Quando é que o STF vai julgar o primeiro político? Por Ricardo Kotscho

Quando é que o STF vai julgar o primeiro político?

Por Ricardo Kotscho

Dois anos e três meses após o início das investigações da Operação Lava Jato, fica cada vez mais evidente o contraste entre a celeridade dos julgamentos que levam a condenações em massa, em Curitiba, e a lentidão dos processos envolvendo réus com direito a foro privilegiado, em Brasília

                                    Publicado originalmente no Balaio do Kotscho, 23 de junho de 2016

Nos 59 inquéritos, envolvendo 134 investigados, até agora enviados pela Operação Lava Jato ao Supremo Tribunal Federal, nenhum caso foi levado a julgamento e, portanto, ninguém foi condenado. Nem há previsão para que isso aconteça tão cedo.

Entre os políticos, o único que já se tornou réu é o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Na quarta-feira, por unanimidade, os onze ministros do STF acataram nova denúncia feita pela Procuradoria Geral da República. Cunha é acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e falsidade ideológica para fins eleitores, mas continua circulando livremente, dá entrevista coletiva transmitida pela TV Câmara e ninguém sabe quando seu processo entrará na pauta para ser finalmente julgado.

É bem provável que antes disso o deputado seja cassado pelo plenário da Câmara por ter mentido na CPI da Petrobras, perdendo assim o foro privilegiado, e seu caso seja enviado para a primeira instância, em Curitiba, onde o juiz Sergio Moro já julgou e condenou 105 réus da Lava Jato.

Para evitar que isso aconteça logo, Eduardo Cunha joga tudo agora para ganhar tempo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Abandonado pelos parlamentares que ajudou a eleger, em 2014, e que o levaram à presidência da Câmara, de onde comandou o julgamento da abertura do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff, agora declarado réu na Lava Jato pela segunda vez, Cunha sabe que já não pode contar com o apoio do governo interino de Michel Temer, para quem se tornou um estorvo.

Dois anos e três meses após o início das investigações da Operação Lava Jato, fica cada vez mais evidente o contraste entre a celeridade dos julgamentos que levam a condenações em massa, em Curitiba, e a lentidão dos processos envolvendo réus com direito a foro privilegiado, em Brasília. Entre a primeira e a última instância da Justiça, balança o destino de Eduardo Cunha e surgem as inevitáveis perguntas:

* Quando é que o STF vai colocar em pauta o julgamento do primeiro político investigado na Lava Jato?

* Será que não é hora de acabar com o foro privilegiado dos políticos, já que o STF não dá conta da clientela?

________________________

**Ricardo Kotscho é jornalista. Trabalhou nos principais veículos da imprensa brasileira como repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de redação. Foi correspondente na Europa nos anos 70 e Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ganhou os prêmios Esso, Herzog, Carlito Maia e Cláudio Abramo, entre outros.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter