REJEIÇÕES

Rejeições. Por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão

Rejeições. Desocupando a moita…As pesquisas Qaest* – e outros institutos – sobre tendências eleitorais para 2026 revelam rejeições próximas de 60%, tanto a Bolsonaro quanto a Lula.

REJEIÇÕES

Não sei quem teve a brilhante ideia de apaziguar o clima de ódio desencadeado no campo da política, sugerindo aos dois potenciais candidatos à eleição para Presidente da República, em 2026, saírem do caminho. Ambos já ocuparam o cargo, gozam dos privilégios de serem “exs”, já aquinhoaram com benefícios familiares, amigos e correligionários e, nenhum dos dois fez uma gestão presidencial que os capacite a retornar. Seria um exagero e até abuso da ingenuidade popular. Ambiguamente gozam de grande popularidade, mas também de uma enorme rejeição. Alimentam-se do marketing do ódio, travando falsas batalhas, escondendo dos cidadãos, ou camuflando verdades com versões. Além de tudo, os dois são fortes candidatos a serem derrotados nas próximas eleições. E a culpa não seria do Centrão. É deles mesmos.

Ambos defendem teses pessoais, mas nenhum deles tem projeto de governo capaz de despertar a confiança da população, concretizar um perfil identitário para o povo brasileiro e dar uma configuração definitiva para a sociedade nacional. Somos um laboratório da História. Nas preliminares, enquanto um tentou se amparar no padrão de caserna, fora de moda, o outro não consegue se livrar do obsoleto modelo sindicalista, cujos interesses de classe sustentou – pasmem – o regime mussolinista na Itália.

Embora tenha desempenhado três a quatro mandatos no Congresso Nacional Bolsonaro sempre foi considerado no Congresso um “destemperado”. No Exército, de onde veio, chegou a ser desligado, por indisciplina. Lula, sem experiência política ou de gestão, sequer municipal, senão como líder sindical, vem tentando emplacar seu “modelito” para a política nacional, deslizando entre um desfrute pessoal das benesses do Poder Público, uma visão sindical – trabalhar mesmo foi pouco – e uma revanche contra os que lhe condenaram à prisão. Não chegou ainda aos seus limites – passa perto – porque tem se pautado pelos conselhos do ex-advogado particular, de lideranças militantes de esquerda defasadas e de professores, diplomatas como Marco Aurélio Garcia e de Celso Amorim que, na penumbra do Estado, guiam-no para mundos, parcerias e situações delicadas, envolvendo o povo brasileiro em vias “nunca antes navegadas”, com intempestivas rupturas.

Bolsonaro fica aí navegando nas controvérsias criadas pelo Partido do Governo que estimula, com atitudes e falas odientas a visibilidade pública de ambos. Ninguém confia nas suas ações afirmativas, amparadas, no caso da atual gestão presidencial, no tal de PAC- Programa de Ação Concentrada – que se propõe a impulsionar o crescimento econômico, usando o dinheiro dos outros, aumentar o emprego e melhorar as condições de vida da população. Inflação e juros estão lá em cima. Até agora só se viu uma gastança generalizada e redistribuição do dinheiro público em programas populistas (bolsas individuais para todo lado) com conotações aparentemente eleitoreiras. Cheio de contradições, para resolver os problemas de saúde aconselha a população a procurar os serviços do SUS, mas ele frequenta mesmo é o Hospital Sírio-Libanês, um dos mais caros do País, evitando o INSS e o Einstein, este último de origem israelita.

Estou terminando de ler aqui o livro do jornalista Larry Rohter “Deu no New York Times” (Objetiva, 2007), uma obra seminal sobre o personagem. Norte-americano, casado com uma brasileira, foi designado em 1978 como correspondente no Brasil.

Assistiu de perto a ascensão sindical e política de Lula. “Era pessoalmente simpático às muitas das suas aspirações”. Depois trabalhou em vários países do mundo, inclusive no México e na China, mas acompanhava de longe as movimentações do novo líder sindical brasileiro. Encontrou-se pela última vez com Lula em El Salvador, numa reunião do Foro de São Paulo. Ao retornar para o Brasil, uma única reportagem, cujas fontes estavam dentro do próprio Palácio do Planalto, chegou a provocar a assinatura de um decreto de expulsão, que teve de ser revogado porque o seu jornal não embarcou na versão oficial do Planalto.

