma abraço, como pagamento!

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