Com Pelé na quadra de tênis da Hebraica, em 1982.

Momentos com o Rei. Blog do Mário Marinho

MOMENTOS COM O REI

BLOG DO MÁRIO MARINHO

Pelé

A primeira vez que vi Pelé assim, cara a cara, vis a vis foi uma ocasião inesquecível para Pelé. E, claro, para mim também.

Foi na noite de quarta-feira, 30 de novembro de 1966.

O Santos tinha acabado de ser massacrado pelo Cruzeiro, 6 a 2, no Mineirão, no primeiro jogo da decisão da Taça Brasil, principal competição do futebol brasileiro daquela época.

Eu havia começado minha carreira de jornalista há dois meses. Era um simples foca do Diário da Tarde, de Belo Horizonte. Para minha surpresa, escalado para fazer parte da equipe que iria cobrir aquele jogo sensacional: Cruzeiro de Raul, Dirceu Lopes, Nata, Tostão contra o fantástico Santos de Gylmar, Carlos Alberto, Zito, Pelé, Pepe.

Temia-se pela sorte do Cruzeiro.

Porém, com um minuto de jogo, o apavorado lateral esquerdo Zé Carlos, do Santos, marcou um gol contra.

Daí para frente, verdadeira chuva de gols. O primeiro tempo terminou 5 a 0 para os azuis de BH.

Resultado final: 6 a 2.

Terminado o jogo, fui ao vestiário do Santos. Fui cheio de dúvidas: com será que o Pelé vai me receber? Ele vai falar comigo? Estará bravo?

Havia verdadeira multidão de repórter e sapos tentando falar ou simplesmente ouvir Pelé. Eu olhava para ele e achava incrível que eu estivesse tão perto do Rei.

Ainda mais incrível a naturalidade dele, o bom humor e atenção que dedicava a cada pergunta. Inclusive à minha. E devo ter feito uma pergunta banal, digna de um foca, pois nem me lembro dela.

No comecinho de 1968 me transferi para o Jornal da Tarde, em São Paulo.

Fui me encontrar novamente com Pelé em outra noite inesquecível para ele: 6 de março de 1968, quando o Corinthians, num Pacaembu lotado e ensandecido, venceu por 2 a 0, quebrando um tabu de 11 anos sem derrotar o time de Pelé.

Mas, para não parecer que eu só me encontrava com ele em derrotas, no dia 21 de abril também de 1968, eu estava à beira do gramado do Morumbi quando o Santos venceu o Corinthians pelo mesmo placar: 2 a 0.

Do começo de 1968 até à Copa do Mundo de 1970 eu trabalhei como repórter do Jorna da Tarde.

Entrevistei Pelé dezenas, talvez centenas de vezes.

Nunca o Rei negou uma entrevista.

Nunca em minha longa carreira de jornalista ouvi ou tive notícia de um desentendimento de Pelé com jornalistas.

E sempre pronto para dar entrevistas.

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REI PELÉ

O primeiro

grande furo

Todo jornalista corre atrás da informação exclusiva, o furo.

Meu primeiro e maior furo no Jornal da Tarde aconteceu exatamente com Pelé.

Eu fazia cobertura diária do Santos. Quase todos os dias eu saía de São Paulo pela manhã e ia até à cidade de Santos fazer a cobertura do time de Pelé & Cia.

Fiz amizade com Carlos Alberto Torres que sempre me passava alguma informação exclusiva.

Em uma tarde normal de treino, naquele começo de 1969, cheguei à Vila, fui até o vestiário do Santos (naquela época isso era possível) e dei falta do Pelé.

Procurei Carlos Alberto e perguntei.

– Cadê o Pelé? Ele não vai treinar?

Carlos Alberto olhou para um lado, para o outro e cochichou.

– Se eu fosse você iria lá na sala do presidente. Tá acontecendo alguma coisa por lá. Tem um cara da TV Excelsior lá.

Naquela época, a Excelsior era uma espécie de Globo, com grande audiência, bons programas, novelas.

Agradeci e fui em direção à sala do presidente que, na época, era o Athiê Jorge Coury (foi presidente de 1945 a 1971, nascido em 1904 e falecido em 1992).

Quando cheguei no saguão, abre-se a porta do elevador e sai de lá o Carlos Zara, um dos principais atores da Excelsior (além de ator, foi também diretor de teledramaturgia da Excelsior).

Fingindo que estava por dentro do assunto, perguntei a Carlos Zara:

– Então, tudo certo com o Pelé?

– Está quase tudo.

– Quase, não está tudo certo?

Carlos Zara falava e saia do prédio do Santos em direção à rua.

– Quem é você? – perguntou-me.

Apresentei-me, disse que era jornalista do Jornal da Tarde. O JT tinha peso, era importante.

Carlos Zara me disse que de fato estava conversando com Pelé e o Santos, mas não podia adiantar nada.

– Melhor você falar com o presidente.

– Claro, vou falar. Só queria que você me adiantasse alguma coisa.

– Mas só o presidente pode autorizar a publicação de alguma notícia.

Chegamos ao carro do Zara. Ele entrou porque sabia que, se ficasse na rua, seria reconhecido, pois vinha de uma novela de sucesso, onde ele interpretou o papel do Capitão Rodrigo.

Para se livrar de mim e com minha promessa de que não publicaria nada sem antes falar com o presidente do Santos, Zara fez um resumo da situação.

