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Futuro incerto. Por Edmilson Siqueira

FUTURO INCERTO

EDMILSON SIQUEIRA

Bastaram as denúncias surgirem para que brotasse um Bolsonaro, raivoso, vingativo, despreparado e ignorante: um perfeito e perigoso idiota com a caneta mais poderosa do país nas mãos. Fizesse um psicotécnico qualquer, seria declarado incapaz de dirigir um time de futebol amador na periferia da cidade, mas como, no Brasil, o poder dá mais poder que obrigações e as autoridades…

futuro incerto

A história sempre que se repete é como farsa, já disse alguém por aí. E no Brasil, essa farsa tem uma insistência dolorosa. Dói não apenas em quem a percebe, em quem não cai no conto do vigário que a grande maioria dos políticos aplica no povo desde sempre. Dói mais nas vítimas desse conto, aquela turba de eleitores que acham que todo candidato é igual, vota no primeiro que lhe der na telha ou anula o voto ou vota em branco não por convicção ideológica, mas por preguiça de pesquisar e por achar que nada vai mudar. E há ainda, nesse rol dos sofredores contumazes, aqueles que simplesmente não comparecem para votar, formando um contingente que ultrapassa, às vezes, o número de votos do vencedor da eleição.

Nesse ano que se inicia, embora haja alguns lampejos de um cenário diferente, as velhas e terríveis disputas que fazem de tudo pra que tudo continue da mesma forma podem se sobressair novamente. Há uma tênue esperança de que algo de novo ou diferente (diferente pra melhor, bem entendido) aconteça, mas as velhas raposas ainda vão uivar bastante no ouvido do eleitor, anunciando algo melhor que, no fundo, é a mesma fraude eleitoral a que tanto temos assistido neste século.

A mesmice se mostra saliente já no comportamento dos velhos políticos que praticam a velha política, a começar do presidente da República, Jair Bolsonaro, que hoje é, seguramente, uma fraude maior do que foram Lula e Dilma.

Perdido nas tentativas de se livrar das falcatruas que ele e seus filhos – e mais uma penca de familiares e amigos – cometeram durante anos no Legislativo, se enriquecendo às custas do roubo do salário de seus funcionários – roubo consentido, diga-se, também conhecido como “rachadinha” – Bolsonaro mudou sua postura, antes feroz diante da corrupção generalizada, para a de cão de guarda da quadrilha que criou. E, por tabela, começou a proteger e se aliar a corruptos.

Bastaram as denúncias surgirem para que brotasse um Bolsonaro, raivoso, vingativo, despreparado e ignorante: um perfeito e perigoso idiota com a caneta mais poderosa do país nas mãos. Fizesse um psicotécnico qualquer, seria declarado incapaz de dirigir um time de futebol amador na periferia da cidade, mas como, no Brasil, o poder dá mais poder que obrigações e as autoridades, em sua grande maioria, estão mais interessadas em faturar do que melhorar o país, continuamos navegando nesse mar de impropriedades, num navio pirata capitaneado por um comandante completamente incompetente que parece usar o tapa-olho no único olho saudável.

Outros políticos tradicionais que se arvoram em complicar o futuro próximo do Brasil, não ajudam nem um pouco. A disputa pela presidência do Legislativo nacional – Senado e Câmara – se dá dentro da costumeira e vergonhosa disputa a que temos assistido de dois em dois anos.

De um lado, os lambe-botas do presidente, prometendo tudo que não vão cumprir para que uma agenda de desenvolvimento finalmente seja votada. Para representar essa falange, nada menos do que um candidato, Arthur Lira, implicado até o pescoço em escândalos que vão desde a corrupção até a violência doméstica, dos quais vai se livrando lentamente, de acordo com os acordos que faz com desembargadores e ministros dos tribunais brasileiros.

De outro, um digno representante da oposição do… MDB. O partido que, desde a redemocratização, sempre foi poder, fosse qual fosse o presidente, quer posar agora de defensor das boas causas e escolhe um óbvio deputado, filho do que houve de pior na velha – e recente – república. O pai de Baleia Rossi chegou a ser ministro do governo petista. Leiam como foi sua saída do governo mais corrupto da história: “Rossi foi o quarto ministro do governo Dilma Rousseff (PT) que perdeu o cargo. Ele caiu em agosto, mergulhado em uma sucessão de denúncias envolvendo sua gestão em tráfico de influência, falsificação de documento público, falsidade ideológica, corrupção ativa e distribuição de propinas a funcionários que teriam participado do procedimento administrativo que ensejou a contratação da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.” Foi nesse ambiente que o agora candidato da “oposição”, Baleia Rossi, cresceu. Nada a acrescentar, né?

Do lado da esperança, o ano de 2021 será marcado por disputas entre liberais de direita e “progressistas” de esquerda (as aspas estão aí porque se trata de um termo surrupiado do dicionário para adjetivar pessoas ou políticas que são exatamente o contrário de progressistas. Nada mais reacionário e atrasado que um governo de esquerda, como se viu e se vê pelo mundo).

Sérgio Moro e Luciano Huck são dois expoentes da direita liberal que podem fazer muito barulho visando 2022, já a partir de 2021. Aliás, já estão fazendo barulho por aí. O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta,  mercê seu digno comportamento no início da pandemia (motivo pelo qual foi demitido, diga-se, pois num governo indigno ninguém pode ser digno) também será nome importante desse campo. Há ainda Doria que, apesar de sua inteligência e esperteza, insiste em atos que estão a lhe queimar a largada. Ganhou pontos saindo na frente com a Coronavac, mas ainda não se sabe até onde essa atitude vai ser positiva para ele. Particularmente, torço por Moro, mas acho difícil que alguém honesto sobreviva na lama política brasileira nesse tempo que falta até o início da campanha.

Do lado da esquerda, pouca novidade. Talvez apenas Boulos que ganhou algum fôlego ao conseguir superar o PT e chegar no segundo turno da eleição paulistana, tenha alguma possibilidade de aparecer mais um pouco. Vai ser curioso vê-lo enfrentar Ciro Gomes, por exemplo, outro expoente da esquerda, só que mais light nas ações e muito mais nervoso nas declarações.

Mas nesse campo a coisa pode piorar, e muito, pois não está garantido que os “progressistas” não tenham que se curvar ao velho atraso representado pela triste e perigosa figura de Lula. Sim, o velho que comandou o maior esquema de corrupção do mundo pode voltar livre de acusações, embora contra ele pesem ainda inúmeros processos e, pelo menos, uma sentença em segunda instância e outra a caminho. O sórdido plano, do qual Gilmar Mendes, Toffoli e Lewandowski são os comandantes, visa anular tudo que Moro fez e fazer com que todos os processos comecem de novo na primeira instância. Tanto os ministros do STF quanto o próprio Bolsonaro têm interesse em livrar a cara do corrupto Lula. Os ministros por interesses difusos – ideológicos e pessoais, além de corporativos – e Bolsonaro na esperança de repetir o duelo de 2018, quando enfrentou Lula representado por um poste chamado Fernando Haddad.

Se Lula se livrar e for candidato, poderemos saber se o sofrimento de 14 anos nas mãos do Centrão do PT, dois anos nas mãos do Centrão de Temer e mais quatro anos nas mãos do tresloucado Centrão de Bolsonaro ensinaram alguma coisa ao eleitor. Pois se Lula e Bolsonaro forem para o segundo turno em 2022 será sinal que a maioria dos eleitores não aprendeu nada. E o Brasil inteiro vai continuar sofrendo nas mãos de bandidos dos mais variados calibres.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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