Rio

Beleza não põe mesa. Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Beleza não põe mesa

Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

…Será que a ninguém ocorreu que um posto policial, sem a contrapartida de uma política social importante – creches, escolas, clínicas de família, saneamento – não bastaria para desenvolver uma geração bem estruturada, disposta a não permitir que o Mal vencesse o Bem?…

Publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 14 de outubro  de 2016

Não pense o Leitor que ao dizer isso declaro que a extraordinária beleza do Rio de Janeiro acabe por cansar seu morador. Longe disso, o único alívio que temos em nosso conturbado dia a dia é a suntuosa visão do estojo no qual Deus pousou o Rio.

Como disse um amigo de Coimbra ao olhar para o mar do alto da Estrada das Canoas: “isto é impressionante, extasiante, espetacular!”.

Essa é a sensação que temos, cariocas da gema ou por opção, ao atravessar o Túnel Rebouças e dar com a beleza comovente da Lagoa, um simples aperitivo para o deslumbramento que virá a seguir, com o Cristo lá no alto abençoando a cidade.

O Rio sempre foi acolhedor com seus visitantes, assim como amado por seus moradores. Cariocas, graças a essas bênçãos de Deus, fizeram desta cidade um lugar acolhedor, cuja simpatia rivaliza com a beleza e a tornam um local que os estrangeiros amam visitar e ao qual sempre planejam retornar.

Mas talvez fosse melhor usar os verbos no passado. Sinto que a visita ao Rio será adiada…

O Rio anda violento, bravo, assustador. As UPPs, criadas pelo então Secretário de Segurança José Mariano Beltrame para pacificar as comunidades carentes em áreas menos aquinhoadas da cidade, excelente ideia à qual faltou a adesão firme e forte do governo do Estado, não conseguiram conter o avanço da criminalidade, brutal e estúpida. Será que a ninguém ocorreu que um posto policial, sem a contrapartida de uma política social importante – creches, escolas, clínicas de família, saneamento – não bastaria para desenvolver uma geração bem estruturada, disposta a não permitir que o Mal vencesse o Bem?

  …Quando tivemos dinheiro não implementamos o que era necessário. Agora, que estamos quebrados, não adianta chorar pitangas…

Faltou isso tudo, mas não faltou a visão do Lula e seu governador Sergio Cabral em um teleférico ligando a Praça General Osório, coração de Ipanema, ao alto do Pavão-Pavãozinho. Necessário? Pode ser. Se viesse depois das políticas sociais acima mencionadas, talvez merecesse os adjetivos da senhora Christine Lagarde, diretora do FMI que, certamente deslumbrada pela paisagem, não reparou onde o teleférico a levava e declarou que se sentia nos Alpes!

Foi pena que ela não estivesse no Rio no último dia 10 quando, durante um tiroteio violento que ecoou nas imediações da comunidade Pavão-Pavãozinho, as pessoas que vivem, trabalham e circulam por ali de repente não vissem um corpo de homem cair do alto do morro, morto ou vivo, ainda não se sabia ao certo.

Os cariocas perceberam que a ilusão da cidade unida acabara. Vencia a realidade da cidade partida.

Quando tivemos dinheiro não implementamos o que era necessário. Agora, que estamos quebrados, não adianta chorar pitangas. Mas quem sabe podemos exigir que o poder público ao menos controle seus presos e respeite o que o secretário Beltrame – e todos os cariocas de bom senso – pedem: chega de licença de saída da prisão em datas festivas, como Natal, Dia das Mães, e outras.

O bandido que comandou a ação que resultou no tiroteio no Pavão-Pavãozinho estava usufruindo de uma licença da prisão desde maio, para comemorar o Dia das Mães.

Uma flor de rapaz, com toda a certeza…

____________________________________________________

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
https://www.facebook.com/mhrrs e @mariahrrdesousa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter