polêmica

Um artigo do nosso colaborador, professor Dr. Charles Mady,  publicado no Jornal da USP no último dia 23 de janeiro,  causou enorme rebuliço junto à comunidade judaica, uma discussão que ainda prossegue fora dos canais de comunicação, inclusive com ataques pessoais ao autor que, abaixo, envia ao CG a tréplica da discussão com a Federação Israelita do Estado de São Paulo. Carta, todavia, não publicada pelo Jornal da USP, por considerar não ter como missão “explorar a controvérsia de imprensa ou a polêmica entre articulistas”, e que reproduzimos aqui.

À Federação Israelita – Federação Israelita do Estado de São Paulo,

Recente artigo no Jornal da USP, de minha autoria, motivou reações diversas, a maioria construtivas, mas algumas destrutivas que, em momento algum, tiram o mérito histórico do tema exposto. Fatos relacionados à História têm várias versões. Contestar uma, ou algumas, deveria abrir diálogos construtivos. Mas, será que há versões “proibidas”, ou intocáveis, que não podem ser abordadas? Radicais não admitem opiniões diversas das suas, e as forma como essas vozes se manifestam demonstram de forma muito clara o nível de polarização que estamos vivenciando nestes últimos tempos. É proibido divergir. A parcialidade está endêmica nacional, e internacionalmente. Podemos criticar “ad nauseum” as políticas de Putin, Erdogan, Khamenei, Lula, e tantos outros, mas é proibido criticar as políticas do governo israelense. Imprensa livre? Qualquer crítica, ou crítico, é automaticamente taxado de antissemita. Antissemitismo. Uma palavra que foi tão importante, significando tantos valores humanos, mas hoje está sendo banalizada, vulgarizada por aqueles que deveriam ser os seus maiores protetores. Tal palavra, mal utilizada, é brutal a um interlocutor. Essa caça a “antissemitas” lembra muito o que ocorre, ou ocorreu, em países totalitários, onde as máquinas de repressão se incumbiram, e se incumbem de eliminar os dissidentes. São máquinas que destroem reputações, simplesmente para eliminar oposições. Vinganças e ódios, atitudes deprimentes, se alastram, sem que tenham compreendido, do alto de suas culturas, entorpecidas por sectarismos, o quanto isso erode e danifica as suas imagens.

É nítida a não relação entre o texto aberto a todos, e a resposta, que não foi resposta, mas sim ofensas. Quem me conhece, e já se interessou em saber minhas opiniões prévias a respeito do tema, presentes em muitos artigos, sabe muito bem que sou contra radicalismos de qualquer origem. Não defendo religiões e raças, simplesmente por não acreditar nelas, como são expostas. Minhas manifestações em defesa do judaísmo e do estado de Israel são conhecidas. Utilizar uma tentativa de diálogo franco, transparente, para denegrir quem teve a coragem de tocar em assunto “proibido” equivale a um racismo de ideias, que não cabe em uma sociedade tida como civilizada. Destruir não é vencer. É só se apequenar perante aqueles que buscam informações de variadas fontes. Não é destruindo reputações que se constroem ideias. Procurar erros e acertos, tentando compreendê-los, é o que precisamos. Posturas sectárias são consequentes a radicalismos, não compatíveis com quem busca entendimento e paz. Não é destruindo o “inimigo” que evoluiremos. Exemplifico dizendo que estamos sendo submetidos a telefonemas ameaçadores, insultos gratuitos, e campanhas subterrâneas, mas nada disso consegue abalar a biografia de vida. Pacientes são instados a mudar de médico. Eles procuram conselhos médicos, e não opiniões “futebolísticas”. Isso é baixo demais. Solicitar a meus amigos da coletividade judaica que se afastem de mim é ridículo, mostrando onde os reais racistas estão. Qual é a diferença entre esses poucos e os verdadeiros antissemitas?

Fui educado para oferecer a outra face, e não odiar. Vocês, poucos, não conseguiram abalar meu respeito pela coletividade judaica. Sou filho de árabes, portanto um semita. Sou pai de netos de sobreviventes do genocídio armênio. Meus pais, pequenos, vieram ao Brasil provenientes do Líbano antes da guerra mundial, fugindo do império otomano. Não me tornarei sectário com os descendentes dos perseguidores.

Queiram-me bem, entendam melhor, e respeitem divergências. Construam. Não destruam. Dialoguem. É o que todos deveríamos fazer.”

______________________________________________

–  Charles Mady,  Médico e Professor associado do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da USP

charles.mady@incor.usp.br

__________________________

***

Estado de Israel e, ou, Estado da Palestina? Por Charles Mady

3 thoughts on “Polêmica. Charles Mady replica Federação Israelita

  1. Prezada Marli. Considere a possibilidade de apresentar aqui os três artigos (Mady 1 – réplica de Marcos Knobel/André Lajst – Mady 2) em ordem cronológica. Esclarecerá argumentos e razões indiscerníveis na leitura de apenas este artigo.
    Não sei é possível ou não, mas ajuda a entender a história das ideias.
    Em todo caso, é apenas uma sugestão. Tnk-U.

  2. Son conocidas mis manifestaciones “en defensa del judaísmo” lo entiendo…….. pero “del Estado de Israel”?? eso si que no lo entiendo……… un estado racista que fue establecido a costa de los dueños de la tierra Palestina despues de haber sido masacrados, expulsados y despojados de sus tierras y casas……. Un estado colonialista en su esencia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter