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Em quem me arrependi (ou não) de votar? Por Antonio Silvio Lefèvre

EM QUEM ME ARREPENDI (OU NÃO) DE VOTAR?

ANTONIO SILVIO LEFÈVRE

O “menos pior” em Brasília e aqui em São Paulo

Perdi a conta de quantas eleições tive que tampar o nariz e votar num candidato que não apreciava nem um pouco, mas que parecia, naquele momento, ser o “menos pior”. Quando comparado a Adhemar de Barros, Paulo Maluf e outros do gênero.  Em nenhum dos casos me arrependi da escolha, por pior que fossem os candidatos eleitos, pois os não eleitos teriam sido muito piores.

Meu primeiro grande arrependimento foi votar no Bozo, para tirar o PT da cena.  E o “culpado” pelo meu erro foi o Doria, que fez esse mesmo raciocínio ao criar o “Bolsodoria”, do qual deve estar  muito mais arrependido do que eu mesmo. Pois nem ele, nem eu, nem tantos fiéis eleitores do PSDB imaginavam que esse indivíduo fosse se tornar o pior presidente da história brasileira, um verdadeiro monstro. Sabíamos que ele era péssimo, admirador da ditatura (da qual eu fui vítima, preso e exilado), mas achávamos que, por ser oportunista, Bolsonaro iria ceder a vozes razoáveis, quando eleito.

Eu, como tucano raiz, sempre segui a orientação do partido deste que considero o melhor presidente que já tivemos: FHC. Já escrevi aqui um artigo explicando o porque  da minha avaliação. E por essa fidelidade tucana, ouvindo o Doria, tampei o nariz e dei o voto de que mais me arrependi em minha vida de eleitor, desde a década de 1960… O PT de novo no poder teria sido muito ruim, mas com tudo o que a Lava Jato já tinha desvendado e condenado… e com o Moro em ação, naquele momento… seria difícil que continuassem  fazendo tanta roubalheira de novo, pois seriam pegos na  hora… Se a eleição fosse hoje eu teria tampado o nariz e votado no Haddad, mesmo tendo detestado a gestão dele em São Paulo, por vários motivos. O menos  pior era ele, percebi tarde demais.

Fiel à posição social democrata do PSDB, sempre apoiei seus candidatos. Claro que em primeiro lugar FHC, mas também José Serra e Aloysio Nunes, que conheci no exílio e sempre admirei, até ajudando com assessoria gratuita em suas campanhas. Além do grande Mario Covas, de cuja gestão em São Paulo fui até convidado a participar.E também de Geraldo Alckmin, um político muito sério, além de médico e aluno de  meu pai, quando estagiário na FMUSP, segundo ele mesmo me contou, ao sentar-me ao seu lado numa cerimônia de Yon Kippur no clube Hebraica de São Paulo. Além de excelentes vereadores, como o também amigo Daniel Annenberg, de cuja campanha participei e que, infelizmente, não foi reeleito.

Por essas e outras nunca havia me arrependido de ter votado em algum candidato tucano, mesmo no caso de Aécio, com o qual nunca simpatizei, mas que, se eleito, teria o meu amigo Aloysio como vice presidente, o que seria um conforto, principalmente se soubesse a encrenca em que Aécio iria se meter. Mas agora, pela primeira vez, tenho me surpreendido, muito negativamente, com um candidato tucano no qual, naturalmente, votei na eleição para prefeito de São Paulo, o Bruno Covas.

Em primeiro lugar por sua gestão confusa, contraditória, personalista em relação ao combate à pandemia, tomando decisões sozinho para a Capital, sem acertar os ponteiros com o Doria, para haver uma coerência estadual. Antecipando feriados e criando verdadeiras “férias” em março e abril que, sob o pretexto de proteger os paulistanos, acabou gerando mais passeios na própria cidade e em direção ao litoral. E inventando essa de mudar o rodízio dos automóveis para a noite, quando o tráfego já é muito menor do que à tarde, contribuindo assim para espalhar mais vírus durante o dia. Não tomando nenhuma providência séria para as aglomerações nos ônibus e metrô.

Talvez essas trapalhadas se devam à incompetência ou falta de bom senso de assessores que deviam segurar os impulsos “brunianos” ou, quem sabe, eles não foram consultados ou não foram ouvidos.
Mas há graves falhas também em outras áreas, como o serviço do 156, destinado a ouvir as queixas dos munícipes, mas que na maioria das vezes nem sequer responde a esses. Eu tenho queixas protocoladas há meses no 156 por aglomerações, com muito ruído, em restaurante próximo à minha casa. Das quais nunca tive retorno algum.

