Bom senso e o pragmatismo. Josef Barat
Bom senso e o pragmatismo
Josef Barat
A excessiva presença estatal, impôs graves desequilíbrios fiscais e inflação elevada. Por outro lado, a recorrência entre as proteções de mercado e os baixos níveis de produtividade limitaram a competitividade em um mundo cada vez mais integrado…
Artigo publicado originalmente em O Estado de S. Paulo, 16 de julho de 2016
Após a Segunda Guerra Mundial, uma corrente de economistas entendeu que, para atingir o pleno desenvolvimento, os países retardatários deveriam percorrer uma sequência de etapas. Por essa visão determinista, haveria em cada etapa uma adequada composição de poupança, investimento e recursos externos que garantiria um crescimento continuado, tal como ocorrera nos países desenvolvidos. Portanto, atingir patamares mais elevados de desenvolvimento significava repetir tais padrões.
Nos anos 60 e 70, esta visão linear de estágios e repetição de padrões foi sendo substituída por duas correntes de pensamento (e de ideologia) competindo entre si. Um grupo de economistas direcionou o seu foco para as chamadas mudanças estruturais, consideradas necessárias para superar as amarras do subdesenvolvimento. Para eles, havia significativas restrições de caráter estrutural que travavam a sucessão de estágios.
A outra corrente, com postura mais radical, centrou sua análise na questão da dependência. Os países subdesenvolvidos – exportadores de bens primários por razões históricas – teriam que vencer a dependência externa e a dualidade econômica e social dela resultante. A ênfase nas restrições internas e externas de ordem institucional e política, visava chamar a atenção para as questões relacionadas às desigualdades sociais e pobreza crônica, que não seriam resolvidas apenas com o crescimento do Produto Interno Bruto.
Nos anos 80 e 90, surgiu uma nova abordagem para a questão do desenvolvimento. Tratava-se da abordagem neoclássica (ou neoliberal). Diante das consequências das políticas de reservas de mercado, fechamento da economia, industrialização a qualquer custo e participação maciça dos investimentos estatais, emergiu uma realidade preocupante. Um conjunto de problemas gerados pelas políticas desenvolvimentistas, acabava paradoxalmente por inibir o crescimento.
A excessiva presença estatal, impôs graves desequilíbrios fiscais e inflação elevada. Por outro lado, a recorrência entre as proteções de mercado e os baixos níveis de produtividade limitaram a competitividade em um mundo cada vez mais integrado. A drástica redução do investimento público acabou por reduzir as taxas de investimento e o crescimento. Assim, os economistas dessa corrente de pensamento propugnavam estimular o crescimento, por meio da maior abertura comercial, controle dos gastos públicos e da inflação, liberdade de mercado e participação privada nos investimentos nas infraestruturas.
O Brasil é um pais que flerta insistentemente com o passado e abdica da capacidade de formular estratégias de futuro, enfrentando assim situações recorrentes de retrocesso…
A perspectiva que hoje ganha corpo entre economistas mais pragmáticos é a de considerar esses quatro enfoques de forma integrada, pois cada um desvenda uma parte do problema. Evidentemente, todos têm suas virtudes e fraquezas e, por isto, deve prevalecer o bom senso e o pragmatismo – e não as ideologias – na formulação das políticas econômicas. Nos países onde prevaleceram políticas com visão de curto prazo, eivadas de populismo e propostas ideológicas ultrapassadas, o resultado foi a estagnação ou o retrocesso. Por outro lado, países retardatários onde preponderaram o pragmatismo e a capacidade de combinar as virtudes das diversas visões do desenvolvimento, tiveram sucesso e ingressaram no grupo das nações desenvolvidas.
O Brasil é um pais que flerta insistentemente com o passado e abdica da capacidade de formular estratégias de futuro, enfrentando assim situações recorrentes de retrocesso. Nossos economistas assistiram confortavelmente a catástrofe em meio a calorosos embates entre “desenvolvimentistas” e “neoliberais”. Esqueceram que em um pais pobre, com baixos níveis de investimento e infraestruturas precárias todos têm razão ao discutir e gritar, mas poucos querem de fato uma solução.
Não há doutrinas ou paradigmas excludentes para o desenvolvimento, pois sempre a experiência e o conhecimento lançam novos olhares. Portanto, uma vez viradas as páginas do populismo inconsequente, da “Nova Matriz” e da irresponsabilidade fiscal, ingressaremos em um novo capítulo. Que sejam bem-vindos o bom senso e o pragmatismo, para que o país volte a crescer.
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Josef Barat – Economista, Consultor de entidades públicas e privadas, é Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo.