Kassio

Kassio korreto e seu bom kurríkulo. Coluna Carlos Brickmann

KASSIO KORRETO E SEU BOM KURRÍCULO

COLUNA CARLOS BRICKMANN

Universidade espanhola nega existência de pós-graduação que Kassio Marques diz ter feito

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE  2020

Qual o problema de alguma imprecisão no currículo de Kassio Marques? Isso é com certeza o que o torna mais palatável para um Governo que nega as fotos dos satélites e as informações de seu próprio Instituto Nacional de Atividades Espaciais e garante que o desmatamento na Amazônia é muito menor do que o que foi documentado; que, diante de incêndios cuja fumaça atrapalha até o sobrevoo da região, põe a culpa nas rocinhas de caboclos e de índios; que, com quase 150 mil mortos pela Covid, ainda acha que é uma gripezinha.

Kassio tem outras qualidades, não verificáveis pelo currículo. Por exemplo, compartilha uma Dolly gelada com o presidente nas horas de folga, pode discutir com ele as virtudes da cloroquina, talvez degustem juntos um pãozinho com leite condensado ou, quem sabe, ovos coloridos? E quem se preocupa em saber se os pós-doutorados exibidos pelo pós-doutor são mesmo cursos, ou só algumas palestras, ou se as universidades citadas, ao contrário do que dizem oficialmente, oferecem esse tipo de cursos?

Tudo besteira. Falaram o diabo da formação jurídica de Dias Toffoli, e daí? Daí que ele é ministro, com todos os poderes da função, se articula com o ministro Gilmar Mendes, e se tudo correr bem, sobram-lhe 22 anos de mandato no Supremo. Tem auxiliares para puxar-lhe a cadeira, colocar-lhe a toga, servir-lhe petiscos (e aí é coisa boa, nada de bolsonarismo). Se quiser se aposentar antes da hora, terá salário integral. Por ke não o Kassio?

 Vossas Curriculências

Uma crônica de Ruy Castro:  http://www.chumbogordo.com.br/34830-politicos-e-seus-curriculos-de-araque-por-ruy-castro/

 Faltam modos

Os caros leitores mais idosos certamente se lembram de uma advertência típica de mães e avós: “Tenham modos!” Pois é: isso incluía certa sobriedade na escolha de palavras. Nenhum garoto, na frente de mulheres, diria frases como as do ideólogo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, tipo “os bostinhas do MST”. Referência a rachadinhas valeria a boca lavada com sabão – isso se mamães e vovós a entendessem. “Fura teto” daria briga. Ninguém diria, na frente das mães, a frase de Bolsonaro, quase sufocando de tanto rir, sobre a mulher que queimou os ovos do marido. O vocabulário usado pelo presidente e por vários de seus ministros é de gente sem modos.

A propósito, um sinônimo excelente para “modos”, ou “bons modos”, é “educação”.

 Tem precedente

Citando o bom político baiano Octavio Mangabeira, tudo, por absurdo que pareça, no Brasil tem precedente. Um vereador do PT de Ilhéus, Carlos Augusto “Augustão” Cardoso da Silva, fez forte discurso contra um projeto que seria votado em seguida, considerando-o absurdo. Bravo, votou contra. Só que o projeto era de sua autoria. Um colega perguntou como explicava ter votado contra seu próprio projeto. Ele negou que o projeto fosse seu, e só se convenceu ao ler a assinatura. Mas manteve o voto.

Pois é: em São Paulo, certa vez, o deputado estadual Chiquito Franco, que havia apresentado um projeto, votou contra ele. Os repórteres o cercaram, e ele disse que era um homem de palavra: tinha assinado, mas não tinha dito que era a favor, e o que valia era a palavra. A palavra e, é claro, os muitos argumentos que lhe foram transmitidos pelo governador do Estado.

O melhor dos casos; o vice-presidente do Supremo, Cézar Peluso, criticou duramente a juíza que obrigara um réu a manter-se algemado perante o júri. O problema é que a juíza era filha de Peluso – ele nem deveria participar do julgamento. Imagina-se que o estagiário que redigiu seu voto não soubesse do parentesco.

A propósito, o tal júri foi anulado por unanimidade pelo STF.

 Ótima notícia

Não é análise, nem interpretação: são números. As vendas do varejo em agosto subiram pelo quarto mês seguido e alcançaram o maior volume da série do IBGE, que se iniciou em 2000. As vendas superaram em 8,2% as do último mês sem coronavírus, fevereiro. Houve o auxílio de emergência, que ajudou a alavancar as compras, e mudanças nos hábitos de consumo devidas à pandemia (automóveis perderam espaço; material de construção, móveis, eletrodomésticos e alimentos puxaram o consumo; livros e material de papelaria sofreram grande queda). Uma possibilidade: como caiu o consumo de serviços, houve sobra para novas compras. Uma boa análise de Zeina Latif em http://www.chumbogordo.com.br/34817-castelo-de-areia-por-zeina-latif/

 Enfrente o calor

Alguém ainda tem dúvidas sobre o papel das árvores na regulagem do clima? Aqui está a prova final: na Foz do Iguaçu, no mesmo dia, no mesmo horário, foi medida a temperatura de duas ruas de largura semelhante, uma próxima da outra, uma arborizada, outra sem árvores. Na rua sem árvores, 36 graus na calçada, 50 graus no meio da rua. Na rua com árvores, 18 graus na calçada, 26 graus no meio da rua. Não é só meio-ambiente: é bem-estar.

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2 thoughts on “Kassio korreto e seu bom kurríkulo. Coluna Carlos Brickmann

  1. Toffoli já ‘bateu’ continência para Zé Dirceu, tomou pau em dúzias de concursos pra juiz e ultimamente aparece com uma rachadinha na testa sorrindo ao lado do capitão, mas nunca quis transformar em pós-doutorado três palestras entediantes durante as quais, na plateia, dormiu feito um porco depois da lavagem. Falsidade ideológica é um nome simpático e parcimonioso pra isso. Se o elemento puser uma coisa dessas no currículo, corre o risco de ter, por exemplo, sua nomeação consequente a um concurso público numa universidade simplesmente anulada ad hoc – nem precisa quórum acadêmico pra passar o vexame… Mas garanto que, no atual governo, vale prêmio. Na República capitã, veracidade ideológica é que dá problema ao cidadão.

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