FHC

O meu candidato ideal tem três letras: F, H e C. Por Antonio Silvio Lefèvre

O MEU CANDIDATO IDEAL TEM TRÊS LETRAS: F H C

ANTONIO SILVIO LEFÈVRE

FHC

… serviu como um lembrete para dizer algo que estava preso na minha garganta há tempos, querendo gritar em altos brados a cada vez que ouvia alguém falar mal de todos os presidentes que tivemos, pelo menos de JK em diante, como se todos fossem da mesma laia…

O desafio da Marli Gonçalves perguntando ao leitor em quem ele votaria de olhos fechados, partiu, com certeza, do desencanto dela e de tantos de nós com os políticos que povoam a cena brasileira atualmente. Mas para mim serviu como um lembrete para dizer algo que estava preso na minha garganta há tempos, querendo gritar em altos brados a cada vez que ouvia alguém falar mal de todos os presidentes que tivemos, pelo menos de JK em diante, como se todos fossem da mesma laia.

Não, minha gente, não podemos deixar que a raiva de tantos políticos de hoje nos faça esquecer daquele que, não tenho dúvida, foi o melhor presidente que o Brasil já teve em sua história: o grande Fernando Henrique Cardoso!

Tenho a honra de contar que nos meus tempos de Abril Cultural fiz parte do pequeno grupo que, no final dos anos 70, se reuniu com ele na casa do Pedro Paulo Poppovic, nosso chefe, para convencer FHC a entrar na política.

Já na época sentíamos que o Brasil não tinha politicos em que pudéssemos realmente confiar e precisava de uma pessoa culta e séria como ele para mudar totalmente o cenário e quem sabe, nos apontar um caminho para sairmos da ditadura e da corrupção a ela associada. Felizmente FHC nos ouviu e já em 1978 era eleito suplente do senador Franco Montoro e, depois, com a eleição deste ao governo de São Paulo, assumiu a cadeira no Senado Federal. Foi apenas o, primeiro passo de uma carreira tão brilhante na política como havia sido na academia.

Não me arrependi por um segundo até hoje desta aposta em FHC. Acompanhei com entusiasmo sua atuação como um esclarecido e “globalista”  Ministro de Relações Exteriores que levou nossa diplomacia a nível do Primeiro Mundo, depois como Ministro da Fazenda, nos brindando com o Plano Real. E principalmente em seus dois mandatos como Presidente, quando conseguiu fazer uma grande abertura da nossa economia, algumas reformas básicas, mas fundamentais e algumas coisas que mudaram a vida de todos nós.

 Não fosse ele e a privatização da telefonia no Brasil que realizou, entre outras, nós ainda estaríamos hoje pagando 5 mil dólares por uma linha telefônica fixa, como a da Telesp que dei de presente de casamento para minha filha alguns anos antes. E quem sabe quando teríamos celulares em nossas mãos?…

Acompanhei este capítulo das privatizações muito de perto até porque, na época trabalhando como publicitário na agencia Propeg, eu participei da comunicação da privatização da Telerj, com a criação da Telemar. E atendi inclusive a Petrobras, numa época em que não se tinha notícia de corrupção nenhuma por lá (eu pelo menos nunca soube, nem suspeitei de nada…).

Apesar de tudo o que ele fez de bom e de importante para o Brasil em seus dois mandatos, sempre respeitando a democracia e sem qualquer laivo autoritário, e apesar de ter entregue o poder ao sucessor Lula, com a maior elegância, os petistas tiveram o desplante de logo começarem por falar na “herança maldita” da era FHC.

Quando, ao contrário, tiveram a sorte de ter a herança mais bendita da história do Brasil E a perverteram de tal forma que até os programas sociais criados por FHC, como o Bolsa Escola, que era um estímulo a que as famílias de mais baixa renda botassem suas crianças na escola em vez de submetê-las ao trabalho infantil – os petistas transformaram num eleitoreiro Bolsa Família, sem contrapartida alguma dos beneficiados a não ser a de votarem no PT nas eleições seguintes…

O pessoal do Cebrap, que reuniu muitos dos brilhantes assessores de FHC, além de um grupo de amigos, entre os quais, modestamente, eu me incluí, fez de tudo para convencê-lo a se candidatar de novo, depois do primeiro mandato do Lula e também depois do Segundo. Mas não conseguimos: ele já se achava velho demais para a tarefa (protestamos, mas não adiantou!) Na verdade, FHC tinha visto como a tarefa é pesada e não queria decepcionar o país se não conseguisse fazer tudo que seria necessário numa nova etapa E não tinha o menor interesse pessoal no poder pelo poder, senão teria aceito.