A autora da novela seria Ivani Ribeiro. Pelé faria o papel principal: seria um escritor. A novela era ficção científica. O elenco estava sendo formado, mas Regina Duarte já estava confirmada.

– Fale com o presidente antes, tá?

Sai do carro e fui à sala do presidente: ele já tinha ido embora.

Pelé não desceu para treinar. O presidente não estava em seu escritório.

Eu não iria deixar escapar aquele furo. Voltei para São Paulo e escrevi minha matéria que foi manchete do Jornal da Tarde no dia seguinte:

“Pelé mocinho de televisão”.

Minha primeira manchete no JT.

Rei Pelé - ator - "Os estranhos" - 1969
Rei Pelé – ator – “Os estranhos” – 1969
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Jogando

Tênis na Hebraica.

Com Pelé na quadra de tênis da Hebraica, em 1982.

Em 1981 eu viajei a Israel para fazer a cobertura da Macabíada que é uma Olimpíada para atletas de origem judaica, disputada a cada quatro anos em Israel.

Fiz muitos amigos com o pessoal da comunidade, diretores do clube Hebraica, entre eles, Marcos Arbaitman e Jack Terpins.

Foi do corintiano Jack Terpins o telefonema que recebi naquela noite de 1982, na redação do JT.

– Sabe quem vai jogar tênis amanhã lá na Hebraica?

– Não, Jack, não sei.

– O Pelé.

Como Jack Terpins foi sempre muito brincalhão, fique meio na dúvida, mas acabei convencido de que o Rei estaria lá pela manhã.

– Não te falei nada, tá? – Me disse Terpins pedindo segredo.

Na manhã seguinte, lá estava eu com o Rei, na foto que está ao alto deste blog.

Foi uma visita de cortesia de Pelé aos muito amigos que ele tinha na Hebraica.

– É apenas uma visita, disse-me Pelé quando me aproximei dele. Não tem notícia.

Como se uma visita de Pelé pudesse ser normal.

Alguns minutos depois, a quadra era invadida por uma garotada entre cinco e dez anos da Escolinha de Esportes da Hebraica, todo mundo querendo abraçar Pelé.

A visita normal virou festa.

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Em 1986,

em Salvador.

 

Uma das últimas vezes que me encontrei cm Pelé foi em 1986, num Congresso de Jornalistas esportivos em Salvador, promovido pela Abrace , que é a Associação Brasileira de Cronistas Esportivos.

Terminado o Congresso eu iria entrar de férias. Por isso, aproveitei e levei minha caríssima metade e meus filhos: a Verênia tinha 13 anos e o Cássio, que tinha 8.

Os dois e a Vera estão na foto com o Pelé.

Eu estava do outro lado da foto, atrás da câmera.

Carta ao Rei Pelé – Mensagem de Feliz Aniversário – No Ângulo

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Em 1992,

Na TV Record.

Eu era diretor de um programa vespertino chamado TV Aberta que era apresentado por Nei Gonçalves Dias.

Certo dia, antes do programa começar, Nei me procurou.

– Marinho, convidei o Pelé para participar do programa. Ele me prometeu que virá às 4 horas.

O programa começava às 15 e terminava às 18. É claro que o roteiro já estava todo pronto. Mas, Pelé é Pelé.

Chamei o Chico Daniel e a Ana Maria Escalada que comandavam a equipe comigo e começamos a refazer o roteiro para abrir espaço para o Pelé, embora estivéssemos um pouco na dúvida: será que ele vem mesmo?

Às 15, 45 toca o telefone na minha sala. É da portaria.

– Marinho, o Pelé está aqui.

Fui recebê-lo e levei para a minha sala. Ficamos ali naquele papo meio furado de quem está esperando o trem.

Contei para o Pelé que fiz muitas cobertura do Santos no meu tempo de repórter há muitos e muitos anos.

Para ser amigo, Pelé me disse:

– Sabe de uma coisa, Você não me é estranho. Quando eu te vi, pensei comigo: conheço esse cara, entende?

Dei uma bela gargalhada e respondi.

– Pelé, isso faz muito tempo. Eu era uns 25 anos mais novo, mais magro, nem tinha esse bigode que tenho agora.

E era um imenso bigode.

Não se deu por achado.

– Sabe, é por isso que eu nunca quis deixar meu bigode crescer: assim, ninguém esquece minha cara.

Como se Pelé fosse esquecível.

Faltando cinco minutos para as quatro, o diretor de estúdio chegou à minha sala.

– Marinho, agora é o sô Pelé.

– Vamos lá? – perguntei.

E ele.

– Agora é que dá aquele frio na barriga.

– Como assim, frio na barriga? Você já deu milhares e milhares de entrevistas pelo mundo afora e ainda tem frio na barriga?

– É a mesma coisa quando ia começar o jogo: enquanto a bola não rolava e chegava nos meus pés o frio na barriga não ia embora.

Esse é o Pelé que hoje, 23 de outubro de 2020, completa 8o anos de idade.

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Obrigado, Pelé.

 

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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1 thought on “Momentos com o Rei. Blog do Mário Marinho

  1. Mário
    Imagino a sua emoção em cada um desses encontros com a maior autoridade do futebol brasileiro.
    Qtos jornalistas não gostariam de ter esses registros no seu curriculum !
    Fico feliz por vc ter vivido tudo isso.
    Por ter esses fatos registrados na sua história.
    Parabéns , tudo isso valeu a pena não foi ?
    Mil beijos.

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