IMAGEM E SEMELHANÇA

À sua imagem e semelhança. Por Edmilson Siqueira

À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA

EDMILSON SIQUEIRA

…o ministério que era o melhor meio ministério dos últimos tempos, aos poucos foi tendo que aceitar a truculência política e desonesta de um presidente completamente despreparado para o cargo, ou se mandar para não se tornar cúmplice não só da desgraça brasileira na economia, no meio ambiente, nas relações exteriores, no aumento do crime organizado, no aumento da violência …

Em pouco mais de dois anos de governo, o presidente Jair Bolsonaro vai moldando sua equipe de ministros e auxiliares mais próximos à sua imagem e semelhança.

Ao iniciar seu mandato, Bolsonaro nomeou uma equipe que, segundo alguns analistas, era o melhor meio ministério dos últimos tempos. Nele pontificavam o ex-juiz Sergio Moro que, conforme entendimento como próprio presidente ao aceitar o cargo, teria carta branca para combater o crime organizado, a violência em geral e a corrupção em particular, um tema caríssimo durante a campanha eleitoral e um dos motivos mais fortes que fizeram com que Bolsonaro fosse para o segundo turno e, nele, vencesse o poste de Lula.

Outro que trazia grandes esperanças para o Brasil era Paulo Guedes. Oriundo da famosa Escola de Chicago, de onde saíram grandes liberais pregando um estado mínimo, sem estatais e liberdade nas relações trabalhistas, entre outras diretivas que, comprovadamente, fazem um país se desenvolver, Guedes entrou prometendo tudo isso e muito mais, com o aval do presidente que o chamava de Posto Ipiranga, aquele que saberia tudo sobre economia que Bolsonaro não sabia.

Na Casa Civil, ministério que normalmente trata das relações políticas o que, por si só, já diz de sua importância, foi nomeado o ex-deputado Onix Lorenzoni, um parlamentar que foi um dos primeiros a apostar em Bolsonaro e ao lado dele fincou bandeira. Com sua experiência parlamentar e a fidelidade ao chefe eleito, a expectativa era enorme em torno de entendimentos com o Congresso para a formação de forte base aliada, sem a velha política do toma-lá-dá-cá ou qualquer sinal de mensalinhos, mensalões, petrolinhos ou petrolões. Era a “nova política” proclamada a quatro ventos.

No Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, um baluarte da honestidade que deplorava a velha política e era ferrenho combatente da corrupção. Todas essas qualidades, cantadas em prosa e verso, podiam ser resumidas num discurso seu, durante reunião partidária, onde ele cantou famosos versos de um samba, trocando a letra: “Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”, cantou ele. A palavra “centrão” entrou no lugar de “ladrão” , para delírio da plateia.

Um astronauta da Nasa, com invejável currículo, foi nomeado para o Ministério da Ciência e Tecnologia. The right man in the right place? Pois Marcos Pontes, oficial da reserva da Aeronáutica, entrou no Ministério e logo se colocou sob holofotes da Imprensa, onde mostrou seus conhecimentos em várias áreas. Como o setor de Ciência e Tecnologia é um dos mais sensíveis e de onde podem sair inúmeras soluções para o desenvolvimento do país, a expectativa de um cientista tão bem formado era grande, enorme mesmo.

Nas Relações Exteriores, Bolsonaro colocou um diplomata com 29 anos de experiência que estava trabalhando como diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Ernesto Araújo. Um diplomata que havia servido na Alemanha, no Canadá e nos Estados Unidos. Ou seja, tinha tudo para dar certo, para concretizar parcerias firmes com países importantes, do primeiro mundo, que haviam tido uma relação arisca com os governos petistas e não tiveram tempo de restabelecer relações melhores no curto período de Michel Temer. Mas agora tudo iria melhorar.

Para a Saúde, o médico e político Luiz Henrique Mandetta era um nome desconhecido, mas mostrou toda sua capacidade de liderança e de conhecimento no combate da pior pandemia que o Brasil e o mundo já enfrentaram. Foi uma surpresa para todos sua atuação e, apesar de tudo que já havia acontecido no Brasil por culpa de Bolsonaro até aquele instante, percebia-se que, pelo menos essa pandemia, o Ministério da Saúde saberia enfrentá-la.

Havia outros nomes notáveis no ministério inicial de Bolsonaro, como a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, defensora do agronegócio que representa cerca de 30% das exportações do Brasil e cujo crescimento  pode colocar o Brasil na vanguarda da alimentação mundial, o que nos faria um player dos mais importantes no concerto das nações. Era essa a ideia da ministra.

Como se vê, era um início que se avizinhava promissor. Mas o que fez Bolsonaro nesses dois anos? O relato a seguir é um horror e nele não há nada fruto da minha imaginação. São fatos.

O ministro Sergio Moro entrou em rota de colisão com a falta de honestidade do presidente e de seus filhos. Descobertas os trambiques todos que a família Bolsonaro havia cometido durante longos anos na política, o presidente passou a exigir de Moro relatórios sobre os próximos passos das investigações que lhe fossem sensíveis, o que envolvia os amigos mais próximos e algumas facções de milicianos do Rio, além da extensa família. Moro, obviamente, não concordou em usurpar suas funções, trair sua consciência e, com o poder que o cargo lhe dá, burlar a lei. Preferiu sair.