Eu fiz de tudo para ajudar o PSDB nas eleições seguintes, com palpites de marketing eleitoral não remunerados. direto com o Serra e com o Aloysio Nunes, com quem tenho contato pessoal desde que fomos contemporâneos de exílio, em Paris.

Isto porque, para mim, o PSDB era (e ainda pode ser) o partido com mais condição de levar o país, dentro da democracia, para o caminho do progresso, aliado à justiça social. Sim, porque sua filosofia, como o nome expressa claramente, é a de uma social-democracia, ou seja, de uma democracia liberal, mas com forte preocupação social. O que pressupõe  abertura para que as empresas possam atuar em todas as áreas de negócios e um estímulo à livre concorrência, mas também um forte controle do Estado para que o capital não possa fazer o que quiser, em especial criar monopólios que ditam as regras e os preços.

Como o cartel dos bancos, que tem espoliado os consumidores nos últimos anos, com os juros mais altos do mundo e como o cartel das seguradoras e dos planos de saúde que, nos governos petistas, em troca de benesses para o partido, conseguiram mudar as regras, sempre em desfavor dos consumidores.

… Que falta nos faz o sociólogo Fernando Henrique Cardoso lá onde ele devia estar, em Brasília!

Acredito em liberalismo econômico sim, mas nada de liberalismo extremo,.  Ao contrário do que escreveu Fernando Haddad em recente artigo na Folha de S.Paulo,  o PSDB não é nem nunca foi um partido de “centro direita”. Para evitar essa divisão maniqueista entre esquerda e direita, em que um lado sempre bota a culpa no outro, alguns do PSDB consideram mais prudente que o partido se considere  de “centro”. Mas diante do cenário atual, em que o centro é associado  ao fisiológico “centrão” e até para evitar que petistas, pedetistas, psolistas e outros tantos se considerem os únicos  “progressistas”, botando todos os demais partidos no mesmo saco e os taxando de “reacionários”, de direita, acredito ser mais político mesmo o PSDB se assumir claramente de “centro-esquerda”, como aliás sempre o considerei.

E agora, sem FHC à testa, o que podemos esperar do PSDB em termos de “candidatos ideais”?

 Eu, como psdebista “raiz” (embora nunca tenha sido filiado ao partido) sinto muito que o PSDB tenha se esfacelado nos últimos anos, em especial com os episódios  mineiros de Azeredo e Aécio Neves, que são totalmente estranhos à tradição de honestidade e correção do partido. Não emito julgamento sobre Serra e Alckmin, que respeito muito politicamente e não posso acreditar que tenham feito algo de desonesto. Sobrou o novato Doria, que não é da mesma cepa, mas é mais jovem e ainda é uma esperança de que possa haver uma alternativa entre os extremismos de direita e de esquerda que experimentamos. Tem sido muito eficaz como governador de São Paulo e muito hábil no esforço para unificar o PSDB.

De qualquer forma, se hoje eu tivesse que dizer qual é o candidato ideal para o Brasil, sem FHC, eu diria que ele tem duas letras: J. e D….

O “pequeno” problema é que faltando dois anos para as eleições presidenciais, ainda estamos muito longe de ter que escolher um candidato em quem votar. Temos que sobreviver até lá aos dois vírus… o coronavírus e o bozovírus e ao efeito catalisador de um sobre o outro.

Neste “intervalo”, longo demais, espero que o PSDB se apresente como uma oposição séria e veemente ao autoritarismo deste governo que está fazendo totalmente o oposto do que prometeu, no combate à corrupção, na redução da carga tributária, no tamanho do estado,  nas privatizações.

 Sem falar na verdadeira guerra que declarou ao ensino e à cultura, faltando só queimar os livros e fechar as faculdades de Humanas.

Que falta nos faz o sociólogo Fernando Henrique Cardoso lá onde ele devia estar, em Brasília!

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ANTONIO SILVIO LEFÈVRE é sociólogo (Université de Paris), editor e livreiro. Interpretou Pedrinho na 1ª adaptação do “Sítio do Picapau Amarelo” para a TV, em 1954. Veja no Museu da TV.

 

2 thoughts on “O meu candidato ideal tem três letras: F, H e C. Por Antonio Silvio Lefèvre

  1. Infelizmente o PSBD tem muito cacique e poucos índios! E a Lava Jato já mostrou a contaminação de todos. Acompanho Neumanne Pinto. Desde 1990 votei PSDB, em 2018 não. Sou capixaba e jamais votarei no carreirista Dória. Estou à espera em alguém confiável!

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