Cai o Rei de Espadas. Coluna Mário Marinho

CAI O REI DE ESPADAS

COLUNA MÁRIO MARINHO

Cai o rei de espadas

“…Cai o rei de espadas
Cai o rei de ouros
Cai o rei de paus
Cai não fica nada…”

Assim como no refrão da música de Ivan Lins (com espetacular interpretação da também espetacular Elis Regina ao final da coluna) o Brasil está caindo aos poucos e aos pedaços.

Aos poucos, porém causando milhares de vitimas.

Vítimas que perderam a vida, vítimas porque perderam entes queridos, vítimas porque perderam bens materiais – muitas vezes aquilo que é o fruto de uma vida inteira de trabalho e sacrifício.

Ou simplesmente vítimas que não foram atingidas diretamente pelas tragédias, mas que têm sentimento e que sentem que o Brasil vai sendo destruído pouco a pouco, vencido pela ganância, pela cobiça, pela ambição desmedida, pela mira ao lucro fácil na maioria das vezes ilícito.

São tragédias que vão se repetindo, ceifando vidas e banalizando o valor de uma vida.

Foi assim que a boate Kiss, acontecida há cinco anos e que matou 242 pessoas.

Culpados? Responsáveis? Até hoje nada.

Há três anos, aconteceu o desmoronamento da mina da Samarco, em Mariana, com a destruição de um povoado e a morte de 19 pessoas.

Além da perda da vida, os sobreviventes perderam casas, quintais onde tinha suas pequenas plantações, a escola da comunidade – enfim, perderam a vida que viviam.

Culpados? Responsáveis? O processo se arrasta dolorosamente pelos intrincados caminhos da Justiça brasileira.

Apenas três anos depois, rui a barragem de mineração da companhia Vale, na outrora pacífica e pacata cidade de Brumadinho, nas montanhas de Minas Gerais.

Cerca de 160 corpos já foram encontrados e outros 160 estão desaparecidos.

Mais uma vez, vidas, casas, bairros, quintais foram arrastados pela lama movida pela irresponsabilidade humana.

Os corpos encontrados já estão sendo enterrados, minimizando a dor de amigos e parentes. Centenas de outros parentes e amigos ainda vivem a angustia da espera, da dúvida.

Agora, 10 garotos entre 14 e 16 anos perderam a vida no alojamento do Centro de Treinamento do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu.

O caminho que vai se vislumbrando é conhecido: responsáveis e culpados (se houver) não serão conhecidos.

O Flamengo, time milionário que acaba de investir mais de R& 100 milhões em contratações de reforços para essa temporada, procura se eximir de tudo. Tirar o seu da reta.

Apresenta laudos que, segundo ele, atestam a legalidade do alojamento, o perfeito funcionamento do ar condicionado que pode ter dado causa a tudo – tudo, apesar das 31 multas aplicadas pela Prefeitura e do laudo do corpo de Bombeiros segundo o qual no lugar do alojamento deveria ter um estacionamento.

Tudo ilegal.

Mas o Flamengo parece tratar o assunto como se fosse um simples jogo de futebol perdido e a culpa é do juiz.

Imediatamente, não se sabe por criação de quem, surgiu campanhas nas redes sociais com um #forçaflamengo .

Força como, cara pálida?

O que se deve pedir e exigir é #responsabilidadeflamengo .

Claro que não estou aqui pedindo cabeças, nem mesmo acusando o Flamengo de culpa, de dolo.

Mas, com certeza, responsabilidade sim.

É preciso, sim, que o Mengão de tantas glórias e tradição assuma a responsabilidade sobre o que aconteceu. Amparar as famílias, oferecer conforto espiritual e material é o mínimo que se exige.

Porque pagar vidas é impossível.

Espera-se, também, das chamadas autoridades competentes que providências preventivas sejam tomadas.

Que boates, casas de espetáculos e que tais tenham seus alvarás de funcionamento fornecidos com mais rigor e que haja fiscalização.

Que as centenas de minas, como a de Brumadinho, existentes no Brasil sejam vistoriadas rigorosamente.

Que os times de futebol tenham seus alojamentos fiscalizados.

O que se pede é simples: que haja responsabilidade.

Veja Cartomante, de Ivan Lins, com Elis Regina.

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FOTO SOFIA MARINHO

Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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