Ciro Gomes

Ciro, o voto útil e o Irajá. Por Alexandre H. Santos

… É fato sabido que logo após ter perdido na primeira contagem da corrida presidencial de 2018, Ciro Gomes viajou para Paris. Tirou férias. Não tenho maneira de interpretar sua inesperada ausência nas barricadas da Democracia contra o Fascismo, senão como um dar as costas aos seus eleitores e demais democratas…

 

Ciro Gomes“Paris é uma festa.”

Ernest Hemingway

Marx inicia o seu 18 Brumário citando Hegel: os fatos e personagens da história como que aparecem duas vezes. Mas em seguida diz que seu conterrâneo se esqueceu de especificar; a primeira vez acontece como tragédia e a segunda como farsa. É fato sabido que logo após ter perdido na primeira contagem da corrida presidencial de 2018, Ciro Gomes viajou para Paris. Tirou férias. Não tenho maneira de interpretar sua inesperada ausência nas barricadas da Democracia contra o Fascismo, senão como um dar as costas aos seus eleitores e demais democratas que permaneceram aqui, no batente, pelejando até o final do escrutínio. Porém, mais que isso, vejo sua atitude como uma contribuição efetiva para a vitória final de Bolsonaro. Essa é a face trágica do ocorrido.

Fazendo uma leitura básica das últimas pesquisas da semana sobre as intenções de voto, entendo que não são Lula e o Partido dos Trabalhadores que anseiam a vitória democrática nessa disputa eleitoral. É o Brasil. Não há novidade no que digo. Aos que, como eu, têm restrições ao PT e a seu carismático líder, convém destacar que nosso mais urgente e importante adversário é o fascismo. Daí o propósito de reunir todas as forças progressistas possíveis para conquistar a vitória ainda no primeiro turno. Apenas isso e tudo isso!

Ora, temos no cenário do momento a repetição relativa da situação eleitoral do primeiro turno de 2018. Mas o candidato Ciro Gomes não parece ter aprendido muito com a tragédia que ele próprio ajudou a consumar; e, outra vez, coloca seu ego astronômico acima da prioridade-chão do nosso povo: tirar a extrema-direita do poder. É como disse alguém: o ódio do Ciro pelo Lula é maior do que o amor dele pelo Brasil. Sua escolha atual se parece a de quatro anos atrás; contudo, já não como tragédia, agora como farsa. Pois nos mostra um PDT que o velho e lendário Leonel Brizola, se vivo estivesse, enfartaria se fosse capaz de reconhecer.

Como cidadão que acompanha a política, eu sei que Luís Inácio Lula da Silva não teve contra ele, até agora, nenhuma acusação comprovada. Alguns dirão que eu também acredito em fadas e em Papai Noel. Pode ser. Entretanto, nenhum outro político da nossa história republicana sofreu algo sequer parecido com o massacre que o Grupo Globo e congêneres dominantes orquestraram contra ele. Se o pernambucano de Caetés encarnar mais dez vezes e for absolvido por todos os tribunais do mundo, ainda pesará sobre ele a pecha de desonesto.

É indiscutível que Lula e o PT não fizeram o esforço e a faxina necessárias para limpar dos seus quadros e militância muitos dos “companheiros” perniciosos e corruptos. Mas até onde sei, não houve nenhuma interferência na autonomia da Polícia Federal e nenhum troca-troca de chefias para impedir investigações. Tampouco tiveram a desfaçatez de, à luz do dia, impor sigilo de 100 anos para blindar assuntos nebulosos. Claro que nada disso justifica ou diminui a gravidade das omissões citadas no início do parágrafo.

Mas insisto, não se trata disso. Todos os governos, todos, possuem um mesmo e similar mecanismo – usando a expressão criada pelo cineasta José Padilha para nomear os “esquemas” que materializam a corrupção dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em quaisquer das suas instâncias. Ou seja, nesse exato instante, de leste a oeste e de norte a sul, municípios, estados e Federação estão replicando esquemas desviados da Lei. O que vai distinguir uns de outros é o tamanho e a periodicidade do mecanismo. Muito triste, mas assim é.

A prova cabal de que ainda somos uma espécie muito tosca, egoísta e violenta é a tenaz resistência dos esquemas que, vira e mexe, vêm à superfície e aparecem sob a forma de escândalos. E contra o vírus da corrupção não há melhor anticorpo do que a população exercer assertiva e conscientemente sua cidadania. Trata-se de um caminho de mão única; mas que só permite avanços em terreno democrático.  Não existem atalhos – ou o custo deles é infinitamente maior do que seus desejados benefícios.

Nesse cenário estamos agora. O Ciro que vemos aí definiu-se nas últimas semanas, e escolheu enroscar-se na teia do fascismo. Creio que tenha chegado a ocasião das eleitoras e eleitores ciristas demonstrarem amor pelo Brasil. É a hora do voto útil para derrotar o fascismo. Parodiando a famosa comédia de Fernando Mello, Greta Garbo, quero dizer, Ciro Gomes, quem diria, não vai mais para Paris; e pode acabar no Irajá!

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Foto: @catherinekrulik

*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..

Acesse: www.quereres.com

Contato: alex@ndre.com.br

 

1 thought on “Ciro, o voto útil e o Irajá. Por Alexandre H. Santos

  1. Concordo que todas as forças democráticas devam se unir agora para vencer o obscurantismo representado pelo atual presidente. Mas credito ao próprio PT e ao Lula a maior parcela de culpa pelos resultados da eleição de 2018. Se é o que tempos para hoje, vamos lá, mas não me é possível dizer que Lula apenas “não fez o esforço necessário para limpar partido”. Em nenhum momento foi feita uma autocrítica ou foi expressa a vontade de compensar os erros passados. Quando ele diz “já fizemos uma vez, vamos fazer de novo”, é de arrepiar.

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