METADE

Metade manda, metade aguarda. Coluna Carlos Brickmann

METADE MANDA, METADE AGUARDA

COLUNA CARLOS BRICKMANN

Papel de parede : luz solar, vermelho, azul, círculo, Lentidão da lente, cor, forma, linha, Captura de tela, Papel de parede do computador, Fonte 1920x1080 - YoungScum - 64710 - Papel de parede para pc - WallHere

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE  2020

Donald Trump é hoje o vice-campeão de votos da História americana. Só foi superado (e por pouco) por Joe Biden. Teve mais votos que Obama, mais que Clinton. É extremamente provável que suas tentativas de impugnar as eleições sejam frustradas; mas o trumpismo continua forte. O trumpismo é maior que o Partido Republicano: Trump atingiu seu recorde de votos tendo a reprovação aberta de ícones republicanos como o general Colin Powell e o abandono por outros caciques, como o ex-presidente Bush, seu irmão, o ex-governador Jeb Bush, a viúva do senador John McCain.

A política americana é decidida por americanos, mas influencia o mundo todo. Seria um erro grave achar que o trumpismo desabou. Como é que um personagem estranho como Trump, com aquele topetão alaranjado, que conduziu desastradamente o combate à Covid, tem tanta popularidade? Como, tendo passado boa parte de seu tempo falando mal de imigrantes, foi ganhar na Florida, paraíso da imigração? Como, depois de combater o Black Lives Matters com dureza, ganhou em Estados onde o voto negro é decisivo?

Em parte, a resposta é a economia. Até a pandemia, Trump reduziu dramaticamente o desemprego e manteve a economia crescendo. Em parte, foi porta-voz de quem se irritava com restrições à extração de petróleo, com metas de poluição e proteção ao meio-ambiente. Seus seguidores se tornaram fundamentalistas, prontos a insultar adversários. E a rachar a nação.

 Serrada ao meio

Quando o Jornal da Tarde estava no auge, o sonho do grande redator Renato Pompeu era fazer a manchete “O povo dança nas ruas”. Pois o povo dançou nas ruas, comemorando a derrota de Trump. Os ânimos não estavam acirrados de um lado só: os EUA racharam – e as duas metades têm tamanho equivalente. A tarefa de unir a nação é dificílima, e importantíssima. Trump não vai ajudar: vai manter sua linha agressiva, que lhe valeu uma avalanche de votos. Dirá por quatro anos que foi vítima de fraude. Se quiser, e a saúde ajudar, aos 78 anos será o candidato republicano em 2024. Com todos os fundamentalistas que puder juntar, dizendo a verdade que só eles veem.

 E as pesquisas?

As agências americanas de pesquisas devem uma explicação: erraram feio prevendo que Biden teria até 10% a mais de votos populares que Trump. Que não lancem a culpa no voto envergonhado (o entrevistado diz que escolheu um candidato mais bem considerado e vota em outro). O fenômeno não tem nada de novo e deveria estar previsto. Como diria o Bóris, é uma vergonha.

 Informação em risco

A Fox News interrompeu a transmissão de uma entrevista de porta-vozes de Trump alegando, na palavra do repórter Neil Cavuto, que Kayleigh McEnan acusava o Partido Democrático de “acolher fraudes e votos ilegais”, sem que tivesse como sustentar suas afirmações. Traduzindo: ele censurou a porta-voz de Trump por discordar do que ela dizia.

Trump e seus porta-vozes mentiram muito, mas não podem ser impedidos de dizer o que pensam. Que o jornalista, a seguir, investigue as declarações e publique os desmentidos. Nenhum jornalista, por mais competente que seja, tem o direito de impedir o entrevistado de dizer o que quer. Pode contestá-lo ao vivo, deixando claro que nada daquilo é verdade, pode contestá-lo depois, com profundidade. Mas censurá-lo não é aceitável. E as tevês americanas estão insistindo na censura.

 Genérico em guerra

O presidente Bolsonaro, uma espécie de Trump mal acabado, não está contente em não ter oposição: quer porque quer criar uma oposição, mesmo que seja brigando com mais aliados. A última vítima é o general Mourão, seu vice.

Mourão, faz tempo, traduz para linguagem civilizada algumas frases menos polidas do presidente. Agora, explicou por que Bolsonaro não cumprimentou Biden: disse que ele o fará na hora certa, quando não houver mais pendências legais. Bolsonaro ficou furioso: disse que esta é a opinião de Mourão, não dele, que não conversaram sobre isso, e que, aliás, não tem falado sobre qualquer assunto com seu vice.

Só que Mourão não é o general Pazuello, que aguentou desfeitas sem se queixar (talvez tenha tomado algum calmante à base de cloroquina). Mourão é mais linha dura e talvez seja mais direitista que Bolsonaro – só que mais educado. Quando reagir, haverá crise.

 Oração aos mortos

Vergonhosa a atitude do Governo Federal: para atingir o governador João Dória, mandou paralisar as pesquisas da Coronavac, vacina contra a Covid a ser produzida pelo Instituto Butantan. Bolsonaro não se pejou de proclamar seu objetivo: disse “Bolsonaro ganhou mais uma”. Só pensa em se reeleger. Quem precisa da vacina que morra. O motivo da suspensão é mais vergonhoso: um dos voluntários que participam dos testes morreu – só que por suicídio, sem nada a ver com a vacina. Ainda nem se sabe se tomava vacina ou placebo. Bolsonaro usa a nossa vida como arma de reeleição.

_______________________________________________________
CURTA E ACOMPANHE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK
______________________________________________________________
ASSINE NOSSA NEWSLETTER NO SITE CHUMBOGORDO (www.chumbogordo.com.br)
___________________________________________________
COMENTE:
carlos@brickmann.com.br
Twitter:@CarlosBrickmann
www.brickmann.com.br

5 thoughts on “Metade manda, metade aguarda. Coluna Carlos Brickmann

  1. Do capitão (pouco depois de cantar vitória; devida, é claro, à morte de alguém): “Apenas na diplomacia, não dá. Tem que ter pólvora!” Lá nos EUA, Joe Biden (o objeto da bronca) deve ter-se mijado todo de tanto rir. É mais uma dessas típicas declarações energúmenas com que o energúmeno que nos faz passar vergonha. Desconsideraria o capitão, em sua palermice oceânica, a existência do plutônio? Acreditaria ele que pode disputar alguma coisa com os EUA na base do três-oitão? Até o Trump deve estar rindo…

  2. “Oração aos mortos”
    – Sem tomar partido de A ou B, apenas baseado em informações que ouvi de médicos afeitos ao tema, pareceu correta a suspensão das pesquisas. O que houve é que a morte tinha de ser apurada. E a burocracia é que faz a apuração ser demorada. “Apenas” isso… (e pra quem vai me julgar mal: “Fora, Bolsonaro!”, “Fora Doria!”)
    P.S.: Doria= assaltante de aposentados paulistas, meu caso. Passei a pagar 10% dos meus proventos para tapar rombos na “gestão” pública: equivale a três idas minhas ao supermercado ou uma ida mensal à farmácia, a ante sala do inferno…

    1. Marli & Carlinhos:
      Obrigado (e desculpem) pelo espaço pra desabafar! Não resolve nada mas, pelo menos, “desentala” a garganta…
      Abraços

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter