A fogueira das vaidades. Coluna Carlos Brickmann

A FOGUEIRA DAS VAIDADES

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 25 DE AGOSTO DE 2019

O que até agora era bravata, “não é insulto, é o jeito dele”, “ele não é diplomata mesmo”, está a ponto de virar problema sério: a pedido da França, o G7, grupo dos países mais ricos do mundo, está reunido para ver o que faz com “a crise na Amazônia” – sem que ninguém se desse ao trabalho de avisar o país em que a queimada acontece, o Brasil. Tudo bem, os Estados Unidos (que tiveram gigantescos incêndios na Califórnia, com dezenas de mortos, sem que nenhum país europeu discutisse “o que fazer com a crise”) devem matar a bobagem, como maior economia do G7. Mas países europeus, cuja opinião pública está pronta para revidar as ofensas que Bolsonaro já lhes dirigiu, podem dificultar as importações do Brasil (e prejudicar o andamento do acordo União Europeia – Mercosul). Os agricultores franceses e alemães, que sobrevivem com altos subsídios, ficariam felizes. E é politicamente correto atingir um presidente cujas declarações públicas são tão inadequadas.

A última agressão, aliás, não é de Bolsonaro, mas de Eduardo, diplomata da família. Compartilhou no Twitter a mensagem “França em crise: Macron é um idiota”. A França é parceira do Brasil na construção de submarinos e de um reator nuclear destinado a produzir isótopos para remédios.

Pode ser que o G7 decida oferecer ao Brasil ajuda para combater o fogo. Mas depois que o presidente disse que não precisamos de doações europeias?

O fogo e o fato

Há queimadas e queimadas. Há as queimadas legais, em áreas agrícolas consolidadas, e queimadas ilegais, em áreas de preservação invadidas para formar fazendas, abrir caminho para garimpos, ou facilitar o transporte das árvores de boa madeira clandestinamente abatidas. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, ligadíssima ao agronegócio, pediu a prisão dos incendiários. Mas, com as notícias que circulam na Europa, não será difícil colocar a culpa no agronegócio, que está fora disso, e afastar a competição brasileira.

O fogo de sempre

Já as queimadas legais – para tirar o mato que atrapalha o plantio – essas sempre ocorreram. Como ocorrem em canaviais não mecanizados, em que se bota fogo na plantação para permitir a colheita. Quem mora perto de canaviais sabe o que é a queimada. Suja tudo. É ruim, mas ainda essencial.

Em tempo

A situação não é tão péssima quanto se imagina, mas já é suficientemente ruim para nos preocuparmos. É tão ruim que até Bolsonaro já se mobiliza para enfrentá-la. Em vez de acusar as ONGs e os governadores adversários de tocar fogo na floresta, estuda medidas de emergência para circunscrever o incêndio e evitar que se propague ainda mais até que as chuvas o apaguem. A mobilização envolve Forças Armadas, Força Nacional e até colaboração com os governadores da região, por mais adversários que sejam. O incêndio não é o fim do mundo, mas é preocupante. Exige um esforço concentrado, com menos discursos, menos explicações e mais estudo, com ação imediata.

Moro, quem?

Desta vez Bolsonaro não se limitou a passar por cima de Sergio Moro, como em outras ocasiões, como quando jogou para o futuro o projeto anticrime que é a paixão do ministro da Justiça. Disse que não quer no cargo o diretor-geral da Polícia Federal e, se ele não pedir demissão nem for demitido por Moro, o ministro da área, ele mesmo o trocará. “Por lei, o diretor-geral é indicado por mim, não por Sérgio Moro”. Moro nada disse, como nada disse quando foi desautorizado outras vezes. O que se comenta é que ele ficará no Governo apesar de tudo, esperando que Bolsonaro assuma o ônus de demiti-lo – a ele, seu ministro mais popular.

O fato é que Bolsonaro prometeu a Moro, ao convidá-lo, total liberdade de ação, E ele acreditou.

Foi sem ter sido

Talvez Bolsonaro não se dê ao trabalho de demitir Sergio Moro, que tem popularidade e não cria problemas públicos, aceitando ser desautorizado sem romper o obsequioso silêncio a que se submete. E para que afastar do Governo um ministro que nunca chegou a fazer parte do Governo?

O nome do jogo

Bolsonaro só corre um risco: o de Sergio Moro se manter popular, mesmo depois de tudo o que vem passando. Pois aí vai virar candidato à Presidência.

O adversário

Quem se movimenta muito para ser candidato em 2022 é o governador de São Paulo, João Doria, PSDB. Vem fazendo críticas duras a Bolsonaro (a quem apoiou discretamente no primeiro turno e abertamente no segundo), mas mantendo certa elegância. O que se diz é que Doria aguarda a eleição do ano que vem, em que o apoio ou a omissão de Bolsonaro terão grande importância – em São Paulo, por exemplo, ambos podem apoiar a mesma candidata, Joice Hasselmann. Mas, passada a eleição municipal, João Doria abriria a mala de ferramentas e passaria a bater com mais dureza que o PT.

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1 thought on “A fogueira das vaidades. Coluna Carlos Brickmann

  1. Bolsonaro pode ser um demente alienado, desses que imaginam que desenvolvimento industrial produtor de carbono compensa a queima de massa verde oxigenadora do ambiente, mas uma coisa ele sabe melhor que ninguém: Moro não será candidato a nada enquanto ainda sonhar com o STF. E ele sonha. Sonha muito com isso. Deve-se considerar que, para esse encolhido e amarrotado ex-juiz da Lava Jato, o STF é quase uma certeza, desde que, é claro, mantenha-se na linha – ou seja, aceite continuar sendo o bonequinho decorativo fazendo cara de paisagem ao lado desse patrão boçal que surra sua dignidade todo santo dia. Por outro lado, a eventual candidatura de Moro a qualquer cargo majoritário seria um fato pra lá de incerto quanto aos resultados. Além de moralmente desgastante para um sujeito que já andou fazendo coisa feia como juiz, uma campanha eleitoral invariavelmente termina em algo que ninguém prevê nem compreende muito bem: o eleitor. Moro pode ser o sujeito mais patético, insosso e subserviente do planeta, mas burro ele certamente não é. Resta saber se não morrerá de arrependimento um dia.

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