– “Fiquei puto, porque como pode um cidadão que nunca conversou comigo, que nunca tomou um copo de cerveja comigo, que nunca tomou um copo de água comigo, (tomou caipirinha) fazer uma matéria de que eu bebia?!”

Foi a pá de cal para Rohter duvidar do que Lula falava. Rohter não só se encontrara várias vezes com Lula, no Brasil e no exterior, com tinha fontes dentro do Partido dos Trabalhadores e do próprio gabinete do Presidente. [“…Como muito do que Lula disse sobre tantas coisas ao longo dos anos, ele – concluiu: … ele não é correto”]. Por causa da matéria, chegou a ser chamado pela imprensa brasileira de “espião”. Nesse momento, Bolsonaro era ainda uma figura nas sombras.

Portanto, embora queira reescrever a própria história, pouco simpático à leitura e à educação, Lula é um criador convicto e contumaz de novas narrativas para as realidades vividas pelo incomodado povo brasileiro. Aconselhado pelos Kirchners, da Argentina, e conselheiro de Maduro, da Venezuela, tem profundas simpatias pela transgressão, embora, a seu modo, ameace – referindo-se vagamente – aos “corruptos” , ao enunciar versões e conceitos que apenas tangenciam os fatos, tentando desviar a atenção dos cidadãos sobre os acontecimentos e os escândalos verdadeiros dentro do governo .

Bolsonaro também tentou fazer isso, mas não conseguiu gerir, não só o governo, mas sobretudo as versões dos fatos, tratados com uma rudez iletrada e uma impaciência desbragada. Ambos trabalham com estatísticas pouco confiáveis. O vice-presidente, Alckmin, embora tenha sido um governador de São Paulo reputado com um homem probo – a menos que alguém tenha informação contrária – acomodou-se nas “asas da graúna” (ave onívora, comum no Nordeste, da família Icteridae, conhecida por seu canto melodioso e vulnerável ao tráfico de animais silvestres, que come frutos, insetos e até aranhas. No Maranhão é chamado de “chupão”. Ao ser cooptado para vice-presidente da República na chapa de Lula, conseguiu destruir seu próprio partido de origem, o PSDB, que chegou a eleger, por duas vezes, um Presidente da República, governadores e milhares de prefeitos.

As pesquisas Qaest* – e outros institutos – sobre tendências eleitorais para 2026 revelam rejeições próximas de 60%, tanto a Bolsonaro quanto a Lula. Os dois foram péssimos presidentes. Então não é só a Janja e a polícia baiana, acobertando a violência no sertão, que alimentam a perda de credibilidade de Lula. Com 76 anos, saúde debilitada, ele devia repensar sua suposta candidatura. Já que a Janja gosta de viajar, leve-a para morar ou passar férias na chamada “Riviera russa”. Deixe a francesa para trás. Lá tem Macron.

O certo é que tanto Lula quanto Bolsonaro são fortes candidatos a perderem a próxima eleição. Não faltam quem possa derrotá-los: Tarcísio Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Ratinho (PR), Eduardo Leite (RS), João Henrique Campos (PE). São nomes fortes, filiados a partidos representativos, e com belas passagens pelos respectivos governos regionais. Lula ou Bolsonaro novamente no Poder será uma enorme retrocesso para a história do País. Se os ministros do Supremo Tribunal gostam se meter em política, porque não propõem ao Congresso que estabeleça a obrigatoriedade dos candidatos à Presidência da República apresentem compulsoriamente programas de Governo no momento da inscrição eleitoral?

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Aylê-Salassié F. Quintão –  Consultor de projetos sociais | Consultor da Catalytica Empreendimentos e Inovações Sociais. Jornalista, professor, doutor em História Cultural, ex-guarda florestal do Parque Nacional de Brasília Vive em Brasília. Autor de  “AMERICANIDADE”, “Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018
Autor, entre outros, de Lanternas Flutuantes:
Português –   LANTERNA FLUTUANTES, habitando poeticamente o mundo
Alemão – Schwimmende-laternen-1508  (Ominia Scriptum, Alemanha)
Inglês – Floating Lanterns  
Polonês – Pływające latarnie  – poetycko zamieszkiwać świat  
novo livro de Aylê-Salassiê: TERRITÓRIO LIVRE!

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