NÃO veremos país nenhum

Não veremos país nenhum. Por Flavio F. de Figueiredo

É impressionante ver gestores e técnicos irresponsáveis fecharem os olhos para a contínua implantação e verticalização de ocupações irregulares em áreas de risco.  Trata-se de verdadeiro comportamento de genocidas em relação à população mais carente. Não há outra forma de definir.

NÃO VEREMOS PAIS NENHUM

Há cerca de 40 anos um livro que me impressionou muito foi o premiado Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão.

Não consegui tirar seu título de minha cabeça após acompanhar as imagens terríveis da tragédia ocorrida ontem em Petrópolis, ver os escombros onde famílias inteiras ainda podem estar soterradas.

Como sempre, os maiores danos ocorreram em áreas em que jamais deveria ter sido permitida qualquer ocupação e onde se encontram edificações com quatro, cinco, seis ou até mais pavimentos, a maior parte absolutamente irregular.

São situações inaceitáveis, que continuam a evoluir sem controle em todo o país, sem que sejam coibidas pelas autoridades competentes; ou melhor, no caso, incompetentes.

A combinação de eventos climáticos extremos com locais frágeis em razão de sua natureza tende a ser a cada dia mais catastrófica. A menos que se fizessem obras de grande envergadura, economicamente inviáveis, é impossível evitar a ocorrência de desastres, especialmente quando há intervenções que prejudicam o já delicado equilíbrio.

Assim, é perfeitamente previsível que eventos como este ocorram, sempre.

O difícil apenas é estimar quando e qual será sua extensão. Mas ocorrerão.

É impressionante ver gestores e técnicos irresponsáveis fecharem os olhos para a contínua implantação e verticalização de ocupações irregulares em áreas de risco.

Trata-se de verdadeiro comportamento de genocidas em relação à população mais carente. Não há outra forma de definir.

A evolução dessas ocupações precisa ser estancada, custe o que custar. Ato contínuo, é necessário que seja iniciada a regressão, com a desocupação das áreas de risco, começando por aquelas mais críticas.

Caso isto não seja feito, parcela cada vez mais importante de nossa população continuará vivendo em situação de extremo risco, com probabilidades cada vez maiores de ocorrer manifestações com grande potencial de destruição e, consequentemente, de muitas mortes.

Aí, literalmente, não veremos mesmo país nenhum.

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Flavio F. de Figueiredo – engenheiro civil, consultor, conselheiro do Ibape/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Pericias de Engenharia de São Paulo. Diretor da Figueiredo & Associados Consultoria.

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