E agora, tive a pior de todas as surpresas com a gestão Bruno Covas de 2020, quando ele já era prefeito, antes de ser reeleito (com meu voto, é claro). Neste trágico ano pandêmico de 2020, devido a dificuldades financeiras, deixei de pagar 4 parcelas do IPTU (bem caro!) da minha casa, de maio a agosto.  Acreditei em notícias de que, em função da pandemia, iria haver prorrogação dos vencimentos, sem cobrança de encargos. Paguei as seguintes de 2020 e as primeiras de 2021 e agora tentei pagar as vencidas de 2020  e, terrível surpresa, fui informado de que não apenas não tinha havido prorrogação alguma dos vencimentos como elas  já tinham sido lançadas na Dívida Ativa da União, com um acréscimo de 58,7% em relação ao valor original das parcelas! Quase 60% de encargos em menos de 1 ano, na média!

Estranhei muito esse valor e principalmente a postura da PMSP que não teve nenhuma benevolência com o munícipe neste ano terrível de 2020, que continua pior em 2021 e, além disso, o desrespeita, cobrando um absurdo de acréscimo, sem informar nada antes de levar para a dívida ativa. E, pior, não faz uma demonstração do valor cobrado. A gente tem que acreditar no total que informam e ponto final.

Muito “bonzinhos”, os financeiros do Bruno, oferecem a possibilidade de pagar essa dívida que me atribuem, com parcelamento a longo prazo e com juros baixos.  Não tenho alternativa senão engolir essa. Mas assim isso me causa mais revolta ainda, pois como é que eles têm a audácia de cobrar mais juros em cima dos juros absurdos que não explicaram?

Doria, quando prefeito de São Paulo, acabou com a “indústria de multas”  de trânsito do seu antecessor Haddad, que era motivada apenas pelo desejo de fazer caixa com dinheiro dos proprietários de carros que, na visão petista, são  todos ricos. Esperava eu que, como sucessor de Doria, Bruno Covas também não tivesse como prioridade fazer caixa a qualquer custo, inclusive com a espoliação dos munícipes.  Mas percebi, no próprio bolso, que errei redondamente na minha suposição de que Bruno pensasse no bolso dos seus eleitores. Será por raiva do “bolsodoria”?

E agora a grande pergunta que me faço é esta:  terei me arrependido de votar no Bruno Covas?  Pois é, pela mesma e eterna lógica do “menos pior”, se o seu oponente Boulos tivesse sido eleito, em vez de Bruno deixar me espoliarem no IPTU, o outro era capaz de mandar os sem-teto invadirem casas nos Jardins e, de repente, até no meu bairro, que não é tão longe.

Assim, mesmo que eu  pudesse prever as falhas do Covas, com certeza continuaria a votar nele, não como o bom, ótimo, que eu imaginava, mas apenas como o “menos pior”.

Como tucano “raiz”, espero que Doria passe um bom pito nele por causa dessa espoliação no IPTU.  Conto com você, Doria, pois continuo apostando na sua candidatura para 2022. Não como o menos pior, mas como o melhor para tirar de lá o Bozo se, infelizmente, os deputados não tiverem a honestidade e a decência de “impichá-lo” bem antes.

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ANTONIO SILVIO LEFÈVRE é sociólogo (Université de Paris), editor e livreiro. Interpretou Pedrinho na 1ª adaptação do “Sítio do Picapau Amarelo” para a TV, em 1954. Veja no Museu da TV.

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1 thought on “Em quem me arrependi (ou não) de votar? Por Antonio Silvio Lefèvre

  1. Seu artigo é ótimo, mas faço uma observação…
    Em relação do Fernando Henrique Cardoso, fico com um pé atrás… bem atrás… Não creio que ele é a sumidade que o Sr. deixa transparecer em seu artigo. Afinal, não só “fez o diabo” para conseguir a aprovação da prorrogação de mandatos, como também indicou o Gilmar Mendes e o Noronha – dois elementos que envergonham o judiciário. Quanto ao Plano Real… levou a glória, mas o Presidente na ocasião era o Itamar Franco – na minha opinião, o melhor presidente do Brasil pós restabelecimento da democracia. Ainda, FHC sempre foi um admirador do Lula (apesar de tudo…) – é só lembrar suas atitudes quando da eleição para quem o substituiria, e a omissão na candidatura Serra. Ainda hoje, nos jornais, há a declaração dele que votaria no Lula – veja só, ainda faltam 18 meses para a eleição, muita água para correr sob a ponte, e ele já tem candidato… o Lula…

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