Paulo Guedes, o Chicago’s boy,  que prometeu uma economia liberal, não conseguiu passar nenhuma reforma importante. A da Previdência, única aprovada, foi um arremedo do que se pretendia e seus efeitos talvez sejam sentidos só pela próxima geração, se não mudarem, pra pior, alguns  artigos importantes até lá. As privatizações, com as quais dissera que arrecadaria um trilhão de reais, ainda não saíram do papel. Pior, o homem contratado para tocá-las deixou o governo por falta de apoio e de vontade do governo em apoiá-lo naquilo que ele foi nomeado para fazer. Hoje, vive de promessas que não se cumprem, de medidas que toda semana ele diz que “na semana que vem” estarão no Congresso e, feito um fantoche do presidente, aguenta todo desaforo e toda vergonha que seu chefe o faz passar. O mercado já age como se ele não existisse.

O general Heleno, bandeira da honestidade no governo, simplesmente deu gigantesca banana para preceitos morais. Agarrou-se ao cargo e passou a defender alianças espúrias, com pessoal da mais alta corrupção, para que seu chefe não sofresse um processo de impeachment. Pior: atacou o STF por agir dentro da lei em processo onde Bolsonaro é suspeito e a agência que está sob seu comando agiu ilegalmente para ajudar na defesa do filho do presidente. E Heleno negou todas as evidências da ilegalidade. Ou seja, de baluarte da luta contra a corrupção, passou a atacar instituições democráticas para defender corruptos.

O astronauta que pousou na Ciência e Tecnologia tem como maior feito anunciar um vermífugo que seria um remédio milagroso contra a Covid 19, o que faria o Brasil salvar o mundo da pandemia que se alastrava pelos continentes todos e que hoje só se alastra basicamente no Brasil E não só pelo fato de que o vermífugo só serve para o que está na bula dele como também porque o governo do seu chefe tem tal ojeriza por qualquer medida contra a peste e contra as vacinas, que parece querer que o maior número possível de brasileiro morra sem ar e sem UTIs por aí consumido pelo vírus. E o ministro da Ciência e Tecnologia (!!!) continua no cargo, como mais um cúmplice do assassinato em massa.

Ernesto Araújo, aquele das Relações Exteriores, usou seus discursos perante outras nações para pregar a filosofia de seu guru, o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, cujo vocabulário tem mais palavrões que os perdigotos que lança em seus rompantes, e para declarar inimigos da humanidade todos os governos que são ou que um dia foram de esquerda. Para ele, um diplomata que deveria conhecer muito bem a história, o Muro de Berlim ainda deve estar de pé e Joseph Stálin ainda comanda a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Faz um combate imbecil que o tem transformado em piada nos círculos internacionais.

Mandetta, a ótima surpresa do governo Bolsonaro, com sua atuação científica à frente da Saúde no combate à pandemia, passou a trombar com as inacreditáveis opiniões do seu chefe e a causar ciúmes por estar sendo bem-visto por todos. Passou a ser tratado como “inimigo” pelo rebanho cego que segue Bolsonaro e acabou sendo demitido. Em seu lugar, um técnico honesto não deu certo. Entrou um general troglodita que, por ser um general troglodita, caiu no gosto do chefe.

A ministra da Agricultura o que mais tem feito é tentar apagar os incêndios provocados por Bolsonaro, família e ministros como Ernesto Araújo, não só nas florestas brasileiras – que geram grandes ameaças ao agronegócio e fazem o Brasil bater recordes de desmatamento – mas também nos discursos de ódio contra parceiros de longa data do Brasil, como a China, nosso maior comprador. Tem andado na corda bamba e pode não resistir mais a qualquer momento.

Assim, o ministério que era o melhor meio ministério dos últimos tempos, aos poucos foi tendo que aceitar a truculência política e desonesta de um presidente completamente despreparado para o cargo, ou se mandar para não se tornar cúmplice não só da desgraça brasileira na economia, no meio ambiente, nas relações exteriores, no aumento do crime organizado, no aumento da violência no aumento da corrupção, mas também ser cúmplice do assassinato em massa de mais de cem mil brasileiros que poderia ter sido evitado, caso o país fosse governado por alguém normal, não por um psicopata assassino.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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5 thoughts on “À sua imagem e semelhança. Por Edmilson Siqueira

  1. 1. “… o médico e político Luiz Henrique Mandetta era um nome desconhecido, mas mostrou toda sua capacidade de liderança e de conhecimento … ”

    2. “… Mandetta, a ótima surpresa do governo Bolsonaro, com sua atuação científica à frente da Saúde no combate à pandemia … ”

    voce ta de sacanagem ne?

    1. Sim estou de sacanagem. Quem não está é o Pazuello, com suas datas mentirosas, com seu incentivo ao tratamento precoce e à cloroquina, enfim, com incentivo à morte por covid 19.

  2. Pensei que a idade trouxesse um pouco de bom senso, mas no seu caso, creio que ainda deve estar gritando lula livre.
    Vc é uma piada!

  3. Não sei sua idade, mas luto contra o petismo antes de Lula ser eleito presidente. E posso, tranquilamente, provar, já que nunca deixei de dar minha opinião em colunas e artigos escritos há, pelo menos, três décadas. Em Campinas, onde moro, posso dizer que fui pioneiro na imprensa a denunciar o lulo-petismo, desde o governo do prefeito Jacó Bittar, eleito em 1988.

  4. EDMILSON SIQUEIRA disse:
    3 de março de 2021 às 15:38

    Sim estou de sacanagem.

    -> que bom que reconhece!

    Quem não está é o Pazuello, com suas datas mentirosas, com seu incentivo ao tratamento precoce e à cloroquina, enfim, com incentivo à morte por covid 19.

    -> um erro nao justifica outro. O fato do atual ministro ser pessimo nao faz do antecessor esse ser ilibado q voce descreve

    o cara so dava entrevista e voce aplaude ele?

    se ele e tao bom assim, me diga o que ele fez pela saude dos brasileiros nos 14 meses anteriores a pandemia?

    deixa de ser idiota rapaz

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