dano colateral

Dano colateral. Por José Horta Manzano

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Zürich Versicherungs-Gesellschaft (ou Zurich Insurance Group, ou simplesmente Zurich) é a maior seguradora suíça. Como seu nome não deixa mentir, a empresa foi fundada na cidade de Zurique. Isso ocorreu exatamente 150 anos atrás.

Suas primeiras atividades se resumiam a assegurar o transporte de mercadorias que, desembarcando no porto holandês de Rotterdam, subiam o Rio Reno em balsas até a cidade de Basileia, importante porto fluvial suíço. De lá, seguiam caminho por estrada de ferro. Século e meio depois, boa parte das mercadorias importadas no país continua fazendo o mesmo percurso.

Com o tempo, a Zurich cresceu e engordou até tornar-se a maior empresa de seguros do país e uma das grandes do mundo. Suas atividades corriam tranquilas até que, no mês passado, Vladímir Putin teve a trágica ideia de invadir a Ucrânia – nação inofensiva, cuja maior uruca é ser vizinha da Rússia.

Não se sabe até hoje exatamente por que razão, as forças invasoras resolveram pintar – mal e porcamente, diga-se – um Z em seus caminhões e tanques de guerra. Dizem que é para distingui-los dos tanques do adversário. A história parece mal contada, visto que bandeiras e uniformes existem exatamente com essa finalidade: distinguir as tropas de cada campo. O Z é perfeitamente supérfluo.

O problema é que, em poucas semanas, um Z maiúsculo passou a ser identificado como apoio aos russos e à invasão. Aliás, como contei aqui alguns dias atrás, pelo menos um atleta russo já foi punido por ter mandado bordar essa letra no uniforme que vestiu num campeonato qualquer.

Como é fácil imaginar, em 150 anos de história, o logo da empresa de seguros suíça evoluiu, acompanhando a evolução das artes gráficas. Nos anos 1980, quando a Rússia ainda era conhecida como União Soviética e Putin não passava de obscuro burocrata dos serviços secretos, a Zurich Seguros modernizou sua identidade visual e adotou o Z como logomarca.

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A guerra de Putin veio estragar tudo. Visto que o Z dos tanques russos tornou-se, num tempo relâmpago, mais conhecido que o da seguradora, os dirigentes da empresa acharam mais prudente eliminar a letra do visual nas redes sociais. Vai ficar assim por enquanto, até que as coisas se acalmem. Se se acalmarem.

Não ficou claro se as perdas ocasionadas pela mudança forçada do logo estavam no seguro.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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