goleiro

O goleiro. Blog Mário Marinho

…o goleiro é uma figura mística. Mística e solitária. Nas peladas de infância, era sempre o pior jogador que iria para o gol…

ESPECIAL COPA CATAR 2022

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goleiro

Além de maior evento esportivo do mundo, a transmissão de tevê da Copa do Mundo atinge a um público de quatro e meio bilhões de pessoas, mais da metade da população global.

Como evento que mexe com todo mundo, mexe também com as mulheres.

Já está totalmente fora de uso, há tempos, a máxima de que futebol é pra homem.

As mulheres vão para a frente da tevê, vão aos bares e marcam sua presença em locais que transmitem os jogos da Copa.

E dão palpite.

Eu faço parte de um grupo, chamado Grupo do Jornal da Tarde, que reúne velhos companheiros que num determinado momento trabalharam juntos nesse que foi a maior revolução da imprensa nos últimos 500 anos. Pode ser um pouco de exagero, mas foi revolução histórica.

São 114 jornalistas e a participação feminina é considerável. Não apenas em números, mas, também, em assiduidade.

Na semana passada, recebi esta consulta da Milai de Almeida:

“Mário Lúcio, Você se lembra do nome daquele goleiro que pegava tudo?”.

A Milai mora em Portugal, sua terra natal, e morou no Brasil entre os anos de 1970 e 2000. Nessa época, foi secretária executiva da redação do JT.

De volta para a Terrinha, Milai é presença constante no nosso Grupo. Fala de Copa, de futebol e nos mantém bem informados sobre as novidades da Terra (ao lado da Bia Bansen que é brasileira e optou por morar em Portugal já faz alguns anos).

Tenho um DOM, que significa Departamento de Orientação da Memória, que funciona muito bem e, no caso de consulta como a da Milai, o Dom logo indica em que canto da memória está aquela informação e como acessá-la.

Mas a pergunta da Milai trouxe poucas informações.

Mas, como o meu Dom não falha, me indicou o livro do jornalista Paulo Guilherme, também apelidado Guri, e em que estante ele se encontra.

A Cláudia Bozzo, que também participa do Grupo JT, arriscou Gilmar.

A Milai respondeu que não: foi depois.

Já foi uma informação a mais.

Procurei me lembrar dos goleiros do período em que a Milai morou no Brasil. Me detive nos goleiros de São Paulo, pois era aqui que ela morava.

Na Copa do Mundo de 1970, os goleiros foram Felix, titular, Ado e Leão na reserva – nessa ordem.

Felix não teve essa fama de pegar tudo.

Ado foi um excelente goleiro, reserva imediata do Félix e teve boa carreira no Corinthians, onde ficou de 1969 até 1973, quando pulou de clube em clube até encerrar a carreira no Bragantino, em 1982.

Leão, revelado pelo Comercial-SP, foi titular do Palmeiras de 1968 até 1978, quando foi para o Vasco da Gama. Depois pulou por alguns times, inclusive o Corinthians e uma volta ao Palmeiras. Encerrou a carreira em 1987 no Sport, do Recife.

Com 107 jogos, Leão foi o segundo goleiro que mais defendeu a Seleção Brasileira, o primeiro foi Taffarel, com 108, e o terceiro o grande Gilmar com 103 jogos.

O Corinthians teve um goleiro que pegava tudo: Ronaldo Giovanelli.

Ronaldo defendeu o Corinthians por 602 jogos, de 1987 a 1998. Teve participação em apenas 6 jogos de Seleção.

A carreira profissional dele começou em 1987, aos 2 anos de idade, no Corinthians e terminou em 2006, na Portuguesa Santista.

Pode ser este o goleiro da Milai.

Mas não se pode esquecer também de Valdir Peres. Ele foi revelado pela Ponte Preta onde jogou de 1970 a 1973. Daí, transferiu-se para o São Paulo que defendeu até 1984.

Deixando o São Paulo, passou por diversos clubes até encerrar a carreira na Ponte Preta, em 1989.

Vestiu a camisa da Seleção Brasileira por 39 vezes, inclusive como titular naquela famosa e saudosa Seleção de Telê Santana, em 1982.

O Santos teve em seu time, de 1984 a 1988, um goleiro fabuloso: o uruguaio Rodolfo Rodriguez, que defendeu a camisa do Peixe por 255 vezes e pegava tudo.

A vida de goleiro, no Brasil principalmente, nunca foi fácil.

Ele pode ir de herói a vilão em questão de segundos.

Sua vida é tão danada “que onde ele pisa não nasce grama”, frase às vezes atribuída ao Barão de Itararé, jornalista cujo verdadeiro nome era Aparício Torelly (1895-1971). Outras vezes é atribuída a Neném Prancha (1906-1976), folclórico frasista carioca, e que também foi roupeiro e massagista do Botafogo.

A frase se refere ao costume, até o começo dos anos 1960, de que a pequena área, onde o goleiro transita, era sempre sem grama. Parte porque era naquele pequeno espaço que o goleiro andava de um lado ao outro, parte porque se acreditava que se houvesse grama ali o goleiro estaria sujeito a escorregões.

Mas o goleiro é uma figura mística.

Mística e solitária. Nas peladas de infância, era sempre o pior jogador que iria para o gol.

O goleiro é aquele cuja glória é atrapalhar a alegria dos outros. Ou seja, evitar o gol.

Até o começo dos anos 60 não havia sequer o treinador de goleiro.

Ele que se virasse para treinar.

Nelson Rodrigues é citado no livro do Paulo Guilherme:

“Amigos, eis a verdade eterna do futebol: o único responsável é o goleiro, ao passo que todos os outros são irresponsáveis natos e hereditários. O zagueiro pode falhar o médio pode falhar, o atacante pode falhar. Só o goleiro não pode falhar”.

Aliás, por falar em hereditário, o autor dessas pretensiosas linhas é um deles.

Meu saudoso pai, Paulo Marinho, foi goleiro na sua juventude, na década de 20, nos pastos onde improvisavam campos na cidade de Pihum-í, Minas Gerais. Meu irmão mais velho, o Mário, foi goleiro de verdade, defendendo o Cruzeiro e até a Seleção Mineira.

Eu tive uma carreira mais modesta: desde pequenino fui goleiro de várzea.

Tomei alguns frangos, mas também defendi muita bola difícil.

Até pênalti.

Ah! se eu estivesse lá em Catar…

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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