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Dia do Leitor. Por Meraldo Zisman

DIA DO LEITOR

MERALDO ZISMAN

O Dia do Leitor é comemorado anualmente em 7 de janeiro. Esta é uma data dedicada às pessoas que são apaixonadas pela literatura, ou seja, que amam livros!


Os traços das pessoas em nossa cultura são, em grande parte, desenvolvidos pelas leituras. Desconheço leitor (não importa a profissão que desempenhe) que não seja grato aos livros, pelo que eles lhe tenham ensinado: de bom e de ruim. Não existe livro que não ensine nada ao leitor. Na mocidade, lê-se muita coisa ou não se lê nada. Não poucas vezes, lê-se de afogadilho. Lembro-me de certas leituras de minha adolescência que me influenciaram perenemente. Como os livros de aventura do holandês Hendrick Van Loon*, quando afirma:
Longe do Norte, numa terra chamada Svithjod, existe uma rocha. Possui 100 milhas (160,93 km) de altura e 100 milhas de largura. Uma vez em cada milênio, um passarinho vem à rocha para afiar seu bico. Quando a rocha tiver sido totalmente desgastada, então, um único dia da eternidade terá se escoado.
Outro livro que, praticamente, determinou minha escolha profissional, quando estava com 12 anos, foi O Romance da Medicina, de autoria do doutor Logan Clendening, professor de Clínica Médica da Universidade de Kansas, E.U. A, traduzido por Almir de Andrade, 1951, Livraria José Olympio Editoras, presente do meu avô materno.
Certos livros conservam seu frescor como se nunca tivessem envelhecido, principalmente os que contam as histórias da Medicina praticada no início da minha vida profissional. Outros, quando os releio, dão-me a sensação de melhor compreendê-los, seja valorizando-os ainda mais, ou colocando-os no seu devido lugar na importância da minha subjetividade que, na eternidade do tempo, fui caminhando fazendo o leito pedregoso da nova estrada com meus pés descalços.
Lembro-me de Os Lusíadas. Pareciam-me os seus cânticos um inferno didático para os exercícios da análise gramatical. Contraí um horror à maior poesia épica da língua portuguesa. Nas chatices dos meus professores de gramática, na qual se procuravam o sujeito da oração e as predicadoras daquela história de aventura em versos e, quando se pensava que o sujeito estava no fim da frase, estava ele escondido no meio ou no princípio, nunca no lugar em que eu pensava que estivesse. Hoje, sinto parte da grandeza daquela obra de uma maneira bastante diferente dos meus tempos de ginásio.
Às vezes, ao ler um livro, um artigo, uma crônica, uma poesia, minha memória desperta. Adquire aquela leitura uma significação sui generis, incorporada à minha natureza. Outros, tão decantados na adolescência e juventude, não mais me tocam como dantes. Desconheço algo que seja capaz de substituir o sabor de uma leitura, apesar da nova era da informática.
O livro possui textura, beleza gráfica. Sensualidade. Cheiro. As palavras impressas são uma forma de escultura – de letras – de palavras – de frases – dos parágrafos… São, com estátuas impressas, expressões da Arte Gráfica. Há um prazer sensual em folhear as páginas de um bom livro, as suas páginas e capas são como a pele da mulher amada, parecem vivas. Quando um jovem me pergunta quais são os melhores livros para um médico ler, respondo sem titubear:
Leiam os clássicos. Neles encontrarão as novidades do mundo.
* Hendrik Van Loon nasceu em Roterdã, na Holanda, em 1882. Emigrou, em 1903, para os Estados Unidos e trabalhou como jornalista e professor de História Em 1922, o seu livro mais importante foi lançado; A História da Humanidade (Story of Mankind). Faleceu em 1944.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.

 

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